Autoridades garantam que "não existe caça ao homem".
A polícia angolana anunciou este domingo que o catequista detido em Cafunfo esta madrugada, e posteriormente libertado, foi "convidado" a "aclarar" as declarações sobre os acontecimentos de 30 de janeiro e garante que "não existe caça ao homem".
O comunicado da delegação provincial do ministério do Interior na província da Lunda Norte surge depois da detenção e libertação do catequista André Candala, de 62 anos, que, em entrevista à Agência Lusa responsabilizou o Governo angolano pela morte de inocentes e afirmou que 25 pessoas morreram na sequência dos incidentes de 30 de janeiro.
Na madrugada desse sábado, um alegado "ato de rebelião", protagonizado por cerca de 300 elementos do Movimento Protetorado da Lunda Tchokwe (MPLT) que tentaram invadir uma esquadra de Cafunfo, acabou por causar seis mortes, segundo a polícia da Lunda Norte.
A versão da polícia é contrariada por populares e responsáveis do MPLT segundo os quais se tratou de uma tentativa de manifestação pacífica e previamente comunicada às autoridades, durante a qual morreram mais de 20 pessoas.
A polícia da Lunda Norte refere que os comentários de André Candala sobre o desaparecimento de cadáveres "são revestidos de calúnia e baseiam-se em informações falsas colhidas em pessoas com fins inconfessáveis cujo propósito é denegrir as instituições do Estado".
Em entrevista à Lusa, André Candala e o coordenador das comunidades da paróquia de São José, Alfredo Moisés, bem como moradores de Cafunfo, denunciaram a existência de várias mortes, embora só sete corpos tenham sido entregues às famílias. Segundo testemunhas, houve corpos atirados ao rio Cuango e há ainda cadáveres por identificar, pois as famílias têm receio de aparecer.
O comunicado da polícia refere que o catequista não pertence ao MPLT e não se encontrava no local do incidente.
A polícia da Lunda Norte afirma igualmente que André Candala não foi agredido.
"O catequista em causa terá sido convidado pelas autoridades locais, para aclarar informações por si veiculadas e postas a circular nas redes sociais", lê-se no comunicado.
Após a sua libertação, André Candala disse à Lusa não ter sido maltratado na esquadra, para a qual foi levado algemado, juntamente com o filho, por volta das 05:00.
No comunicado, a polícia acrescenta que a situação da ordem e segurança pública no Cafunfo, uma vila mineira na província diamantífera da Lunda Norte, "neste momento é calma e não existe caça ao homem e maus tratos à população, como alguns pretendem ludibriar a opinião pública".
Moradores de Cafunfo ouvidos pela Lusa dizem ter sido ameaçados e queixam-se de estar a ser perseguidos, havendo várias pessoas que fugiram para as matas após os incidentes de sábado e que aí permanecem.
A polícia aconselha, no mesmo comunicado, a que os cidadãos não acatem "rumores de pessoas singulares e especulações de alguns órgãos de comunicação social, devendo aguardar pelos pronunciamentos oficias das instituições do Estado".
O Movimento Protetorado da Lunda Tchokwe luta pela autonomia da região das Lundas, no Leste-Norte de Angola.
A autonomia da região das Lundas (Lunda Norte e Lunda Sul, no leste angolano), rica em diamantes, é reivindicada por este movimento que se baseia num Acordo de Protetorado celebrado entre nativos Lunda-Tchokwe e Portugal nos anos 1885 e 1894, que daria ao território um estatuto internacionalmente reconhecido.
Portugal teria ignorado a condição do reino quando negociou a independência de Angola entre 1974/1975 apenas com os movimentos de libertação, segundo o movimento.
Após os acontecimentos de sábado, o comandante-geral da polícia, Paulo Almeida, avisou que as autoridades vão responder com violência sempre que a soberania angolana seja posta em causa.
Uma delegação composta por cinco deputados da UNITA, maior partido da oposição angolana, que se dirigiu na quarta-feira para Cafunfo para recolher informações sobre os acontecimentos, foi impedida de entrar na vila e encontra-se à entrada desde essa altura.
Com eles está a ativista Laura Macedo também impedida pelas autoridades policiais de prosseguir a viagem.
O ministro angolano do Interior, Eugénio Laborinho, acusa o Movimento Protectorado Lunda Tchokwe de estar interessado no garimpo e a serviço de estrangeiros.
Acusou também os deputados da UNITA que se encontram na região de "tentar escamotear a situação e criar uma situação fora do normal" e disse que um partido político com assento parlamentar para sair tem de ser autorizado pelo presidente da Assembleia Nacional.
Este, por seu turno, declinou esta sexta-feira qualquer responsabilidade sobre eventuais constrangimentos que envolvam o grupo de deputados.
De acordo com uma nota do gabinete de Fernando da Piedade Dias dos Santos, a deslocação não foi feita no quadro de uma comissão parlamentar multipartidária, como seria recomendável.
Organizações Não Governamentais internacionais e angolanas, bem como os bispos católicos e os partidos da oposição angolana condenaram o que dizem ser "um massacre" e pediram uma investigação independente.
O Bureau Político do MPLA, partido do poder, criticou as vozes que "se levantaram precipitadamente", entre elas a UNITA, as organizações da sociedade civil e as entidades que se pensava "representarem a autoridade moral da sociedade angolana", por proferirem "declarações precipitadas baseadas mais na emoção do que na razão".
O órgão do MPLA sublinhou que a abertura democrática desde a eleição do Presidente angolano, João Lourenço, em 2017, "é algo que veio para ficar, que deve ser aprofundada e aperfeiçoada no interesse do país e dos angolanos".
No entanto, o partido sustentou que o Governo de Angola tem constatado que esta maior liberdade de imprensa, de expressão, de reunião e de manifestação, "está a servir para promover o desrespeito à Constituição e à lei, aos símbolos nacionais, o desrespeito à autoridade instituída, ao património público e à propriedade privada".
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