Conhecido como a voz dos Capitães da Areia, aos 33 anos lança o segundo álbum a solo e agradece à pandemia o melhor e o pior. Pedro de Tróia sobe ao palco do Capitólio, em Lisboa, no dia 11 de novembro para a apresentação do novo disco.
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Estreou-se a solo com 'Depois Logo se Vê' e voltou agora, com uma pandemia pelo meio, em 'Tinha de Ser Assim'. As diferenças são algumas, mas apenas na parte instrumental. Um segundo álbum de Pedro de Tróia que conta com traços mais eletrónicos, mas sempre acompanhados com o sentimento e emoção que já vincavam as letras do primeiro disco.
"Preocupo-me em tentar não disfarçar as coisas", é assim que Pedro de Tróia descreve o seu processo de escrita. Neste segundo álbum, a voz dos Capitães da Areia tem
Veio estudar para Lisboa em 2008, mas rapidamente a música obrigou-o a deixar os livros de lado. Só no ano passado, com a 'ajuda' da pandemia, é que concluiu a formação em publicidade. Foi a isso que se agarrou este verão, quando a pandemia voltou a apertar, trabalhando como criativo publicitário. Nos últimos anos dedicou-se à produção musical e escrita de canções para outros músicos.
Pedro de Tróia acredita que os artistas deviam ser mais unidos, agradece o apoio do Estado nesta fase difícil, mas afirma que há muito mais a ser feito pela cultura em Portugal.Correio da Manhã - O primeiro álbum a solo é afetado pela pandemia. O concerto de apresentação desaparece por conta disso. Como viveste essa fase?
Pedro de Tróia - Não vivi bem. Mas foi o momento em que eu realmente percebo que o Mundo vai parar e que os concertos vão parar. Foi esse o momento que me deitou abaixo. Mas, felizmente, com a ajuda dos amigos e do meu agente, consegui reagir. A reação foi a minha palavra de ordem. Eu sabia que se não reagisse rápido provavelmente o ano seguinte iria ser pior ou mais difícil.
Portanto, sentiste necessidade de criar novamente?
- Não só por uma questão de sanidade mental, não só para criar e para ter uma coisa concreta para fazer, mas também por uma questão de carreira. Eu sinto que é importante irmos subindo pequenos degraus, na pior das hipóteses, e não havendo concertos, não havendo outra forma de chegar às pessoas, pensei que seria importante ter um disco novo cá fora.
Conseguiste trabalhar com mais calma este álbum?
- Não, de todo. Este disco foi feito em muito pouco tempo... Eu devia ter contado! O disco foi feito num instante. Nós estávamos mais ou menos no Natal - dezembro de 2020 - quando meti na cabeça: "Tenho de ter um disco novo nesse ano". No concerto [no festival SBSR em Sintonia, dos únicos que realizou durante a pandemia] já tinha duas músicas fechadas e foi mais ou menos na reta de final do ano que pensei: "Tem mesmo de existir o disco, não quero que seja só um single ou dois". No mês de janeiro foi quando se começou a trabalhar nesse sentido. O Tiago Brito, que já tinha produzido o disco anterior, alinhou em fazer a produção e foi um álbum feito à distância. Eu estava em casa a escrever as canções e o Tiago estava em casa dele a desenvolver os instrumentais. Depois encontramo-nos um dia ou dois para gravar aqui em Lisboa.
Voltas a trabalhar com as mesmas pessoas que trabalhaste no primeiro disco?
- Não com todas, mas com muitas. O outro disco tinha sido gravado em dois estúdios, este foi gravado só num. O produtor é o mesmo, dois músicos são os mesmos. Mas este disco tem uma componente mais eletrónica. Do ponto de vista de arranjos é um álbum diferente e foram precisas pessoas diferentes. Menos pessoas, na verdade.
Que diferenças notaste na criação de um álbum e outro?
- Enquanto que no disco anterior foi uma escrita muito ‘cuspida’... aquilo que eu estava a sentir naquele momento era o que ficava. Era quase como escrever uma carta a alguém, em que está em papel, escrita à mão, e não vais corrigir. Relativamente ao segundo disco, foi diferente. Foi um álbum onde eu já estava mais esclarecido em relação a mim e às coisas que sinto, já estava mais em paz. Já me sinto mais encontrado. Neste disco cheguei ao lugar onde quero estar e onde me sinto bem. É um registo mais esclarecido do ponto de vista individual.
Quem são as pessoas que te marcam na tua vida? São elas que te levam a escrever as letras que entregas a quem te ouve?
- A minha mãe [Mãe é uma das faixas do novo álbum] é a minha mãe, obviamente, e a namorada [Namorada é outra das faixas do álbum] é escrita para uma pessoa muito importante. As canções têm prazo e têm tempos, eu é que não gosto de desapegar-me das canções. Mas sim, as pessoas que mais me influenciam a escrever estas canções são: a minha mãe, que me conhece há 33 anos. E uma pessoa que me conhece há 15 anos e com a qual já fui tudo (...) já fui namorado, ex-namorado, amigo, melhor amigo, já fomos confidentes, já fomos tudo. São duas pessoas que estão sempre comigo, independentemente do estado em que eu esteja. São duas pessoas que eu encaro como símbolos.
Quando ouvimos as tuas músicas percebemos que os teus sentimentos são passados. É esse o objetivo?
- Não penso nisso assim. Não me preocupa que os outros sintam o que eu estou a sentir. Preocupo-me em tentar não disfarçar as coisas. É como: "Deixa-me dizer-te de forma mais simples aquilo que eu sinto". Quando escrevo para os outros é diferente, mas para mim é muito importante que eu saiba o que estou a escrever, porque depois vou cantar aquilo (...) A mim faz-me muita confusão estar em cima de um palco a cantar aquilo que ‘não é meu’.
Como é trabalhar com o Rui Reininho?
- É uma pessoa maravilhosa e que alinhou neste desafio… À partida poderia ser difícil e tudo muito complicado, mas foi tudo muito simples, muito rápido. Respondeu-me ao email no dia em que lhe enviei. Fui ao Porto, gravámos e ele disse: ‘Orienta-me’. Foi super correto e prestável. Eu respeito-o como a figura importante que é, mas foi mesmo muito bom.
Entretanto apareces a trabalhar com o Miguel Ângelo [Delfins] no novo disco dele. Como aconteceu?
- No caso do Miguel, ele desafiou-me. Tinha-me dito que tinha criado aquela canção e se eu tinha interesse em cantar com ele [...] claro que tinha! Só dá para dizer maravilhas sobre uma pessoa como ele. São pessoas que percebes que têm uma história, têm um legado, deram muito valor à música mas tratam-te como se fosses um amigo que está ali ao lado.
Quais são as tuas influências neste momento?
- Aquilo que eu tenho ouvido mais é Rodrigo Leão, um disco que se chama ‘O Método’.
Achas que a tua Pop pode vir a ser uma referência desta nova vaga da música portuguesa?
- Não procuro ser uma referência, mas procuro viver disto. Naturalmente que se isso acontecer vai ser uma coisa que me vai deixar muito satisfeito.
Vais querer manter-te fiel ao que tens feito?
- Olhando para este primeiro e segundo discos, talvez haja uma continuidade. Estou a começar a definir uma direção. À partida, tudo o que eu começar a construir daqui para a frente vai ter sempre vestígios do que está para trás. Não me estou a ver a render-me ao que está a dar para me definir enquanto artista.
O que é que as pessoas podem esperar do concerto no dia 11 [quinta-feira] no Capitólio?
- Vão estar sentadas, vão ter um alinhamento que vai beber muitas músicas deste álbum mas também do anterior, provavelmente uma surpresa e também o convidado especial, o Rui Reininho. Do ponto de vista de iluminação e de som também será muito bem preparado.
Já estás a preparar novas datas?
- Ainda não. Temos estado focados neste concerto e depois vamos começar a ver como será 2022. Este concerto vai ser a primeira vez com esta formação: Silas Ferreira, João Eleutério, Tomás Branco, Rita Laranjeira, Rui Reininho e provavelmente mais alguém.
E os Capitães da Areia? Agora vais procurar um novo álbum do Pedro a solo ou tens em mente falar com eles para um concerto... ou outra coisa?
- Neste momento os Capitães estão em fases da vida muito diferentes. Neste momento é um não assunto, não faz sentido. É uma coisa que não é possível. Mas anualmente vamos brincando com isso. Se vai ser agora? De certeza que não. É quase como os astros, é preciso que as nossas vidas se alinhem e faça sentido naquele momento.
A Cultura volta a ser um parente pobre de um Orçamento do Estado [entretanto chumbado]. Achas que os artistas deviam ser melhor tratados por parte do Governo, do ministério da Cultura? O que falta?
- Enfim, verdade seja dita, falta muito do que está para trás. Foi um ano em que não só os artistas mas também os políticos se depararam com uma situação nova (...) é num momento destes que percebemos que a casa não está sólida o suficiente para se aguentar. O que eu sinto, do ponto de vista da classe artística, é que devíamos ser todos muito mais unidos. Eu defendo uma espécie de sindicato dos artistas, acho que podíamos ganhar com isso. Se me perguntares se os apoios [por parte do Governo] que eu tive foram importantes? Posso dizer que se calhar não foram suficientes, mas foram extremamente importantes. Se não fosse o apoio que recebi, este disco não existia. Sem concertos, sem dinheiro, este disco só existe devido aos apoio que recebi. Tenho a criticar, mas também tenho muito a agradecer. Eu sei de pessoas que não receberam o apoio.
"Imagina que morres depois disto". Sentes-te realizado com o que conquistaste até agora?
Sinto que me estava a realizar. Neste momento eu sei o que pretendo fazer a seguir. Se eu morresse agora, iria morrer satisfeito com o que tinha feito mas a saber que tinha uma coisa ou duas por cumprir. Do género... epah, não estava à espera.
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