Encenador morreu de doença cardíaca.
Morreu o ator e encenador Carlos Avilez
Morreu o encenador e ator Carlos Avilez, de 88 anos, no hospital de Cascais na madrugada desta quarta-feira, vítima de doença cardíaca, onde deu entrada na terça-feira com uma indisposição, confirmou a Escola Profissional de Teatro de Cascais.
Carlos Avilez fundou o Teatro Experimental de Cascais em 1965 e deixa para a História do teatro uma carreira de mais de 60 anos de conquistas e de um percurso "provocador e transgressor", construído sem querer.
O nome de Carlos Avilez confunde-se com parte da História do Teatro português, tendo passado por várias casas de espetáculos nas últimas décadas, como ator, encenador ou fundador e mantendo-se profissionalmente ativo até ao fim da vida.
Nascido em 1935, Carlos Vítor Machado, ou Carlos Avilez, como é mais conhecido, estreou-se profissionalmente como ator em 1956 na Companhia Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro, onde se manteve até 1963.
Nesses sete anos acumulou a interpretação, com a escrita de peças de teatro e com a direção de espetáculos teatrais na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul e no Centro Espanhol, tendo acabado por orientar a sua vida profissional para a encenação, seguindo um conselho de Amélia Rey Colaço, que teve essa antevisão, antes de ele próprio se aperceber que o seu futuro passava por deixar para trás a carreira de ator.
É já nessa condição que em 1963 apresenta a sua primeira encenação, uma versão arrojada da tragédia "A Castro", de António Ferreira, na Cossoul, que causou agitação no meio artístico lisboeta e lhe granjeou o estatuto de 'enfant terrible' do teatro português.
Numa entrevista de vida concedida em abril deste ano à revista Visão, Carlos Avilez afirmou: "Nunca procurei ser provocador e transgressor, mas fui".
Em 1964, já se estreou profissionalmente como encenador com "Carta perdida", no Teatro Experimental do Porto, e ainda no mesmo ano tornou-se diretor do CITAC -- Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, onde encenou "As Bodas de Sangue", de Federico García Lorca, com música de Carlos Paredes.
No ano seguinte, Carlos Avilez foi um dos fundadores do Teatro Experimental de Cascais (TEC), que, após o colapso de algumas companhias do chamado teatro de ensaio, trouxe uma nova dimensão ao teatro.
Esta novidade atraiu alguns dos maiores nomes da cultura portuguesa da altura e um público que apreciava o que de inovador se fazia naquela companhia.
Entre as peças que encenou no TEC, contam-se "D. Quixote", "Fedra", "Galileu, Galilei", "Rei Lear", "Doce Pássaro da Juventude", "Inês de Portugal", "Muito Barulho Por Nada", "Peer Gynt", "Macbeth", "Tempestade", "Os irmãos karamazov", entre muitos outros.
Com esta companhia, Carlos Avilez apresentou alguns dos seus espetáculos em Espanha, França, Itália, Hungria, Brasil, Estados Unidos da América, Japão, Angola e Moçambique.
Numa entrevista de 2021 a uma publicação da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Avilez justificava a sua longevidade no TEC e a sua capacidade de ser "experimental" há mais de meio século, com uma "rebeldia e coragem", que advém de se manter a loucura ao longo dos anos.
"A idade passa, fica a experiência e o conhecimento, ficam as memórias e a força", disse, na altura, Carlos Avilez, para quem o teatro era "o espelho" do país e o palco "uma radiografia terrível".
Paralelamente ao seu trabalho no TEC, dirigiu Raúl Solnado no Teatro Villaret, e trabalhou em França com Peter Brook, e na Polónia com Jerzi Grotowsky.
No ano de 1970, foi nomeado diretor artístico e responsável pelo dia de Portugal na Expo '70 em Osaka, no Japão, e nove anos depois foi nomeado, juntamente com Amélia Rey Colaço, diretor da Companhia Nacional de Teatro I - Teatro Popular, então sediada no Teatro São Luiz.
Fez também uma incursão pelo teatro lírico, tendo encenado várias óperas, entre as quais "Carmen", "Contos de Hoffmann", "Kiu", "As Variedades de Proteu", "Ida e Volta", "O Capote", "Inês de Castro", "O Barbeiro de Sevilha" e "Madame Butterfly".
Em 1993, fundou a Escola Profissional de Teatro de Cascais, uma ideia nascida de uma proposta do antigo ministro da Educação Roberto Carneiro, no final de um espetáculo no TEC a que assistiu com os filhos.
Entre esse e o ano 2000, Carlos Avilez passou também pelos teatros nacionais D. Maria II e S. João, como diretor, e pelo Instituto de Artes Cénicas, como presidente.
Mais recentemente, encenou "Inês de Castro", para Coimbra, Capital Nacional da Cultura 2002.
Agraciado em 1995 com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, Carlos Avilez foi ainda distinguido com as Medalhas de Honra e Mérito Municipal da Câmara Municipal de Cascais, de Mérito Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, da Associação 25 de Abril, e com a Medalha de Mérito Cultural da Vila de Óbidos.
Foram vários os prémios que recebeu ao longo da carreira, desde logo no início o Prémio António Pinheiro, da antiga Secretaria de Estado da Informação e Turismo, e o Prémio de Imprensa, da Casa da Imprensa, pela encenação de "D. Quixote".
Daí para a frente somou muitos outros, como prémios da crítica e de vários órgãos de comunicação social, de que se destacam vários Se7e de Ouro, Nova Gente e Globos de Ouro.
Foi ainda distinguido com o Prémio da Crítica 2015 - Distinção Particular ao Teatro Experimental de Cascais, e com o Prémio Carreira e Obra da Sociedade Portuguesa de Autores.
Sempre provocador e transgressor, Carlos Avilez bateu-se continuamente pela sobrevivência do teatro e lamentava a crescente solidão das pessoas, agravada com a pandemia, que retirava público às salas de espetáculos.
Numa entrevista de 2021, ao 'site' Cultura Cascais, Carlos Avilez frisou a necessidade de as Companhias que lutam pela sobrevivência se unirem cada vez mais e mostrarem à sociedade e aos poderes públicos que são importantes e que estão vivos, todos os dias e não apenas no Dia Mundial doo Teatro.
"Nós não somos objetos decorativos. Somos pessoas que dependem desta profissão que é uma profissão difícil que arranca a alma das pessoas. Não nos deixem desaparecer porque nós também não vamos deixar que o Teatro desapareça. Isso está fora de questão", disse.
Carlos Avilez desapareceu esta quarta-feira, mas deixou bem viva a sua marca gravada na História do Teatro.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.