Odiado por adversários e amado pelos ‘dragões’, Paulinho Santos é talvez um dos mais polémicos futebolistas das últimas décadas. Aos 32 anos, prepara-se para arrumar as botas mas deve ficar no FC Porto, numa época em que o clube parece disposto a ganhar tudo o que houver
Aos 32 anos, porventura o mais polémico futebolista português da última década, prepara-se para dizer adeus aos relvados no final da temporada. O FC Porto-Sporting da última jornada marcará a despedida do jogador após onze anos consecutivos ao serviço dos ‘dragões’, ao longo dos quais arrecadou seis campeonatos (o sétimo está praticamente garantido), quatro Taças e quatro Supertaças.
Jogador polivalente (actuou em praticamente todas as posições na defesa e no meio-campo), Paulinho Santos não foi propriamente um jogador ‘tosco’, mas também não será recordado pelo seu virtuosismo dentro de campo. A sua imagem de marca foi sempre a capacidade de sofrimento e a entrega ao jogo, que tantas vezes o levou a ultrapassar os limites para azar de quem... lhe aparecia pela frente – que o diga João Pinto. Paulinho encarnou na perfeição o espírito guerreiro do dragão e por isso ainda hoje é idolatrado pelos adeptos ‘azuis-e-brancos’ e... odiado pelos adversários.
A infância difícil, no seio de uma humilde família de pescadores do bairro das Caxinas, em Vila do Conde, pode ajudar a explicar o seu carácter. Foi no Rio Ave (então na II Divisão) que nasceu para o futebol e após três épocas em Vila do Conde rumou às Antas. Estreou-se num Estoril–FC Porto (1-3), a 10 de Janeiro de 1992 e, desde então, somou 193 jogos no campeonato, 41 na Taça de Portugal e 57 nas competições europeias, apontando ao todo sete golos. Vestiu a camisola da selecção A em 30 jogos (marcou dois golos) e participou na fase final do Euro’96, em lnglaterra. As lesões ditaram um fim precoce da sua carreira. Aos 32 anos abandona cedo o futebol, depois de nas duas últimas temporadas (esta e a anterior) ter participado apenas em sete jogos, quase sempre como suplente utilizado. A SAD decidiu não renovar-lhe o contrato, mas deve permanecer no departamento de futebol portista num cargo ainda por definir.
PERDER, NEM ÀS CARTAS
Nas Caxinas, comunidade piscatória entre Póvoa de Varzim e Vila do Conde, os amigos mais próximos de Paulinho Santos já começaram a habituar-se à ideia que o jogador do FC Porto vai arrumar as botas, tanto mais que o antigo internacional “não é futebolista para se arrastar ou trocar de camisola”.
Uma ideia defendida por Sidónio Silva, comerciante de carnes que passa longas horas na tertúlia com Paulinho Santos, enquanto o antigo guarda-redes e companheiro de cartas, Maravalhas, reforça que “é a realidade”.
Este antigo guardião do Marítimo e Rio Ave, a quem José Maria Pedroto um dia chamou ‘Maravilhas’ – porque defendeu tudo o que havia para defender – sustenta que Paulinho Santos “já está a mentalizar-se” para deixar os relvados: “Custa deixar a carreira, ficamos tristes, mas é a realidade”, explica o companheiro de cartas no café Clave de Sol, onde juntamente com André, Vitoriano e tantos outros antigos futebolistas passa o tempo a jogar à loba, bisca de seis, rami e dominó.
Maravalhas recorda que Paulinho Santos já tentou dedicar-se à pesca – para descontrair – mas sustenta que o jogador do FC Porto “não tem vocação”.
Por isso, refugia-se no jogo das cartas, onde, à semelhança do que se passa com o futebol, o médio portista “não gosta de perder”.
Sidónio Silva sugere mesmo que nos jogos em que, se perdedor, tem que pagar o lanche, Paulinho Santos nunca acaba a sessão sem uma pequena discussão. Mas paga, claro.
As pessoas mais próximas do futebolista defendem que não é o durão que deixa transparecer dentro de campo, com Sidónio Silva a recordar situações já vividas no talho de que é proprietário, onde o jogador do FC Porto ao aperceber-
-se de alguém que está em dificuldades acaba por pagar a conta da carne: “É uma pessoa cinco estrelas”, elogia o amigo, enquanto Maravalhas concorda que dentro de campo Paulinho Santos “tem um temperamento completamente diferente”.
DURO DE ROER
O antigo guarda-redes diz que o facto de Paulinho Santos ter tido “uma infância de sofrimento” justifica a sua entrega ao futebol “a trezentos por cento”. O companheiro das cartas sustenta que “cá fora, não é que seja uma pessoa mole, mas é o contraste das quatro linhas”, acrescentando também que o desportista “é amigo e ajuda as pessoas”.
Maravalhas ainda se recorda quando o antigo capitão vila-condense Duarte deu as melhores indicações sobre Paulinho Santos ao técnico brasileiro Mário Julliato para o integrar nos seniores: “Havia boas referências do miúdo”, que pouco depois teve a sorte de trabalhar com Augusto Inácio, quando o agora treinador do Vitória de Guimarães passou pelo Rio Ave. Foi nesse clube que treinou com alguns jovens futebolistas emprestados pelo FC Porto, como Rui Jorge (Sporting), Bino (Tenerife), Jorge Silva (Santa Clara) e tantos outros.
TROCOU BARÇA PELO ‘TRI’
“Sinceramente, não perspectivava que fosse tão rapidamente para um clube da grandeza do FC Porto”, reconhece o antigo capitão Carlos Brito, falando do jogador. Concretizou-se assim um velho sonho de Paulinho Santos, que nunca escondeu ser portista, ao ponto de ter recusado jogar com camisola vermelha quando num torneio de futebol de praia a organização atribuiu à sua equipa equipamento com as cores do arqui-rival.
Ainda hoje, quando se perspectiva a retirada de Paulinho Santos dos campos de futebol, são muitos os convites para se manter no activo caso deixe o FC Porto. Mas, à semelhança do que aconteceu no passado, quando recusou um convite do Barcelona de Bobby Robson, o médio defensivo portista prefere continuar ao serviço dos dragões.
Na altura, o técnico António Oliveira fez sentir a Pinto da Costa que Paulinho Santos era imprescindível para a conquista do tricampeonato. O presidente portista acenou-lhe com a possibilidade de se juntar à equipa técnica quando terminasse a carreira de futebolista, promessa que poderá concretizar-se já na próxima época, tendo em conta o bom relacionamento que o ainda jogador mantém com o treinador José Mourinho.
BRINCALHÃO E REBELDE
Nos seus 50 anos, como funcionário do Rio Ave, o roupeiro e sapateiro António não se esquece do “malandreco” Paulinho Santos, que sempre procurava a brincadeira quando ia buscar as botas e o equipamento para treinar: “Gostava de brincar comigo”, recorda o ainda funcionário do emblema vila-condense, acrescentando de forma carinhosa que se tratava de um miúdo “um bocadinho rebelde, mas muito respeitador”.
Aos 71 anos, o senhor António nem quer acreditar que Paulinho Santos vai pendurar as botas – “É jogador para jogar mais uma época ou duas” –, sugerindo que atletas como ele fazem falta ao futebol: “Tudo estava certo quando lhe dava a roupa. Não era muito exigente”, lembra, acrescentando que o portista tinha “tanto de bom rapaz como de bom jogador”, revela este homem que durante boa parte da vida assistiu à evolução pessoal e profissional daquele que é um dos grandes símbolos dos melhores anos do FC Porto.
O agora técnico Carlos Brito, que chegou a ser capitão da equipa do Rio Ave quando Paulinho Santos subiu a sénior, sustenta que para um jogador de alta competição ainda é “um bocado cedo” abandonar o campo. No entanto, também concorda que “ninguém mais do que Paulinho Santos poderá ver se é ou não a altura ideal...”
Carlos Brito ainda recorda o jogador “frágil e magrinho, que disputava cada lance independentemente do opositor”. Um jovem futebolista com muito querer e vontade, como recorda o antigo capitão vila-condense, ao ponto de sugerir que “foi isso que fez com que vingasse no FC Porto”.
Passados todos estes anos, repletos das mais diversas conquistas quer a nível nacional como internacional por parte dos ‘dragões’, desmonta a imagem do jogador duro que sempre perseguiu o futebolista do FC Porto — “não tem nada a ver fora de campo” —argumentando que Paulinho Santos sempre foi uma “pessoa humilde e que cultivou as amizades”.
VARZIM SEM O ‘MAGRINHO’
As pessoas mais próximas de Paulinho Santos recordam em tom de brincadeira que o agora jogador do FC Porto trocou ainda em pequeno o Varzim pelo rival Rio Ave porque o treinador varzinista de então entendia que o rapaz “era muito magrinho”.
Chico Laranja, primeiro técnico de Paulinho Santos nos infantis do Varzim, lembra o miúdo “traquina, magrinho e atrevido, que não tinha corpo nenhum”. Uma desvantagem para o jovem futebolista, que estava prestes a mudar de escalão, pelo que o técnico varzinista entendeu que “iria ter dificuldades no confronto com outros miúdos com maior compleição atlética”.
Puro engano... Uma apreciação que custou ao emblema poveiro a perda do craque para o rival de Vila do Conde, onde Paulinho Santos bateu à porta à procura de um lugar. Os passos iniciais não foram fáceis para o candidato a médio, que começou como suplente na quarta equipa de captação. Mas quando foi necessário um lateral-direito avançou e agarrou a oportunidade.
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