Improvisou-se uma maca. O comandante da companhia pontapeou um rádio, que ficou desfeito em três...
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Furriel Miliciano Paraquedista, cumpri uma comissão de março de 1971 a maio de 1973 no Batalhão de Caçadores Paraquedistas nº 32 (’Famosa Gente à Guerra Usada’), 1.ª Companhia de Caçadores Paraquedistas , 4.º Pelotão (’Os Mercenários’), em Nacala, Moçambique, comandando a 3ª Secção ‘115’.
Estava em Mueda, Moçambique, no dia 14 de abril de 1971 quando fui informado que haveria uma reunião de graduados. Cheirava a operação, e ela apareceu no dia seguinte, 15 de abril de 1971. Seria a primeira das mais de 30 operações em que participei. A expectativa era muita mas a descontração também, o tempo que mediou entre o embarque no héli e o salto deste para o chão foi relativamente curto, mas pareceu uma eternidade. A largada foi feita perto de palhotas de onde vinham vozes.
Fizemos a aproximação e, espante-se… o "checa" apanhava, sem qualquer contacto com o IN (inimigo), três armas que haviam sido abandonadas na fuga. O final do dia aproximou-se sem qualquer novidade. Na hora de fazer o alto para dormir, apercebi-me que estava de facto num teatro de guerra quando o comandante de companhia me chamou, me entregou um saco e disse: "Vai às compras." Tratava-se de uma forma de me lembrar que eu era o sargento "checa" e tinha que ir armadilhar os trilhos. Aquilo que tantas vezes fizera em instrução tinha agora que ser feito sem falhar. O trabalho foi realizado e teve "frutos" durante a noite.
Outras operações
A 20 de abril de 1971 estávamos no alto para descansar quando, a exemplo do que havia acontecido durante todos os outros dias, começámos a ouvir aquele som típico da saída do nosso "amigo bocas", o 82. Nessas alturas a respiração era suspensa até se ouvir o rebentamento; outras saídas ecoaram e os rebentamentos davam-se cada vez mais próximos da nossa posição até que no silêncio ruidoso da mata se ouve chamar… "Enfermeiro, pessoal ferido na 3ª secção do 4º Pelotão."
O pretendido descanso estava terminado mas era preciso esperar pela manhã para termos uma imagem real do sucedido. Sabia-se que não havia baixas, mas tivemos sete feridos, dos quais o Cunha ("Russo") era o mais grave.
Mal rompeu o dia 21 de abril improvisou-se uma maca para transportar o Cunha; os outros, embora feridos, podiam deslocar-se, ainda que alguns precisassem de ajuda.
Seguimos por uma picada de pé posto para ser mais fácil e rápida a progressão com a maca e foi durante esta progressão que, no decorrer de um pequeno alto devido a uma flagelação na frente da coluna, assisti a uma ocorrência que marcou a minha comissão. O comandante da Companhia pontapeou um rádio, que ficou feito em três, proferindo as seguintes palavras: "Anda uma mãe a criar um filho para isto…", seguidas de um palavrão.
Todos os feridos foram evacuados, não tendo o Cunha resistido aos ferimentos. Este batismo levou-me a encarar o resto da minha comissão de um modo diferente.
Também houve momentos bem passados. Deixo-vos com um que teve lugar no meu Batalhão, em Nacala, onde depois de cada período operacional que tinha uma duração nunca inferior a dois meses, regressávamos para retemperar forças, teoricamente, durante um mês.
Neste curto período de tempo propus-me pôr de pé um grupo de teatro e levar à cena uma peça. Com o apoio de toda a Unidade, transformámos um ginásio que era fruído por meia dúzia de oficiais numa sala com um palco. Em simultâneo com as obras, à noite ensaiávamos. Apenas eu tinha experiência de palco, pelo que assumi um dos papéis principais e a direção de atores.
Ao 22º dia, a peça cómica em três atos de Barros e Silva, ‘O Grande Hotel de Sarilhos’, subia à cena, a 8 de setembro de 1972... Que nunca por vencidos se conheçam.
Nome
João Damásio Caldeira
Comissão
Moçambique 1971-1973
Força
batalhão de caçadores paraquedistas nº 32
* Info
70 anos, membro da ordem dos grifos
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