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Vida e Literatura não são coincidentes

Ana Eduarda Santos, escritora. Tem 22 anos e aos 15 venceu o Prémio Revelação da APE. Esta tarde está na Feira à espera dos leitores.

04 de junho de 2005 às 00:00

Correio da Manhã – Com 15 anos tornou-se a mais jovem vencedora do Prémio Revelação da APE 1998. Como é que tão pouca vida dá tanta literatura?

Ana Eduarda Santos – Vida e Literatura são, de algum modo, afins mas não coincidentes e, assim, a imaginação pode ir a sítios onde a vida ainda não chegou. Terá sido desse modo que me iniciei neste mundo, se bem que o meu primeiro livro espelhe com um razoável grau de proximidade a vida dos jovens. As histórias, porém, não vivem tanto da vida que lhes pomos dentro quanto da vida que, através delas, conseguimos suscitar.

– Um ano depois, com dois novos livros, estava instalado – o estigma da criança prodígio?

– De modo algum. Mozart tocava piano aos quatro anos. Rimbaud terminou uma carreira literária brilhante aos 19, considerando que nada mais tinha a acrescentar à sua arte. Eu comecei a escrever aos 15, o que, apesar de relativamente invulgar, não me parece que seja particularmente prodigioso. Falta-me caminhar ainda muito para que me possa sentir satisfeita... Mozart cresceu e deixou de impressionar o público enquanto criança prodígio para se converter num compositor superior ao intérprete.

– Lembra-se do primeiro texto, do tema, da motivação?

– No meu caso, dependeu sempre do género do texto. Se estiver a pensar num romance, é muito importante o período prévio de reflexão, em que procuro analisar tudo, desde as motivações gerais até à parte mais técnica. Já os contos nunca me aparecem do mesmo modo: podem nascer de uma ideia, de uma imagem que me ficou de relance, uma frase que se foi formando no papel...

– Escreve em vários registos pelo prazer da multiplicidade ou pela procura de uma identidade?

– Mais pela multiplicidade, creio. A minha área é a ficção. Dentro dela, os contos e o romance são parentes na linha colateral. O teatro, confesso, agrada-me muito enquanto leitora/espectadora mas do ponto de vista da criação é a minha excepção à regra. E as crónicas são uma camada de palavras que vou colando ao dia-a-dia. A identidade literária, é certo que vou procurando encontrá-la, ou melhor, construí-la mas estou convencida de que é uma coisa mais volátil na ficção do que no quotidiano.

– O quarto livro já tem sucessor?

– Vou preparando o terreno mas escrevo muito lentamente. E agora, durante um par de meses, há a lei dos exames... ‘Dura lex, sed lex’ (a lei é dura mas é a lei).

Chama-se Ana Eduarda Santos, estuda Direito e tem hoje 22 anos a mais jovem detentora do Prémio Revelação da APE. Foi em 1998 e premiou romance (a que ela insiste em chamar ficção) de nome ‘Luz e Sombra’. Tinha 15 anos. Um ano depois, publica dois novos livros a que correspondem dois novos géneros: o teatro (‘O Resto do Mundo’) e o conto (‘Os Dias Diferentes’). Em 2002, a convite do Instituto Camões faz a segunda incursão na escrita para os palcos, com ‘Callunia Vulgaris’. Levada à cena em Paris, a peça conheceu edição bilingue (português/francês) mas, para a autora, este não é o seu ambiente natural, a ficção sim... E, ao quarto livro, defende, ‘O Homem do Tempo’ (2004) é que é o seu primeiro romance.

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