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MARIA DO CÉU GUERRA É DONA DE BORDEL

O espectáculo que junta Maria do Céu Guerra e Rita Lello – mãe e filha – no mesmo palco, acaba de se estrear no Cinearte, em Lisboa, e quanto mais não fosse serviria de excelente introdução à obra desse autor genial que foi George Bernard Shaw.

15 de abril de 2003 às 00:00

“A profissão da Sra. Warren” conta-nos a história de uma mulher (Céu Guerra) que acumulou fortuna como prostituta e gestora de bordéis, mas a quem a filha rejeita. Vivie (Rita Lello) prefere ser pobre e trabalhar num escritório toda a vida, mas sentir-se útil à sociedade e não uma exploradora de jovens necessitadas.

A tese da Sra. Warren é de que não há “dinheiro limpo”: quem quer que tenha feito fortuna não o fez por vias “decentes”. Mas Vivie é irredutível...

Como sempre acontece nas peças de Shaw, os diálogos são excelentes e nenhuma personagem é detentora da verdade absoluta. O que impede que o espectáculo tenha uma resolução pacificadora, mas nem por isso menos fascinante.

Antes de entrar para a sala, assalta-nos a dúvida: será que uma peça escrita há cem anos se aguenta no palco hoje? Sob a direcção de Guilherme de Mendonça, jovem encenador ainda pouco conhecido entre nós, a questão parece secundária.

Sem cenário (apenas os adereços indispensáveis para que os intérpretes possam desenvolver o seu trabalho), tudo gira em volta do jogo dos actores. E aí, as personagens estão, quase todas, bem desenhadas e defendidas.

Embora aqui e ali pareça esquecida do texto, Céu Guerra oferece ao público o retrato fidedigno de uma mulher grotesca, ordinária e bem disposta, que, a seu tempo, sofrerá de forma patética e conseguirá comover-nos. Rita Lello é uma jovem empreendedora verosímil, Vítor d’Andrade um cínico impecável e Jorge Sequerra um ingénuo convincente. Só Luís Thomar é, neste contexto, um “vilão” indiferente e Gil Filipe parece pouco à vontade na pele de velho pai.

Não conseguindo fazer-nos esquecer que estamos perante um drama datado, Guilherme Mendonça assina um espectáculo correcto, que não aborrece o público e onde se nota que tem “mão” para a encenação.

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