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Passeio pela montanha onde vive o lobo ibérico

Olhar para ele, para os olhos oblíquos do lobo, é só uma possibilidade, não uma promessa. Ainda assim, nunca se sabe... Afinal, é em território de ‘Canis lupus signatus’ – nome científico da subespécie de lobo ‘residente’ na Península Ibérica – que um grupo de ‘Homo Sapiens’ – nome científico da espécie humana – vai andar em passeio nos dias que se adivinham de fim-de-semana prolongado, com início na quinta-feira, 5 de Outubro.

01 de outubro de 2006 às 00:00

O ponto de encontro é Castro Laboreiro, freguesia do concelho de Melgaço, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, um dos últimos redutos do lobo ibérico em Portugal. Duas da tarde de quinta-feira são as horas de partida e quinze o número máximo de participantes no périplo organizado pelo Centro de Ecoturismo e Turismo Equestre da Serra da Peneda (Ecotura). Por último, mas não menos importante, trezentos são, estima-se, os lobos que sobrevivem em território português. 1700 vivem do outro lado da fronteira.

Mesmo que os não vejam, os ecoturistas vão ouvir falar deles, nomeadamente na noite de quinta-feira, quando, ao calor da lareira, lhes serão apresentadas fotografias inéditas da alcateia menos conhecida de Portugal: uma mãe loba com as suas cinco crias. “Pela primeira vez está documentada a existência de filhotes num grupo que até já se julgava extinto pela acção do veneno”, celebram Anabela Moedas e Pedro Alarcão, organizadores do ‘Fim-de-semana Natural’. Na mesma altura será projectado o documentário ‘A Vida Secreta dos Lobos’, sobre uma alcateia daquela montanha.

ANTES E DEPOIS

No século XIX os lobos eram numerosos em Portugal. Distribuíam-se por todo o território continental. Hoje estão confinados à região fronteiriça dos distritos de Viana do Castelo e de Braga, à província de Trás-os-Montes e a parte dos distritos de Aveiro, de Viseu e da Guarda. Não só a destruição de habitats e o extermínio de presas, mas, principalmente, a perseguição directa justificam o declínio.

É uma guerra antiga, a que opõe o Homem ao lobo, à qual a utilização pela Igreja Católica deste animal como símbolo satânico, inimigo do “rebanho de Deus”, não foi alheia. Quando, no século XXI, o Homem ensaia um regresso à Natureza, o lobo é de novo um símbolo, agora de sinal valorativo diferente. “Os lobos representam, mais do que qualquer outro animal, o lado selvagem e livre da vida, que perdemos e actualmente procuramos recuperar com um afã que apenas aumenta a artificialidade do que alcançamos. São eles que nos fazem sentir e ver o caminho de que nos desviámos”, sustenta o professor da Faculdade de Ciências de Lisboa e presidente do Grupo Lobo, Francisco Fonseca.

ACTIVIDADES

Mas nem só de lobos que farejam entre as giestas ou de fotografias da mãe loba com os seus lobachos passando de mão em mão se faz este passeio pela natureza. Na tarde de sexta-feira, os ecoturistas vão embrenhar-se no bosque e pôr-se à escuta de chilreios. Recorrendo a vocalizações previamente gravadas, o ornitólogo Miguel Cardoso tentará atrair as aves ao campo visual dos ‘iniciados’. O objectivo é que passem a conhecer as aves pelas respectivas vocalizações.

Outra ‘estrela’ deste passeio é o garrano, um cavalo que vem do fundo do tempo.

“É provavelmente um representante longínquo da fauna glacial do fim do Paleolítico”, assinala Anabela Moedas. De pequeno porte, em média 1,32 metros, o ‘Equus caballus’ de sua graça científica tem pelagem castanha, crina longa e escura e cauda comprida. É um cavalo perfeitamente adaptado à montanha. Foi domesticado há muitos séculos e assumiu papel importante no sistema de minifúndio do Noroeste português. Por pouco não desapareceu, vítima da mecanização da agricultura, nas primeiras décadas do século passado.

Na sequência da criação do Parque Nacional da Peneda Gerês, em 1970, o último grupo de garranos selvagens sobreviveu e multiplicou-se. Actualmente estão registados cerca de dois mil – 1500 adultos e 500 poldros –, “dispersos por dezassete concelhos e províncias do Minho e Trás--os-Montes”. Preservar esta raça de cavalos, uma das três autóctones da Península Ibérica, passa também pela demonstração de como, garantem Alarcão e Moedas, “pode ser fantástico um passeio na serra na companhia de um garrano”.

- 5 de Outubro (quinta-feira) 14h00 – Orientação por carta militar e GPS / 20h30 – Jantar e tertúlia lupina

- 6 de Outubro 10h30 – Iniciação aos cavalos e ao garrano como cavalo de sela / 14h30 – O canto das aves

- 7 de Outubro 09h00 – Ecosafari fotográfico / 17h00 – Passeio em noite de Lua cheia

- 8 de Outubro 12h30 – Almoço de despedida

PREÇO: 137 euros por pessoa, com três refeições incluídas; grupos de quatro ou mais pessoas têm 10% de desconto.

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