Em 2023 foi distinguido pelo Governo com a Medalha de Mérito Cultural. Tinha 91 anos.
O realizador Manuel Faria de Almeida, que assinou o mais censurado filme no Estado Novo, "Catembe" (1965), morreu no domingo aos 91 anos, em Lisboa, disse à Lusa fonte da Academia Portuguesa de Cinema.
De acordo com a mesma fonte, o cineasta morreu na madrugada de domingo e o funeral realiza-se nesta terça-feira para o cemitério do Alto de São João, em Lisboa.
Manuel Faria de Almeida nasceu em Moçambique em 1934, estudou cinema em Londres e em Paris, estagiou na televisão britânica, trabalhou na Cinemateca Francesa, e em Portugal presidiu ao Instituto de Cinema, à Tobis, foi diretor de programas na RTP e do centro de formação da estação pública e ajudou a fundar a Televisão de Macau.
Influenciado por nomes como Chris Marker, Agnès Varda ou Alain Resnais, a vida de Faria de Almeida como realizador seria marcada por "Catembe", o filme que rodou maioritariamente em Maputo, coproduzido por António da Cunha Telles.
A investigadora Maria do Carmo Piçarra publicou em 2024 um livro sobre o realizador, no qual escreveu que "Catembe" "pretendia mostrar quem eram e como viviam os habitantes de Lourenço Marques" e que Faria de Almeida se serviu do humor e da ficção "para caricaturar questões sociais e políticas" e mostrar "uma convivência racial desenquadrada do que era desejável oficialmente" pelo regime.
Com o título original de "Catembe - Sete dias em Lourenço Marques", o filme acompanhava o quotidiano de um bairro de pescadores e de uma jovem rapariga, contrariando as imagens impostas pelo regime. O filme seria alvo de 103 cortes de censura e mesmo assim foi interditada a sua estreia no Cinema Império, em Lisboa, em 1965.
"O processo brutal a que foi sujeito é emblemático da ação da censura da ditadura portuguesa", sublinhou Maria do Carmo Piçarra. Manuel Faria de Almeida acabaria por retirar o filme de circulação e poucas vezes este foi exibido.
Em 2023, quando Faria de Almeida foi distinguido pelo Governo com a Medalha de Mérito Cultural, a Cinemateca Portuguesa apresentou novas cópias digitalizadas e restauradas dos filmes do realizador, como "Para um álbum de Lisboa" (1966), "A Embalagem de Vidro" (1966), "A Feira" (1970) e "Catembe", com 11 minutos adicionais e um 'trailer'.
No livro "Catembe - Esse obscuro desejo de cinema", Maria do Carmo Piçarra lembrou que Manuel Faria de Almeida iniciou-se como realizador amador ainda em Moçambique, onde foi um dos fundadores do Cineclube de Lourenço Marques, a partir do qual queria "lançar as bases para a criação de um cinema moçambicano", à semelhança do que acontecia em Portugal, com o novo cinema português e a relação dos seus jovens cineastas com o cineclubismo.
Numa nota de pesar, a Academia Portuguesa de Cinema lembra que ao longo da carreira, que incluiu documentários e um trabalho continuado na televisão, Faria de Almeida "destacou-se pela independência de pensamento e pela recusa de compromissos fáceis, mantendo sempre uma relação exigente com o cinema enquanto espaço de observação, questionamento e liberdade".
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