Sem conseguirem ver o ecrã gigante, os adeptos reagiam por contágio, numa onda gigante que envolveu famílias inteiras, grupos de amigos, mães com os filhos pela mão.
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Alvalade celebrou esta terça-feira o desejado título de campeão de futebol numa festa contida, em que a pandemia de covid-19 foi a 'convidada' omnipresente entre a 'maré' verde e branca.
"Epá, usa máscara". O apelo, ouvido entre a multidão que se aglomerou nas imediações do Estádio José Alvalade, não encontrou ressonância no interlocutor, como não o fizeram as recomendações da DGS. Apesar de serem mais aqueles que a usavam, os demais abdicaram dela para cantar em plenos pulmões, para soprar cornetas verdes desafinadas, para saudar o campeão, já depois de aquecerem a garganta com bebidas mais ou menos alcoólicas e com cigarros, muitos.
Sem conseguirem ver o ecrã gigante, reagiam por contágio, numa onda gigante que envolveu famílias inteiras, grupos de amigos, mães com os filhos pela mão.
Os petardos não cessaram de rebentar, assustando, de quando em vez, os menos habituados a estes rituais, e obrigando mesmo à intervenção da PSP, que, com o auxílio de motas, foi dispersando a turba.
Todos se aliaram à festa, até os metros que passavam e buzinavam à maré verde e branca, com uns, poucos, desordeiros a estragarem os festejos antecipados, com alguns confrontos com a polícia.
"Eu quero o Sporting campeão", gritava-se enquanto o tempo, lá dentro, corria lento. Quando o árbitro Luís Godinho apitou, a explosão aconteceu ao ritmo de foguetes e fumos verdes que tingiram o céu.
Foi a melhor prenda de aniversário que Manuel Micael poderia desejar. "Sempre acreditei que seria hoje", disse o aniversariante, de 13 anos.
Manuel nunca tinha visto o Sporting campeão, o que "não era fácil", mas na noite de terça-feira, finalmente, pode "gozar" com os amigos como eles faziam com ele - "já mandei muitas mensagens".
Foi o pai, Carlos, quem lhe incutiu a paixão pelo clube. "O sporting é magia", garantiu à Lusa, assumindo que nem sempre é fácil ser de um clube que ganha pouco, mas que os sportinguistas não fazem disso uma luta.
"É assim o desporto: uns dias ganha-se, outros perde-se", defendeu, enquanto contava já ter recebido mais mensagens de parabéns de benfiquistas do que de 'leões'.
Carlos e Manuel fizeram a festa junto ao estádio, porque "amanhã [hoje] é dia de escola" e porque "tem de se ter cuidado com o que se está a passar".
"Já vi por aqui muita gente sem máscara e isto [covid-19] não é brincadeira", acrescentou Carlos, sócio do Sporting há 25 anos.
A preocupação com a pandemia também foi referida por Natércia, que com os seus 77 anos acorreu à festa com a filha, o filho, a neta e o marido, de 82 anos.
"Esperemos que a festa não vá dar mau resultado. Estes jovens que aqui estão não estão vacinados como eu e o meu marido", notou.
Equipada com um cachecol 'leonino' em tons rosa, Natércia, que nasceu e cresceu numa família sportinguista e veio de alpiarça para a festa, contou à Lusa que não viu o jogo, por "sofrer muito".
"Preferi caminhar e, quando ia a chegar ao viaduto, foi quando o Sporting se sagrou campeão", relatou, elogiando "a festa extraordinária", "muito ordeira".
Depois da primeira explosão, mais pessoas acorreram à festa, numa peregrinação a conta gotas.
De cachecóis erguidos no ar, bandeiras ao vento, os sportinguistas aliaram as comemorações no local aos 'lives' nas redes sociais, com os telemóveis a substituírem os abraços e a prenderem muitos dos rostos de miúdos (e eram muitos) e graúdos.
Com muitos (mas menos do que a maioria) a tentar manter o distanciamento, uma bicicleta de luzes verdes circulava nas ruelas da festa, colorindo as fotos da praxe, com as quais o momento ficou assinalado para a posteridade.
Sofia veio com o marido, os dois filhos, e uma amiga. Nem ligava ao futebol até conhecer o marido, sportinguista convicto, e começar a vir a Alvalade. Hoje, é tão sportinguista que viajou desde o Seixal para não perder "um momento muito especial".
"Costumo dizer que quando ela nascer, já sabe cantar o hino do Sporting", confidenciou, apontando para a barriga de grávida.
Sofia lembra-se "vagamente" de ver o 'leão' campeão, até porque nasceu numa família de "benfiquistas ferrenhos" e, hoje, tem pena de a festa não poder ser maior.
Meia hora depois do jogo, chegavam famílias inteiras, descontraídas, equipas a rigor - em alguns casos, nem um leão-pelúcia faltou. Um camião, onde o distanciamento social era impossível, buzinava insistentemente, como pano de fundo dos habituais cânticos "campeões", "e quem não salta é lampião", ou o transversal "we are the champions", dos Queen.
A demora na saída do autocarro dispersou a multidão, distribuída pelas artérias da cidade, para um prolongamento da festa com epicentro na praça do Marquês de Pombal.
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