Cenários exóticos, algemas, máscaras venezianas, orgias e sadomasoquismo estão entre as preferências nacionais.
Isabel (nome fictício) destaca-se entre as rendas, a lingerie sexy e o cabedal que descobre os vários corpos que circulam pela discoteca Indústria, no Porto. Há jaulas no meio da pista de dança, casais algemados a circular, chicotes e máscaras, numa profusão de almas ansiosas para concretizar o seu fetiche. Isabel é, esta noite, uma ousada mulher-polícia que atrai olhares por onde passa. O corpo escultural ajuda a tornar a máscara escolhida ainda mais provocante. Comprou a farda de propósito para a festa Qual é o teu fetiche? e a estreia deu nas vistas. "Escolhi hoje ser mulher-polícia porque gosto de mandar e de ser mandada. Todos os homens que usam farda têm autoridade e esse é o meu fetiche."
Carla, de cabedal com ligas, não revela o seu, mas promete concretizá-lo esta noite. "No meu dia a dia não posso ser aquilo que estou a ser hoje, uma mulher sexy e em total sintonia comigo mesma." Sérgio e Rita são casados, vieram algemados e souberam do evento "por intermédio de uma amiga que trabalha num motel". A maioria dos que abanam as fantasias ao som de clássicos como ‘You can leave your hat on' usam máscara para não serem reconhecidos entre os fetichistas da noite.
SADOMASOQUISMO
‘Fetiche é o desvio do interesse sexual para algumas partes do corpo do parceiro, para cenários ou locais inusitados, para fantasias de simulação (empregada doméstica, mecânico, secretária) ou para peças de vestuário, adornos' - lê-se no site da organização da festa. Ísis tem 20 anos e - conta a própria - trata o conceito por tu "há uns bons anos. Quando comecei nem tinha idade para essas coisas, mas brincar com bonecas aborrecia-me. Sempre gostei mais de castigar os meninos malcomportados e de lhes dar tarefas. Através da internet conheci uma comunidade de BDSM [Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo] e desde aí tenho estado envolvida, é um hobby interessante". Ísis, que se define como dominadora, apercebeu--se desde sempre ter tendências sádicas, mas só há dois anos teve o seu primeiro submisso.
"A relação durou algum tempo, mas entretanto acabei porque a mentalidade portuguesa não está preparada para este tipo de universo, e para mim é muito dispendioso, visto que o meu grande fetiche é sobretudo visual: os espartilhos, as botas e os sapatos de salto alto e o látex" Rececionista de um hotel e modelo em part-time, Ísis tem de puxar os cordões à bolsa para compor o armário com as peças que a transformam na dominatrix que tudo controla.
"Os vestidos de látex podem custar 200 euros, um bom espartilho também é caro, embora já tenhamos alguns modelos standard a preços mais acessíveis [100 euros]. Um dos últimos presentes que recebi custou à volta de 600 euros e era só uma máscara, umas meias liga e um cinto de ligas de látex" Sobre os parceiros, explica que nunca misturou "relações BDSM com relações baunilha". Isto é, "nunca tive sexo com submissos, para mim é algo que não combina. Viver o BDSM 24 horas por dia, sete dias por semana, não dá, sou de fases. Até hoje não atingi nenhum limite a ponto de dizer ‘não consigo mais fazer isto', a não ser quando, há cerca de um ano, recebi uma proposta de um homem que queria que eu lhe amputasse o sexo, não fui capaz". Em Portugal participou em várias The Gathering Party - que foram as festas eróticas mais conhecidas e divulgadas, mas é em Paris que é mais ativa no meio, pela diversidade de eventos fetichistas ao dispor da comunidade BDSM.
João (nome fictício) inscreveu-se num dos eventos da Purília, as festas sexuais mais exclusivas do País. Depois de um longo (e rigoroso) processo de seleção, os participantes reúnem-se em hotéis ou apartamentos de luxo na zona de Cascais, tão enigmáticos como quem neles participa. O local exato onde se realiza chega via SMS depois da seleção dos convidados. "Gostaria de estar com várias mulheres, no mesmo espaço, por uma noite. Mas como fantasia queria mesmo era que elas também quisessem estar comigo", confessa. Elsa e Paulo têm outro fetiche: "Queríamos ser observados por outras pessoas enquanto fazemos amor um com o outro", revelam. Mariana e André têm vários desejos por realizar. "Recebermos alguém num quarto de hotel, com a Mariana de olhos vendados e algemada de modo a que se percebesse que estavam pessoas no quarto que a estavam a apreciar longamente e a falar sobre a beleza dela e que depois seria tocada, beijada e acariciada alternadamente e em conjunto pelas pessoas que estavam no quarto, voltar aos tempos de colegial com direito a uniforme e toda a parafernália que este desejo sexual permite, sexo com uma celebridade e froteurismo [sexo sem penetração]" são alguns dos demais fetiches do casal.
TODAS AS PROFISSÕES
Às orgias da Purília juntam-se pessoas de todas as profissões. Pilotos, atores, empresários de topo, diretores de empresas, bancários, agentes GOE, médicos, advogados, professores, consultores, gestores, mediadores de seguros, informáticos, instrutores de musculação, cabeleireiras e designers - entre as mais diversas áreas.
Todos têm por parte da organização a garantia da máxima exclusividade e anonimato. Importante é respeitar o ‘dress code' - a ideia é criar um ambiente de gala e por isso pede-se aos ‘convocados' que vão vestidos com roupas de cerimónia, para que o sexo se passe num ambiente de glamour e luxúria. Joana gostaria de "ter prazer no meio de muita gente". Carlos sonha ser aceite "numa festa de máscaras com desconhecidos à deriva dos impulsos eróticos. Perder a cabeça, deixar-me excitar e fazer amor com uma mulher usando um strap-on [pénis artificial]". Luís, cujo maior fetiche é ver a mulher ser possuída por outro homem enquanto possui a mulher dele, "perdia a cabeça com sexo ao ar livre numa praia deserta".
Filipe tem várias vontades, vale tudo. "Na cama, na praia, no carro, no meio de um parque, no cinema, na minha mesa de trabalho; com ele, com ela, com eles." Pedro e Elisa são "um casal jovem e aberto a novas experiências. Corpos entrelaçados, gemidos de prazer, luz de velas e veludo púrpura são cenários que nos transportam e fascinam". Rodrigo tem muitos fetiches por concretizar: "Todos eles ligados ao sexo com glamour, saltos altos e lingerie. Gostava de participar numa ménage à trois e numa orgia. No caso do sexo a três, dava preferência a ter experiência com duas pessoas do sexo feminino." Marisa não tem nenhuma fantasia que não esteja concretizada. A preferência passa por "fazer sexo com dois homens num ambiente de velas vermelhas e fatos de cabedal", conta.
Cristina vai mais longe: "Sou aberta a tudo e tenho uma sexualidade bastante saudável. Procuro constantemente realizar as minhas fantasias e sintonizar corpo e mente para aquilo que desejo. Já realizei sexo a três com outra mulher e, embora me considere heterossexual, foi uma experiência que mexeu comigo, me libertou e conduziu a uma nova forma de viver a minha sexualidade. Gostava de ter relações sexuais com mulheres de cada um dos continentes." Fazer sexo num elevador público com duas mulheres é o fetiche de Diogo e no WC público - as Gathering Party chegaram a organizar as festas Estranho na casa de banho "dirigidas a todos os homens com vontade de serem vendados, manietados, amordaçados e conduzidos ao WC das senhoras [um de cada vez]. Lá, permaneciam presos por uma trela e coleira, e à inteira disposição das senhoras que porventura utilizassem o WC. Findo esse período, saía um ‘escravo' e entrava novo ‘escravo'". Não é o que pretende Bernardo. "Gostava de sexo no provador de uma loja com a empregada e com uma cliente." Não diz se é ao mesmo tempo, mas é possível que seja. Enquanto isso, Catarina e Miguel, um casal de namorados de longa data, sonham ter "relações sexuais com uma mulher loira que tivesse entre 40 e 45 anos e que fosse perfeita no aspeto físico", enquanto Maria preferia ser o centro das atenções "no meio de um quarto rodeada de pessoas, todas elas mascaradas e vestidas", e só ela "despida, mas com máscara, para ser iniciada num ritual profano" e Marina gostava de concretizar o fetiche de estar simultaneamente com "dois homens gémeos" na mesma cama. A acreditação para o próximo evento de verão da Purília, o Eyes Wide Shut (o mesmo nome do filme protagonizado por Tom Cruise e Nicole Kidman) - que se vai realizar a 1 de junho (começa às 16h00) e termina no dia seguinte às 07h00 -, já está em curso. "Todas as nossas festas são realizadas em ambiente de extrema luxúria, glamour, dando acesso a um outro nível de eventos, únicos e exclusivos em Portugal e na Europa", promete a organização. Daniela já percorreu várias festas de cariz sexual no estrangeiro, mas espera em junho ser aceite para participar na orgia da Purília. "Eu sou uma mistress - como forma de vida, não sou atriz nem presto serviços - e gostaria de levar o meu private slave [escravo particular]."
MEDO DE ASSUMIR
"Mais do que medo de assumir os fetiches, creio que as pessoas têm receio (não infundado) do que lhes pode acontecer (profissionalmente e pessoalmente) se os seus gostos sexuais forem divulgados além do seu controlo mais imediato - em grande parte pelo contexto social, que tende ainda a patologizar, hostilizar e tratar como estranhas ou diferentes as pessoas que têm estes ou aqueles gostos sexuais", explica Daniel Cardoso, adepto do poliamor e investigador. Por isso, preferem concretizá-los no segredo do quarto, dentro de comunidades que se assumem como fetichistas ou em festas como as da Purília.
"A maioria das pessoas tem dificuldade em compreender que aquilo que fazem sexualmente será repulsivo para alguém e que alguma coisa que os repele sexualmente é o maior tesouro prazeroso para alguém, em algum lugar. Uma pessoa não precisa de gostar ou fazer um ato sexual particular para que este ato seja reconhecido pelo desejo de outros, e que esta diferença não indica a falta de bom gosto, saúde mental ou inteligência em qualquer uma das partes. A maioria das pessoas equivoca-se ao posicionar as suas preferências sexuais como um sistema universal que vai ou deveria funcionar para todos", referiu o antropólogo sexual Gayle Rubin, numa tese intitulada ‘Pensando o Sexo: Notas para uma Teoria Radical das Políticas da Sexualidade'.
António fantasia "sexo num cinema pornográfico, numa igreja, num castelo e dogging [sexo num local público, misto de voyeurismo e exibicionismo]. Swing [troca de casais] já não é uma fantasia, mas mexe ainda comigo. Estou a um passo de conseguir que a minha namorada faça sexo com outra pessoa [mulher ou homem] ou casal, comigo a ver e a participar, que é o meu fetiche. Sem tabus e com humor e sensualidade", partilha um dos habitués das festas da Purília. Aos amigos e à família não confessa, mas as paredes do quarto e a companheira são testemunhas dos fetiches que ainda tem por concretizar.
OS FETICHES (POUCO) SECRETOS DAS CELEBRIDADES PELO MUNDO
Jack Black tem uma verdadeira adoração por pés. Scarlett Johansson já confessou que gosta de fazer sexo no banco de trás do carro e Eva Longoria acha sexy estar amarrada durante o ato sexual. Em 2006, o ator Nick Lachey contou numa entrevista que sentia prazer ao andar pela casa com os sapatos da ex-mulher Jessica Simpson. Lady Gaga adora ser mordida e tem um guarda-roupa inteiro de peças fetichistas, e Bernie Ecclestone, CEO da Fórmula 1, tem um fetiche com mulheres vestidas de enfermeiras.
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