António Manuel Ribeiro conta como há 45 anos nasceu o 'Cavalos de Corrida' dos UHF e desfaz mito

Músico fala de uma das mais icónicas canções do rock português.

27 de setembro de 2025 às 01:30
António Manuel Ribeiro recorda a criação de 'Cavalos de Corrida' dos UHF Foto: Direitos Reservados
António Manuel Ribeiro recorda a criação de 'Cavalos de Corrida', dos UHF Foto: Direitos Reservados
António Manuel Ribeiro Foto: Sérgio Lemos
António Manuel Ribeiro Foto: Sérgio Lemos

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Estavam os UHF a ensaiar numa capela abandonada, no Seixal, cedida por uns amigos, quando, durante uma pausa para um cigarro, o guitarrista Renato Gomes, ficou a fazer uns riffs e umas escalas. "Eu que já tinha saído para o exterior para esticar as pernas, quando ouvi aquilo, voltei a correr para dentro e disse-lhe: faz lá isso outra vez", começa por contar o fundador e vocalista do grupo António Manuel Ribeiro. "Foi então que comecei a meter por cima um poema que lá tinha e que nunca mais acabava e que nem era o meu melhor texto para cantar", diz. E assim nasceram os 'Cavalos de Corrida', um dos mais icónicos temas do rock português. A canção foi lançada em single em Outubro de 1980 e completa agora 45 anos de existência.

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Segundo António Manuel Ribeiro, aquele foi o tema que catapultou o grupo. "Com  os cavalos nós fomos do zero aos 800 sem sequer parar nos 400. Fomos catapultados para a estratosfera. O primeiro satélite português em órbita foram os UHF", diz, entre risos. "Nós éramos um grupo incipiente, como de resto eram todos os grupos na altura. Os poucos que existiam cantavam em inglês quando apareceram os 'Cavalos' numa editora com a projeção da Valentim de Carvalho", lembra o músico.

'Cavalos de Corrida' foi lançada, inicialmente, pela editora como uma espécie de canção experimental. "Eles queriam ver se a coisa funcionava e por isso mandaram-nos gravar um single com duas canções, o 'Cavalos' e o 'Palavras', do lado B. Se não funcionasse provavelmente teríamos ficado por ali". O sucesso comercial, no entanto, apanhou todos de surpresa. "Nós éramos uns miúdos que de repente começámos a vender discos às toneladas. A primeira edição foi de 5000 discos e não chegou para os pedidos das lojas. Eles tiveram que trabalhar durante a noite para imprimir mais 5 mil e ainda assim continuou sem ser suficiente". 

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Olhando para trás, António Manuel Ribeiro tem hoje uma leitura mais distanciada dos acontecimentos e até mais realista.  "Acho que o fenómeno não foi inventado nem por nós, nem pela editora, mas sim pelo público. Acho que aquela canção apareceu no tempo certo a representar a atitude da juventude daquele tempo, de quem está na adolescência pós-25 de Abril. Não podemos esquecer que ainda só tinham passado seis anos da revolução e ainda havia muita coisa fora dos eixos e à procura de rumo". 

A verdade é que passados quatro meses do sucesso, os UHF estavam a ser chamados aos estúdios da Valentim de carvalho, para gravarem o que quisessem. "Eles queriam um álbum", recorda António Manuel Ribeiro sobre uma altura em que o grupo ainda era corrido das salas de ensaios e das garagens onde ensaiavam por fazerem muito barulho.  

Para finalizar, falta desfazer o mito. "Muita gente pensa que este texto fala do mundo da droga, o cavalo, a heroína, mas não fala de nada disso porque felizmente na altura ainda não havia grande divulgação das drogas duras", diz o músico. "Aquele é um texto que nasceu da minha vida. É uma letra que tinha a ver com uma coisa muito simples que ainda hoje se sente, que é a vida nas grandes cidades e o trânsito, o chegar atrasado aos locais, atravessar a ponte 25 de Abril, o termos que viver a vida a correr, quais cavalos de corrida de um lado para o outro", esclarece. 

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A canção ainda hoje faz, inevitavelmente, parte do alinhamento dos concertos dos UHF.  "Ainda me dá muito gozo tocar isto. Há canções das quais já estou farto, mas não é o caso. Esta canção é um rastilho que começa no palco e vai por ali fora por aquela multidão. Esta canção não passa de moda. Esta canção é um pilar nas nossas vidas". 

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