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Eurovisão: Mais um músico português recusa-se a participar caso vença o Festival da Canção

Após ter sido decidido que Israel poderia participar no concurso em 2026, Espanha, Irlanda, Países Baixos, Eslovénia e Islândia anunciaram que não participariam.

16 de dezembro de 2025 às 14:24

O músico Dinis Mota juntou-se ao grupo de artistas e bandas do Festival da Canção 2026 que se recusam a representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, caso vençam o concurso da RTP e Israel participe.

Num comunicado enviado esta terça-feira às redações pelo seu agenciamento, Dinis Mota refere que, caso seja selecionado para representar Portugal, "e caso a participação de Israel continue a ser uma realidade", não irá participar no Festival Eurovisão da Canção, marcado para maio na Áustria.

"É inequívoco que enquanto cidadão, músico, ser humano, sendo consciente das desigualdades e injustiças humanitárias que existem, nunca poderia estar do lado de um agressor. Sou completamente contra quem subjuga, quem maltrata, quem humilha ou agride outro ser humano", sustenta o músico, agradecendo à RTP "a oportunidade de participar no Festival da Canção", mas também "o respeito e carinho" com que tem sido acompanhado.

Em 2026 serão 16 os artistas e bandas que irão compor temas para o Festival da Canção, organizado pela RTP.

Os nomes foram anunciados em novembro. Entretanto, em 10 de dezembro, a maioria anunciou a recusa em representar Portugal na Eurovisão, em protesto contra a participação de Israel no concurso.

"Com palavras e com canções, agimos dentro da possibilidade que nos é dada. Não compactuamos com a violação dos Direitos Humanos", afirmaram os artistas e bandas num comunicado conjunto enviado à Lusa.

Cristina Branco, Djodje, Beatriz Bronze (EVAYA), Rita Dias, Francisco Fontes, Gonçalo Gomes, Pedro Fernandes (que trabalha com Gonçalo Gomes), Inês Sousa, Jorge Gonçalves (Jacaréu) e os músicos que integram os Bateu Matou, Marquise e Nunca Mates o Mandarim assinam o comunicado.

Dinis Mota explicou, no comunicado divulgado esta terça-feira, que não assinou "atempadamente a declaração conjunta", não por discordar dos seus princípios, mas "por acreditar que a música pode ser pensada como um instrumento ativo de paz, diálogo e ação, necessitando de tempo para uma tomada de posição que considerasse estar alinhada" com os seus princípios.

O músico partilha que sempre sonhou representar Portugal na Eurovisão, "mas nunca nestas circunstâncias, nem enquanto vencedor, nem segundo, nem terceiro".

De fora da declaração conjunta ficaram os Bandidos do Cante, as Agridoce, André Amaro e Sandrino.

Os Bandidos do Cante, numa publicação nas redes sociais, referem que, "se um dia o público e o júri entenderem" que a canção que apresentarem "deve vencer", irão "representar Portugal com responsabilidade, respeito e dignidade".

O grupo reconhece que o Festival da Canção "acontece num momento difícil e sensível, marcado pela dor e pela violência em várias partes do mundo", sendo por isso "natural que muitos artistas sintam necessidade de transformar essa preocupação em gestos concretos, incluindo o boicote à Eurovisão".

"Respeitamos profundamente quem escolhe esse caminho e reconhecemos a legitimidade desse gesto artístico", afirmam.

Já as AGRIDOCE, também numa publicação nas redes sociais, deixam uma possível decisão sobre a Eurovisão para depois.

"Neste momento estamos focadas apenas e só no Festival da Canção, na nossa canção e na nossa atuação. Tudo o que vá para além do nosso Festival será uma decisão tomada com ponderação, responsabilidade e respeito por todos. Pedimos compreensão para esta escolha. Acreditamos que a música deve continuar a ser um espaço de encontro, não de divisão -- e é com esse espírito que seguimos", lê-se na publicação.

Em 2026 serão 35 os países a competir na Eurovisão, após algumas desistências, devido à participação de Israel no concurso, e regressos à competição.

Em competição na 70.ª edição estarão temas da Albânia, Arménia, Austrália, Áustria, Azerbaijão, Bélgica, Bulgária, Croácia, Chipre, República Checa, Dinamarca, Estónia, Finlândia, França, Geórgia, Alemanha, Grécia, Israel, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Moldávia, Montenegro, Roménia, Noruega, Polónia, Portugal, São Marino, Sérvia, Suécia, Suíça, Ucrânia e Reino Unido.

Este mês, após ter sido decidido, na assembleia geral da UER, que Israel poderia participar no concurso em 2026, caso assim entendesse, Espanha, Irlanda, Países Baixos, Eslovénia e Islândia anunciaram que não participariam na 70.ª edição.

Os boicotes devem-se aos ataques militares de Israel no território palestiniano da Faixa de Gaza, nos dois últimos anos, que mataram pelo menos 67 mil pessoas e foram classificados como genocídio por uma comissão internacional independente de investigação da Organização das Nações Unidas.

O Festival Eurovisão da Canção é organizado pela UER em cooperação com operadores públicos de televisão de mais de 35 países, entre os quais a RTP.

A 70.ª edição volta a ter duas semifinais, marcadas para 12 e 14 de maio, nas quais competem 15 canções em cada uma.

Na final, que acontece em 16 de maio, além dos 20 temas escolhidos em cada uma das semifinais (dez em cada uma) irão competir também as canções de quatro dos 'Big 5' (Reino Unido, França, Alemanha e Itália) e o país anfitrião (Áustria).

Fazem parte dos 'Big 5' as televisões públicas que contribuem com mais verbas para a União Europeia de Radiodifusão e, assim, para a organização do Festival Eurovisão da Canção. Espanha é o quinto país do grupo dos 'Big 5'.

O músico Dinis Mota lança um desafio aos músicos portugueses, mas também aos de Espanha, Países Baixos, Eslovénia, Irlanda e Islândia, "assim como a todos os que queiram fazer parte deste movimento".

"Proponho organizar na Áustria, na altura da Eurovisão ou data próxima, um concerto internacional, um momento onde ganhemos voz, revertendo todos os lucros para ajuda humanitária ao povo palestiniano. O mundo precisa de música, precisamos de renascer nestes momentos complexos, temos tempo e oportunidade de marcar a história pela força daquilo que é tão maior que o nosso individual. Mesmo com tudo o que se aponta de difícil, acredito que esta é a nossa chance", refere.

O Festival Eurovisão da Canção realiza-se anualmente desde 1956 e já houve países excluídos, caso da Bielorrússia, em 2021, após a reeleição do presidente Aleksandr Lukashenko, e da Rússia, em 2022, após a invasão da Ucrânia.

Israel foi o primeiro país não europeu a poder participar, em 1973, e ganhou quatro vezes.

O representante de Portugal no concurso é escolhido no Festival da Canção, organizado pela RTP, que em 2026 irá decorrer em fevereiro e março, repartido, como habitualmente, em duas semifinais (em 21 e 28 de fevereiro) e final (em 07 de março).

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