Conheça o invisual que leva o nosso hino ao atletismo mundial.
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É cego desde os 17 anos, pratica atletismo há 20 e já conquistou sete medalhas de ouro em campeonatos do Mundo e da Europa. Nuno Alves começou a treinar quando saiu do campo para ir viver para a cidade. "Faltava-me um bocadinho de actividade física para libertar a adrenalina", contou ao CM o atleta natural de Tourém.
É na pista que Nuno se esquece que a cegueira o diferencia dos demais atletas. "A única coisa que penso é que tenho de ganhar aos outros e mais nada. Tento ouvir a informação do guia sobre os adversários e penso chegar à meta o mais rápido possível".
Com 40 anos, quando não está a correr, o medalhado é assistente operacional e trabalha na Fundação para a Ciência e Tecnologia. Sente-se triste "por não poder ser atleta a tempo inteiro", já que o que recebe por mês por ser atleta paralímpico está longe de chegar. É que em Portugal "não se vê o desporto para deficientes da mesma maneira que outros desportos", o que influencia o desempenho face aos adversários de outros países.
No entanto, não é por isso que Nuno deixa de acordar muito cedo, e de se deitar tarde, para poder conciliar os treinos e o trabalho. Nota-se que é uma pessoa de objetivos - as medalhas conquistadas são as primeiras a falar por ele, nesse campo - e o próximo é o campeonato do mundo.
Ouro, hino e lágrimas
"A primeira vez que fui campeão do mundo senti-me realizado e emocionado por pôr o hino a tocar por Portugal". Foi em 2007, em São Paulo, recorda o atleta.
Ricardo Abreu também é atleta, neste caso atleta guia, ou seja, acompanha Nuno em todos os treinos e provas. Fá-lo há três anos, altura em que deixou o seu percurso individual para começar os treinos específicos para exercer a sua tarefa. "É uma função muito gratificante e vivo as vitórias como se fossem minhas", diz com orgulho.
Já Nuno, refere-se a Ricardo sempre com um sorriso no rosto. Explica que o guia tem de ter um nível muito elevado para estar à altura deste tipo de desafio, mas não só: "também tem de ser um amigo. Nós passamos muitas horas por semana juntos e estar acompanhado por uma pessoa com quem temos boa relação é determinante".
"Nuno não é cego"
O Clube de Atletismo de Pedro Pessoa na Sobreda, em Almada, que este ano começa a época com 60 atletas, é o clube que Nuno escolheu para continuar a praticar desporto. Para Pedro Pessoa, presidente e treinador, "Nuno não é cego".
O responsável desportivo sublinha que há um trabalho diário para que o atleta tenha os melhores resultados possíveis. "Todos os exercícios que faço com os outros tento fazer com ele. Nunca o exclui. Uma vez fomos correr para a praia e eu disse-lhe logo que não fosse encostado a mim. Dei-lhe duas opções: ou vais para dentro de água ou vais para a areia seca. E deixei-o ir à vontade. Deixei-o livre".
"Não há mais cegos em Portugal? Eu treino-os!"
O treinador garante que não recebe qualquer apoio do Estado português por ter um atleta invisual. "Ter o Nuno no clube, ou não ter, é igual a nível de apoios". Mas não é isso que o trava, pelo contrário. O que o motiva é de tal ordem grande que não hesitou em aproveitar a reportagem do CM para deixar um convite: "Eu posso treinar mais cegos. Será que não há cegos em Portugal? Em Almada não há cegos? Não há miúdos? Eu aceito-os".
Campeão da Europa de 5 mil metros e vice-campeão de 1500 metros, Nuno recebeu o Prémio de Mérito Desportivo do Estado Português em setembro. O treinador, o atleta e o clube têm direito a um valor monetário cada um mas o presidente decidiu diferente, para melhor, entenda-se.
Pedro Pessoa deliberou, juntamente com a direção que o acompanha, que o dinheiro destinado ao clube será dividido pelos atletas guias, Ricardo Abreu e João Montes (outro guia que acompanha Nuno, mas apenas nalguns treinos). "Este prémio só nos é atribuído pelos prémios que o Nuno tem ganho. É igual para os atletas sem deficiência. Se não ganhasse, não recebia nada", justifica o presidente.
Mais esforço, menos apoio
O Comité Paralímpico de Portugal confirmou ao CM que o valor da bolsa de alto rendimento mensal, para atletas do escalão 1, como é Nuno Alves, é de 518€. Já o Comité Olímpico confirmou que um atleta olímpico, do mesmo escalão, recebe 1375€/mês. O mesmo desporto, os mesmos treinos e as mesmas conquistas. A diferença está, neste caso, nos menos 857€ a que Nuno não tem direito, simplesmente por... ser cego.
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