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Leia o que disse Mustafá, cabecilha da Juve Leo, em tribunal

Nuno Mendes fala dos bilhetes que a claque recebe e da sua condição socioeconómica.

04 de dezembro de 2018 às 20:13

Nuno Mendes, conhecido como Mustafá, falou ao Juiz no Tribunal do Barreiro. A CMTV divulga o que o cabecilha da Juve Leo disse: 

Juiz: Senhor Nuno, em relação à sua relação socioeconómica, quer prestar declarações?

Nuno Mendes: Sim, sim.

Juiz: A sua relação socioeconómica é do que é que o senhor vive, com quem é que vive, como é que vive…

Nuno Mendes: Vivo com a minha filha…

Juiz: Para já, deixe-me só fazer umas perguntas. O senhor mora na Aroeira?

Nuno Mendes: Na Aroeira.

Juiz: Paga renda de casa?

Nuno Mendes: 600 euros.

Juiz: Disse-me que era…

Nuno Mendes: Dirigente associativo.

Juiz: Dirigente associativo. Quanto é que o senhor ganha por mês?

Nuno Mendes: Tiramos vá…

Juiz: Quanto é que o senhor ganha?

Nuno Mendes: Eu. Dois mil.

Juiz: Limpos?

Nuno Mendes: Sim.

Juiz: Quem é que lhe paga?

Nuno Mendes: A Associação Juventude Leonina. Só recebo pela Juventude Leonina. Como a minha mulher também. Temos os descontos e tudo, como associação e tudo. Quer dizer que a minha mulher é empregada da Juventude Leonina. E eu recebo daí.

Juiz: A sua mulher o que é que faz?

Nuno Mendes: A minha mulher…

Juiz: Vive com ela?

Nuno Mendes: Sim, eu vivo com a minha mulher. A minha mulher gere o bar. É a responsável do bar e é a responsável pelos bilhetes e pelo merchandising [material]da claque.

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Juiz: E quanto é que ganha a sua mulher? Você ganha dois mil a sua mulher ganha…

Nuno Mendes: A minha mulher tira os 800 euros. Os 800 de ordenado. E depois, para ser sincero consigo, depois tem o bar… conforme der o bar e tudo… ‘prontos’… pode tirar mais algum dali.

Juiz: Perguntei-lhe há bocadinho se estes dois mil são líquidos ou ilíquidos.

Nuno Mendes: São líquidos, são.

Juiz: São líquidos. Então não ganha dois mil, ganha mais.

Nuno Mendes: Não, eu ganho… Esses dois mil são líquidos e depois durante, para ser sincero consigo…

Juiz: São líquidos? É isso que você leva para casa? São os dois mil?

Nuno Mendes: Sim, sim. Por mês.

Juiz: Então não é esse o seu ordenado. O seu ordenado tem de ser mais. Com os descontos e tudo…

Nuno Mendes: Sim, ‘prontos’… mas…

Juiz: Se você com os descontos recebe dois mil é porque o seu vencimento é ‘prai’ três mil, não?

Nuno Mendes: Sim, sim

Juiz: Mais ou menos.

Nuno Mendes: Vai dar. Com a situação do bar com o dinheiro do bar, do material… pagando…

Juiz: Então você fica com o lucro do bar? Não paga renda? Não paga nada?

Nuno Mendes: Da renda ali não. A renda… à Associação Juventude Leonina não paga renda ali, não pagamos renda ali.

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Juiz: Se ganha em média 120 euros por barril…

Nuno Mendes: Sim.

Juiz: Se venderem 30 barris… 3600 euros, numa semana.

Nuno Mendes: Com a questão do material…

Juiz: Olhe, e de bilhetes? Não ganha nada?

Nuno Mendes: Sim, sim. Nós temos um protocolo desde… Soares Franco, Bettencourt, Godinho e continua…

Juiz: Vocês ganham…

Nuno Mendes: Temos um protocolo de 400 bilhetes de borla. Bilhetes de borla que temos direito. É esses bilhetes, 400.

Juiz: São esses bilhetes que vocês vendem.

Nuno Mendes: 480 bilhetes. E depois compramos os outros bilhetes a um preço que o Sporting nos faz.

Juiz: Há 480 bilhetes que são de borla e depois têm…

Nuno Mendes: Esses são do protocolo das claques.

Juiz: E depois têm mais descontos noutros bilhetes.

Nuno Mendes: Depois temos desconto nos outros bilhetes todos.

Juiz: Portanto, no mínimo de 15 em 15 dias vocês têm 480 bilhetes mais desconto nos outros bilhetes.

Nuno Mendes: Exatamente.

Juiz: E quantos bilhetes é que vocês vendem normalmente?

Nuno Mendes: Se for Sporting-Benfica podemos vender mil bilhetes.

Juiz: Vendem mil bilhetes.

Nuno Mendes: Mil bilhetes.

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Nuno Mendes: Por exemplo, 480 bilhetes, não é?

Juiz: Sim.

Nuno Mendes: Nesses 480 bilhetes, se eu tiver marcações para esses 480 bilhetes, tenho de ir buscar dos outros. Por exemplo, nós vendemos a 15 euros e sai-nos a 11 euros.

Juiz: Sim.

Nuno Mendes: Pronto, se há jogos que eu só consigo vender 250 bilhetes, fico agarrado àqueles cento e tal que são do protocolo. Não tenho de pagar nada e vão para trás.

Juiz: Não tem de pagar nada. Era isso que eu estava a dizer. Fica agarrado mas não tem de pagar nada. São os que lhe dão.

Nuno Mendes: Sim, sim.

Juiz: Então é um negócio que nunca dá prejuízo.

Nuno Mendes: Não, dá… dá…

Juiz: Prejuízo não dá.

Nuno Mendes: Dá prejuízo, por exemplo, se for uma tocha para a relva são doze mil euros que desconta do protocolo.

Juiz: Uma quê? Que eu não percebi…

Nuno Mendes: Uma tocha para a relva desconta doze mil euros.

Juiz: Doze mil.

Nuno Mendes: Doze mil euros. Se for uma tocha para a relva desconta do nosso protocolo.

Juiz: Pois.

Nuno Mendes: Abrir um petardo na bancada, desconta do nosso protocolo, desconta do protocolo da claque.

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Juiz: Disse-me também que tem uma filha.

Nuno Mendes: Sim, sim.

Juiz: Que idade é que tem a sua filha?

Nuno Mendes: Tem oito. E tenho um filho de seis. Mas não vivo com ele, vive com a mãe.

Juiz: Paga alguma coisa para os seus filhos?

Nuno Mendes: Pago. Pago o colégio deles. 300 euros a cada um. Um colégio particular.

Juiz: A cada um?

Nuno Mendes: Sim. Pago o colégio deles a 300 euros por mês.

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Juiz: Que mais despesas é que tem? Fixas. Paga uma prestação de alguma coisa? Carro, Mota…

Nuno Mendes: Estou a pagar o meu carro, a minha carrinha.

Juiz: Está a pagar o carro?

Nuno Mendes: A minha carrinha.

Juiz: Quanto é que paga?

Nuno Mendes: Pago 400 euros por mês.

Juiz: Que carrinha é que é?

Nuno Mendes: Uma BMW, 535.

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Juiz: A sua mulher não tem carro?

Nuno Mendes: Tem, tem.

Juiz: Que carro é que é?

Nuno Mendes: Peugeot.

--

Juiz: Senhor procurador, alguma questão?

Procurador MP: Sim, sim. Eu gostaria de saber se o arguido tributa todos estes ganhos em sede de IRS.

Juiz: Muito bem, senhor doutor.

[Risos]

Procurador MP: Está nos autos.

Juiz: É diário, dez horas de programa por dia em todos os canais… acerca das claques e dos ‘futebóis’, essas coisas todas. [Risos] Se aquilo não fosse assim não havia tanta gente a querer.

Procurador MP: Pois.

Juiz: Senhor doutor, mais alguma questão.

Procurador MP: Nada, senhor doutor. Esclarecidíssimo.

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