Não tem o carisma de Ayrton Senna nem a técnica de Alain Prost mas a realidade prova que Michael Schumacher é o melhor piloto de Fórmula 1 do Mundo. O facto de ter ganho pela quinta vez terceira consecutiva o galardão máximo do desporto automóvel quer dizer alguma coisa.
“Schumacher não é um piloto, é um canibal”. Foi desta forma explosiva que os jornais italianos fizeram referência à vitória do alemão no Grande Prémio de França, disputado no fim-de-semana passado, e que lhe permitiu arrecadar o quinto título de campeão mundial, igualando o recorde de Juan Manuel Fangio. Um feito que deixou Schumacher sem palavras, já que pela primeira vez na história da Fórmula1, o campeonato ficou decidido quando faltavam seis corridas para a grande final. Ainda emocionado, o penta campeão não quis deixar de prestar homenagem ao mítico piloto argentino: “Comparar-me ao Fangio não seria honesto. Aquilo que ele fez, em condições de segurança que nada tinham a ver com as de hoje, é simplesmente excepcional”.
Ao volante do bólide F2002, Schumi cortou a meta em primeira lugar, em oito dos onze Grandes Prémios (GP) já disputados, mas para o alemão a festa teria outro sabor se tivesse conquistado o título mais apetecível, na próxima semana, no circuito de Hockenheim, na Alemanha, frente aos seus conterrâneos.
Agora, para inscrever o seu nome nas páginas do desporto motorizado, como o melhor piloto de sempre, já só lhe falta ultrapassar o recorde de 65 pole positions, na posse do malogrado Ayrton Senna.
Uma marca que Schumacher trocaria de bom grado por outro título mundial. E tempo não lhe falta, já que o presidente da Ferrari, Luca Di Montezemolo, lhe propôs a renovação do contrato até 2006. Aos 33 anos, o alemão - residente na Suíça, casado com Corinna Betsch, pai de duas filhas (Gina Marie, de cinco anos, e Mick, de três) e embaixador da Unesco - colhe agora os frutos do trabalho realizado em seis anos, durante os quais ele próprio e Jean Todt, o estratega francês, revolucionaram por completo os métodos de trabalho da marca italiana.
Uma relação não isenta de críticas, já que o “pequeno Napoleão” (como é conhecido Todt) tem sido acusado de negligenciar os vários companheiros de equipa do piloto alemão. O exemplo mais flagrante teve lugar no GP da Áustria, quando o brasileiro Rubens Barrichello, isolado na frente, foi obrigado a deixar passar o actual pentacampeão, na última volta. Na verdade, a carreira de Schumacher ficará marcada por alguns episódios menos "claros". Os amantes da Fórmula1 não esquecem o “método” utilizado pelo alemão, aos comandos de um Benetton, na conquista do título de 1994 (o primeiro da sua carreira), adiado até à última corrida, na Austrália.
Com um ponto de vantagem sobre o inglês Damon Hill, Schumi sucumbiu à pressão e, revelando uma atitude “pouco desportiva”, abalroou Hill, tendo os dois abandonado a prova final. Nesse mesmo ano, ninguém perdoou a forma efusiva como festejou a vitória no Grande Prémio de San Marino, onde Ayrton Senna se despistou e veio a morrer. Os adeptos nunca esqueceram o seu sorriso no pódio. Já na Ferrari, em 1997, e numa tentativa desesperada de travar a vitória do canadiano Jacques Villeneuve, em Jerez de la Frontera, Schumacher não teve a mesma sorte de 1994 e foi afastado da corrida. Mais tarde, foi desclassificado pela FIA.
Mística ferrari
Sem se aperceberem da importância que um simples kart a pedais poderia vir a ter na vida dos seus dois filhos, Michael e Ralf Schumacher, o pai, Rolf e a mãe Elisabeth, acabaram por marcar a vida dos filhos, exímios pilotos de F1.
Nascido na humilde localidade de Hurt-Hermulheim, na Alemanha, no dia 3 de Janeiro de 1969, os tempos livres de Michael eram passados no Kart-Clube, da localidade de Kerpen-Horrem. Apesar de ter sido o mais novo membro e condutor de kart do clube, desde pequeno que se habituou a acumular títulos.
Depois de concluir o liceu, começou a trabalhar numa garagem de serviço, como aprendiz de mecânico, adquirindo conhecimentos extremamente úteis na consagração da sua carreira. Em 1987 ganhou o campeonato alemão e europeu de Senior Kart e deixou de encarar esta actividade como um simples hobby. Daí até aos volantes de um F3000 foi um passo, chegando a representar a Mercedes Junior Team, em 1990. Os bons resultados de Michael, bem como a sua qualidade técnica em condições meteorológicas adversas (o que explica o seu congnome, Rain Man), convenceram Eddie Jordan a levá-lo para o grande “circo” da Fórmula 1. O alemão estreou-se aos comandos do Jordan no GP da Bélgica e, apesar de nem ter conseguido acabar a corrida, foi “seduzido” pela equipa Benetton Ford, com a qual viria a conquistar o título de campeão mundial em 1994 e 1995, tornado-se no mais novo double champion de sempre.
Com a saída do francês Jean Alesi e do austríaco Gerhard Berger, a esperança da Ferrari voltar às vitórias renasceu com a chegada de Schumacher, em 1996. Pago a peso de ouro, as suas primeiras épocas não foram famosas, já que o Ferrari de Schumi não conseguia competir com o Williams de Villeneuve (em 1997) ou com os renovados McLarens, de Mika Hakkinen e David Coultard. Como se não bastasse, em 1999 despenhou-se numa curva traiçoeira no GP de Inglaterra e partiu a perna, o que o obrigou a ficar mais de três meses afastado. Só em 2000, já com o brasileiro Rubens Barrichello como colega de equipa, é que Michael consegue gerar uma onda de alegria entre os milhares de tifosi. Com o renovado F2001, projectado por Rory Byrne, as vitórias somam e seguem, e nesse mesmo ano renova o título de campeão. Sem mais nada para provar, que mais poderemos esperar de Schumi?
OS SEIS MAGNÍFICO
Juan Manuel Fangio:
a lenda
Fangio foi campeão em todas as quatro equipas em que correu: Alfa Romeo, Mercedes, Ferrari e Maserati. Quando o Mundial de F-1 teve início, em 1950, tudo indicava que o piloto, já então com 39 anos, faria apenas uma ou duas épocas. Fangio acabou por disputar oito temporadas, atingindo o seu quinto campeonato com 46 anos de idade. De Fangio (“El chueco”, o homem das pernas arqueadas), contam-se numerosas epopeias: o acidente que quase o vitimou em 1951, as velocidades vertiginosas do seu Mercedes, com o qual venceu sete das doze provas do Mundial de 1954, ou mesmo a prova de Nurburgring, em 1957 quando terminou com o motor a arder.
Jackie Stewart:
O conservador
Jackie Stewart guarda consigo uma frustração: nunca ter vencido GPs no Brasil e Áustria. «Durante a minha carreira, só não venci nestes dois países.» Nascido em 1939, o escocês estreou-se na F-1 em 1965, pela BRM, terminando a temporada em terceiro lugar. Ficou na equipa durante dois anos e ingressou na Matra/Ford, marca pela qual correu por três anos, encerrando a carreira na Tyrrel, em 1973. Em 99 Grandes Prémios disputados, venceu 27 e levantou a taça de campeão por três vezes (1969, 1871 e 1973).
Jack Brabham:
o virtuoso
O australiano foi o primeiro piloto a criar uma equipa sua e a sagrar-se campeão num carro com o seu próprio nome. Aconteceu em 1966. Em 1969, Brabham viu renascer as hipóteses de conquistar novamente o campeonato, mas um grave acidente durante uma sessão de treinos acabou com as esperanças do campeão. Em 1970, Brabham queria reformar-se, mas acabou por desistir da ideia e continuou a competir, vencendo os GPs da África do Sul e Mónaco. A corrida do México foi sua última prova. O piloto deixou a F-1 depois de 16 anos de competição e a vitória em dois GPs.
Niki Lauda: o gestor
Em 1970, Andreas Nikolaus Lauda era estrela da March, em Fórmula 2. No ano seguinte, chegou à F-1 e, em 1973 guiava ao serviço da Ferrari. Em 1975, cinco vitórias deram o primeiro título do austríaco. No ano seguinte, sofreu o seu terrível acidente em Hockenheim, durante o qual o capacete se partiu, obrigando-o a respirar fumos tóxicos e acabando por sofrer graves queimaduras. Em 1977 obteve mais um título mundial, mas no final da época, as relações entre o piloto e Enzo Ferrari, chegaram a um ponto de ruptura e o austríaco rumou para a Brabham. Em dois anos, Lauda ganhou apenas duas provas. Em 1982, aceita a proposta da McLaren e sagra-se tri-campeão mundial em 1984, ganhando a Prost apenas por meio ponto.
Alain Prost:
o professor
Não tinha o carisma de Senna ou a paixão de Jim Clark, mas foi um dos melhores pilotos de sempre. Em 1984 guiava pela McLaren. Os anos seguintes, apesar do campeonato (mal) perdido para Niki Lauda em 1984, foram de glória, ganhando dois títulos mundiais. A parceria com Ayrton Senna seria considerada a rivalidade mais polémica da F-1. A saída para a Ferrari revelou-se a pior decisão da sua carreira. Dois anos depois, era despedido pela marca italiana. Em 1993 regressava, ao volante de um Williams. Foi campeão pela quarta vez, mas decidiu abandonar a F-1.
Ayrton Senna:
O rei da chuva
«Ganhar é como uma droga, não encontro razão para me satisfazer com um segundo ou terceiro lugar», afirmou um dia o tricampeão mundial (1988, 1990 e 1991). Aos 26 anos, obteve a primeira vitória, ao serviço do seu Lotus, no Grande Prémio (GP) de Detroit, em 1985, debaixo de uma chuva copiosa. Mas foi ao volante de um McLaren que se viria a sagrar, pela primeira vez, campeão mundial, título conquistado no GP do Japão, igualmente sob uma grande chuvada. A 1 de Maio de 1994, morreu ao chocar contra um muro, a 300 km/hora, na curva Tamburello, no circuito de San Marino, em Itália. O Brasil chorava o seu maior ídolo de sempre.
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