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Português, atleta, campeão e... cego

Conheça o invisual que leva o nosso hino ao atletismo mundial.

16 de janeiro de 2016 às 01:00

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Nuno Alves, Ricardo Abreu, Clube de Atletismo de Pedro Pessoa, Sobreda, Prémio de Mérito Desportivo do Estado Português, Comité Paralímpico de Portugal, Comité Olímpico de Portugal, campeonatos, medalhas, atletismo, desporto, deficiente, invisual, cego, história inspiradora
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Comité Paralímpico de Portugal
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É aceitável que o Estado valorize menos os paralímpicos?

Pergunta CM

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É aceitável que o Estado valorize menos os paralímpicos?

É cego desde os 17 anos, pratica atletismo há 20 e já conquistou sete medalhas de ouro em campeonatos do Mundo e da Europa. Nuno Alves começou a treinar quando saiu do campo para ir viver para a cidade. "Faltava-me um bocadinho de actividade física para libertar a adrenalina", contou ao CM o atleta natural de Tourém.

É na pista que Nuno se esquece que a cegueira o diferencia dos demais atletas. "A única coisa que penso é que tenho de ganhar aos outros e mais nada. Tento ouvir a informação do guia sobre os adversários e penso chegar à meta o mais rápido possível".

Com 40 anos, quando não está a correr, o medalhado é assistente operacional e trabalha na Fundação para a Ciência e Tecnologia. Sente-se triste "por não poder ser atleta a tempo inteiro", já que o que recebe por mês por ser atleta paralímpico está longe de chegar. É que em Portugal "não se vê o desporto para deficientes da mesma maneira que outros desportos", o que influencia o desempenho face aos adversários de outros países.

No entanto, não é por isso que Nuno deixa de acordar muito cedo, e de se deitar tarde, para poder conciliar os treinos e o trabalho. Nota-se que é uma pessoa de objetivos - as medalhas conquistadas são as primeiras a falar por ele, nesse campo - e o próximo é o campeonato do mundo.

Ouro, hino e lágrimas

"A primeira vez que fui campeão do mundo senti-me realizado e emocionado por pôr o hino a tocar por Portugal". Foi em 2007, em São Paulo, recorda o atleta.

Ricardo Abreu também é atleta, neste caso atleta guia, ou seja, acompanha Nuno em todos os treinos e provas. Fá-lo há três anos, altura em que deixou o seu percurso individual para começar os treinos específicos para exercer a sua tarefa. "É uma função muito gratificante e vivo as vitórias como se fossem minhas", diz com orgulho.

Já Nuno, refere-se a Ricardo sempre com um sorriso no rosto. Explica que o guia tem de ter um nível muito elevado para estar à altura deste tipo de desafio, mas não só: "também tem de ser um amigo. Nós passamos muitas horas por semana juntos e estar acompanhado por uma pessoa com quem temos boa relação é determinante".

"Nuno não é cego"

O Clube de Atletismo de Pedro Pessoa na Sobreda, em Almada, que este ano começa a época com 60 atletas, é o clube que Nuno escolheu para continuar a praticar desporto. Para Pedro Pessoa, presidente e treinador, "Nuno não é cego".

O responsável desportivo sublinha que há um trabalho diário para que o atleta tenha os melhores resultados possíveis. "Todos os exercícios que faço com os outros tento fazer com ele. Nunca o exclui. Uma vez fomos correr para a praia e eu disse-lhe logo que não fosse encostado a mim. Dei-lhe duas opções: ou vais para dentro de água ou vais para a areia seca. E deixei-o ir à vontade. Deixei-o livre".

"Não há mais cegos em Portugal? Eu treino-os!"

O treinador garante que não recebe qualquer apoio do Estado português por ter um atleta invisual. "Ter o Nuno no clube, ou não ter, é igual a nível de apoios". Mas não é isso que o trava, pelo contrário. O que o motiva é de tal ordem grande que não hesitou em aproveitar a reportagem do CM para deixar um convite: "Eu posso treinar mais cegos. Será que não há cegos em Portugal? Em Almada não há cegos? Não há miúdos? Eu aceito-os".

Campeão da Europa de 5 mil metros e vice-campeão de 1500 metros, Nuno recebeu o Prémio de Mérito Desportivo do Estado Português em setembro. O treinador, o atleta e o clube têm direito a um valor monetário cada um mas o presidente decidiu diferente, para melhor, entenda-se.

Pedro Pessoa deliberou, juntamente com a direção que o acompanha, que o dinheiro destinado ao clube será dividido pelos atletas guias, Ricardo Abreu e João Montes (outro guia que acompanha Nuno, mas apenas nalguns treinos). "Este prémio só nos é atribuído pelos prémios que o Nuno tem ganho. É igual para os atletas sem deficiência. Se não ganhasse, não recebia nada", justifica o presidente.

Mais esforço, menos apoio

O Comité Paralímpico de Portugal confirmou ao CM que o valor da bolsa de alto rendimento mensal, para atletas do escalão 1, como é Nuno Alves, é de 518€. Já o Comité Olímpico confirmou que um atleta olímpico, do mesmo escalão, recebe 1375€/mês. O mesmo desporto, os mesmos treinos e as mesmas conquistas. A diferença está, neste caso, nos menos 857€ a que Nuno não tem direito, simplesmente por... ser cego.

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