Tiago Guedes garante que o texto da dramaturga Regina Guimarães não tinha sido publicado com a concordância do encenador.
O encenador Tiago Correia, criador do espetáculo "Turismo", no Porto, que viu um texto de Regina Guimarães "censurado", desmente o diretor do Teatro Municipal do Porto, Tiago Guedes, acusando-o de chantagem emocional, coação, ameaça e abuso de poder.
"Aquilo a que o Tiago Guedes chama 'concordar', eu chamo de censura, chantagem emocional, coação, ameaça e abuso de poder", lê-se numa publicação de Tiago Correia, na rede social Facebook, sobre a não publicação de um texto da dramaturga Regina Guimarães, na folha de sala do espetáculo "Turismo", que esteve em cena no auditório Campo Alegre do Teatro Municipal do Porto (TMPorto).
Numa primeira reação à acusação de censura, o diretor do TMPorto, Tiago Guedes, em declarações à Lusa, garantiu que o texto da dramaturga não tinha sido publicado com a concordância do encenador e que este até lhe tinha pedido desculpa.
Esta tarde, questionado pela Lusa, depois do desmentido publicado por Tiago Correia, o TMPorto reiterou a versão contada pelo seu diretor.
O encenador, que a Lusa tentou ouvir até ao momento, sem sucesso, escreveu no Facebook ter sido apanhado totalmente de surpresa pelas palavras de Tiago Guedes e revela que o diretor do TMPorto, o tentou convencer "a retirar a folha de sala [do espetáculo 'Turismo'] que 'insultava a honra de um morto' [o antigo vereador Paulo Cunha e Silva], alegando que estava a ser instrumentalizado pela Regina Guimarães 'para um ataque político'".
"Isto é absurdo. Eu nunca entendi o texto da Regina desta maneira, texto que muito me honra e ao meu trabalho, tanto que o usei como prefácio do meu livro, na altura já publicado pelas Edições Húmus", escreveu Tiago Correia, explicando que os cinco minutos que pediu a Tiago Guedes, quando contactado por este, não foi para falar com a equipa, mas para tentar falar com a dramaturga, Regina Guimarães, o que não foi possível por ela se encontrar no Conselho Municipal, "em que estavam também presentes pessoas da direção do TMPorto".
"Eles sabiam que ela estava ocupada e fizeram isto [retirar a folha de sala] nas costas dela", escreve Tiago Correia, deixando claro que não concordou nem pediu desculpa a Tiago Guedes, como o mesmo afirmou à Lusa, tendo deixado apenas ao seu critério a publicação ou não da folha de sala.
"Não lhe pedi desculpa, isso é absolutamente uma deturpação de tudo, apenas lhe disse que não fiz nada com o intuito de o ofender ou contra o TMPorto. Mas é claro que o que ele queria era poder usar este argumento em sua defesa, e é por isso que todos os contactos ao longo da semana foram realizados através de chamadas telefónicas, para que não houvesse qualquer registo", escreve o encenador.
Tiago Correia revela ainda que, no mesmo dia do ensaio de imprensa de "Turismo", Tiago Guedes lhe disse que enviaria a sua comitiva para assistir ao ensaio, para verificar o conteúdo do eso qupetáculo, e aconteceu "criando um ambiente hostil no teatro".
Contudo, diz o encenador, o boicote à comunicação e divulgação do espetáculo não ficou por aqui. Foi ainda dito que notas de imprensa do espetáculo teriam de ser alteradas, retirando o parágrafo que fazia referência a Regina Guimarães e a expressão "despejo criminoso", o que foi rejeitado, conta Tiago Correia.
A peça aborda o fenómeno da gentrificação das cidades e o fenómeno dos despejos, perante a pressão imobiliária, através de diversos prismas.
Também quanto à proibição de venda do livro com o texto do espetáculo, o encenador disse ter-se recusado a cancelar a venda, tendo dito a Tiago Guedes que, se a quisesse proibir, que o assumisse.
"A isto não se chama concordar. Isto é chantagem, ameaça, abuso de poder, boicote e censura. Felizmente, o espetáculo quase esgotou nos dois dias", conclui.
O texto de Regina Guimarães, em causa, escrito para ser integrado na folha de sala - que não chegou a ser distribuida - do espetáculo "Turismo", continha uma nota de rodapé no qual a escritora criticava a noção de 'cidade líquida' de Paulo Cunha e Silva, ex-vereador da Cultura do Porto, que morreu em 2015.
A Plateia - Associação de Profissionais das Artes Cénicas, que agrega profissionais de 30 estruturas do Norte do país, repudiou hoje o ato de "censura" do Teatro Municipal do Porto e denunciou outras situações idênticas.
Numa publicação na rede social Facebook, a Plateia refere que a censura ao texto da dramaturga Regina Guimarães "replica o que de pior caracterizou os três mandatos de Rui Rio" na Câmara do Porto, que, assumindo-se como "o censor-mor da cidade", inseriu nos contratos uma cláusula que impõe que a entidade com quem celebrou contrato se abstenha de, "publicamente, expressar criticas que ponham em causa o bom nome e a imagem do município".
"O pior é que com o outro Rui, pelo menos as coisas eram às claras: com este Rui [Moreira], não", lê-se na referida publicação.
Agora, acrescenta a associação, é mais complexo, na medida em que "ao que parece" há um presidente de câmara "desprendido e tolerante", mesmo no quadro de coproduções com a autarquia, mas existe "entrincheirada no Teatro Municipal, uma Guarda Pretoriana que assume, sem qualquer mandato, a demarcação de um território em que nenhuma palavra de crítica ao município pode ser tolerada".
A associação que agrega cerca de 90 profissionais e mais de 30 estruturas do norte de Portugal afirma que "foi assim aquando da não realização, em setembro, do projeto de abertura da temporada no Teatro Municipal, foi assim, em outubro, no lançamento de um livro no Teatro Rivoli" e "foi assim na eliminação da folha de sala do espetáculo 'Turismo', por causa de uma nota de rodapé".
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