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Cáritas defende rendimento mínimo para pobres

Programa do anterior Governo não atingiu os objetivos.

03 de março de 2016 às 11:00

Conhece famílias em situação de pobreza?

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Um relatório da Cáritas sobre Portugal defende políticas que assegurem às pessoas em situação de pobreza um rendimento mínimo que lhes permita fazer face a todas as despesas básicas e critica o Programa Especial de Emergência.

"Em Portugal existem esquemas mínimos sociais acessíveis, mas têm limitações", sendo "apenas moderadamente adequados para cobrir as necessidades básicas de vida" reduzir a pobreza e a exclusão social, refere o documento, apresentado hoje em Lisboa pelo secretário-geral da Cáritas Europa, Jorge Nuño Mayer, e pelo presidente da Cáritas Portuguesas, Eugénio Fonseca.

Por outro lado, o Programa de Emergência Social, criado pelo anterior Governo para responder à crise não atingiu os objetivos.

Muitas das medidas eram apenas "almofadas sociais", que "não foram suficientes para cobrir as necessidades básicas das pessoas", porque foram concebidas para "situações de emergência".

A Cáritas adianta que "estas medidas não ajudaram a fornecer melhores acessos a recursos nem um apoio social suficiente para ter uma vida compatível com a dignidade humana", segundo a definição do apoio ao rendimento adequado da Comissão Europeia.

O 'Relatório Caritas Cares 2015' destaca a importância de medidas como o Rendimento Social de Inserção e o Complemento Solidário para Idosos para combater a pobreza, mas adverte que as alterações nos critérios de atribuição reduziram o número de beneficiários.

"As quantias atribuídas não conseguem cobrir as necessidades básicas das pessoas que as usufruem, não conseguindo que a pessoa saia da sua situação de pobreza", alerta o documento que dá a conhecer os principais desafios relacionados com a pobreza e deixa recomendações ao Governo para ultrapassá-los.

Uma das recomendações prende-se com a introdução de mais categorias nas taxas de cofinanciamento para os serviços sociais, tornando-as mais acessíveis a pessoas com baixos salários.

É "essencial tornar acessíveis os esquemas mínimos de rendimento a todos aqueles que precisem, revendo os critérios do sistema de condição de recursos" e aumentando o nível máximo de rendimento por agregado familiar para abranger mais pobres.

Analisando a eficácia das políticas implementadas, o documento considera que "têm sido ineficazes" para resolver os problemas de pobreza, defendendo a criação de uma "estratégia nacional sólida de combate à pobreza e exclusão social".

A maioria das medidas visa a criação de emprego e são direcionadas às empresas, para as incentivar a contratar pessoas, "deixando de lado as necessidades das pessoas que passam por situações de desemprego de longa duração", trabalho temporário e baixos salários.

"É um facto que os efeitos do programa de assistência financeira agravaram a situação social em Portugal em várias áreas", tendo os cortes orçamentais deteriorado o acesso à saúde, educação, emprego e condições de trabalho e remunerações dignas.

Estas situações criaram grupos de risco, sendo o mais vulnerável o das crianças e das suas famílias, que registaram o maior aumento de risco de pobreza (de 24,4%, em 2012, para 25,6%, em 2013) devido à perda de rendimento, a cortes salariais, ao desemprego à perda do abono de família, salientou.

Outro grande grupo de risco são os desempregados de longa duração, que passaram de 56,4% para 59,6% (do total de desempregados) entre 2013 e 2014, sendo a média europeia de 49,5% em 2014.

Dentro deste grupo incluem-se pessoas com incapacidades físicas e intelectuais, que "enfrentam sérias limitações e desafios tanto a nível de apoios sociais como ao nível das oportunidades de emprego".

Há ainda o grupo as "pessoas dependentes", que sofreu cortes nos benefícios sociais e tem "elevados níveis de privação material e abandono"

A Cáritas lamenta ainda que o Relatório Nacional de Portugal de 2015 e o Programa Nacional de Reformas Nacionais 2015, publicado pelo Governo, "falhem em informação sobre as questões de maior interesse, não refletindo os problemas principais da realidade da pobreza e da exclusão social no país".

Pobreza no trabalho é transversal a toda a população ativa

Um relatório da Cáritas sobre Portugal, divulgado esta quinta-feira, alerta que a pobreza no trabalho se tornou "um problema transversal" às pessoas das "mais variadas habilitações e idades", afetando principalmente quem vive em zonas rurais.

"As medidas de austeridade levantaram vários desafios e enfraqueceram os pilares da inclusão ativa, agravando a pobreza e a exclusão social em Portugal", afirma o documento anual da organização da Igreja Católica sobre os desafios da pobreza e da inclusão social em Portugal 'Relatório Caritas Cares 2015'.

O relatório aponta que, de todos os problemas que "assombram Portugal", o mais preocupante prende-se com "as novas formas de pobreza que afetam agora as antigas famílias de classe média e as famílias de classe baixa".

Estas novas formas de pobreza emergem de situações de desemprego e cortes salariais, principalmente na função pública, de aumento de impostos, de pobreza no trabalho com baixas remunerações, aumento do trabalho temporário e de trabalhadores que não estão cobertos pelas redes normais de segurança social.

Destes problemas, o relatório destaca a pobreza no trabalho, sublinhando que, entre 2010 e 2013, os trabalhadores pobres em Portugal aumentaram 0.8 p.p., pasando de 9,7% para 10,5%.

"Em Portugal, os trabalhadores são mal pagos e os contratos temporários têm vindo a aumentar, especialmente nas grandes empresas", adverte o documento.

Segundo a Cáritas, a pobreza no trabalho afeta principalmente quem vive em zonas rurais, onde subsiste a escassez de empresas e emprego e onde se começam a desenvolver problemas mais graves entre os jovens desempregados, como o alcoolismo e o abuso de drogas.

Este problema é mais frequente entre as pessoas que começaram a trabalhar mais cedo, impulsionados pelo abandono escolar, mas também afeta indiretamente as crianças devido ao baixo rendimento da família.

Por terem níveis de ensino e qualificações inferiores, estes trabalhadores enfrentam uma "maior exposição ao risco de pobreza no trabalho", com más condições de trabalho, baixos salários e trabalho temporário.

Mas a pobreza no trabalho também atinge as pessoas com níveis de ensino mais elevados, principalmente os jovens, que veem-se forçados a aceitar empregos com baixos salários que não correspondem às suas qualificações.

Ausência de contrato de trabalho regular

A Cáritas alerta que a maioria destes trabalhadores não tem um contrato de trabalho regular - a maioria é contratada através de medidas de emprego atípicas, como estágios -, não tendo direito a benefícios sociais e subsídio de desemprego.

Para os autores do documento, apesar de ter havido "alguns progressos para a promoção de um mercado de trabalho inclusivo, em termos de políticas públicas e de programas, a maioria dos esforços atendeu à redução da taxa de desemprego no país".

"As reformas no mercado de trabalho degradaram as condições de trabalho, aumentaram a precariedade nos empregos e agravaram os efeitos de pobreza no seio do trabalho", advertem.

Acrescentam ainda que a atual disponibilidade e acessibilidade territorial, fomentada por cortes orçamentais, tornaram alguns serviços inacessíveis e limitaram o acesso a serviços de qualidade às pessoas mais pobres, afetando em particular as zonas rurais do interior.

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