Influenciar os outros pelo estilo ou pela arte está na origem de uma exposição que elegeu as cem figuras mais 'cool' de sempre.
Ser-se ‘cool' é difícil. Manter-se ‘cool' é ainda mais complicado. O fascínio em torno da palavra tem alimentado tendências culturais em todo o Mundo, mas os holofotes viram-se para os Estados Unidos, terra do jazz e da música pop, mas também do cinema e da fotografia artística. Por isso, a prestigiada National Portrait Gallery, de Washington, elegeu as cem figuras que melhor traduzem a arte de ser ‘cool', numa exposição recém-estreada de retratos cuidados, patente até setembro. Estão lá Tom Waits e Jimi Hendrix, Steve McQueen e Billie Holiday, mas também os mais contemporâneos Bruce Springsteen, Benicio del Toro, o fundador da Apple, Steve Jobs, ou David Byrne. Afinal, o que têm todos em comum?
"Ser-se ‘cool' é o maior bem cultural americano para exportação", diz a diretora da National Portrait Gallery, Kim Sajet, para justificar a mostra que demorou cinco anos a ser preparada. Para lá dos múltiplos sentidos do termo, a seleção das figuras que constam na exposição teve por base a "originalidade de uma visão artística e especialmente um estilo de assinatura", além de uma "rebelião cultural, ou transgressão em determinado momento histórico". Bem como "um certo nível de reconhecimento" e um "legado cultural de mais de uma década".
O Dicionário de Oxford diz que ‘cool' é um adjetivo que se refere a algo ou alguém "atraente" e "que está na moda". Já o crítico Mike Vuolo, na revista ‘Slate', vai mais longe e clarifica que "na sua simplicidade, ‘cool' não é nem muito quente nem muito frio, e é com este sentido que a palavra começou a ser utilizada na língua inglesa a partir do holandês e do alemão".
O termo tem séculos - ainda antes do ano 1600, Shakespeare, por exemplo, recorre a ele em obras como ‘Sonho de uma Noite de Verão' - mas o sentido que prevalece desde os finais do século XIX tem na sua génese a comunidade afro-americana e ganhou um enorme impulso nos anos de 1940, com a ascensão do jazz. Ser-se ‘cool' foi uma resposta às rápidas mudanças da modernidade. O lendário saxofonista Lester Young é considerado um dos seus mentores quando, nas suas atuações, exclamava: "Eu sou cool!" Algo que remetia para rebeldia e uma descontração face aos constrangimentos sociais. Em 1947, Charlie Parker edita o álbum ‘Cool Blues' e o trompetista Miles Davis, pouco adepto do estilo vigente, lança, dois anos depois, ‘The Birth of the Cool', abrindo definitivamente as portas para o ‘cool jazz'.
ÍCONES DE A A JAY-Z
Foi com rapidez que a arte de ser ‘cool' explodiu do jazz para o ‘film noir' e de gangsters, seja nas gabardinas e nos cigarros ao canto da boca de Humphrey Bogart, ou na imagem mais austera de James Cagney. No cinema cómico, Buster Keaton também é lembrado por marcar, sem falar, em filmes como ‘Pamplinas Maquinista' (1926).
Nesta lista de cem nomes, apenas um quarto são mulheres. Estão lá as divas do cinema Greta Garbo, Barbara Stanwyck e Lauren Bacall, mas também a mais doce e excêntrica Audrey Hepburn, que se tornou ícone ‘cool' em filmes como ‘Boneca de Luxo' (1961). Na música, e de novo no jazz, Billie Holiday e Anita O'Day representam o género. Mais à frente, no pop-rock mais psicadélico, consta a platinada Deborah Harry, dos Blondie, e Patti Smith. A inevitável ‘rainha da pop' Madonna emerge com um visual de início de carreira e ainda aparecem as atrizes Susan Sarandon, Faye Dunaway, pelo seu registo em ‘Bonnie & Clyde' (1967), ou a escritora Susan Sontag.
Olhar para os rostos ‘cool' do último século é também uma forma de contemplar a história popular americana. O escritor Ernest Hemingway, o rei dos musicais Fred Astaire e o mestre do swing Frank Sinatra são escolhas óbvias. Nos anos de ouro de Hollywood, além do
sex-symbol James Dean, que engrandeceu após a morte, referem-se Paul Newman, inesquecível em filmes como ‘A Vida é um Jogo' (1961), além de Marlon Brando, ou Jack Nicholson. O veterano dos westerns John Wayne surge à prova de bala.
O nome maior da soul James Brown surge lado a lado com o mestre dos blues Johnny Cash, além do mítico Elvis Presley, que instituiu um estilo musical mas também inspirou na forma de vestir e de pentear. Sem esquecer Bob Dylan, que imortalizou temas como ‘Like a Rolling Stone', o excêntrico Prince ou o nome do grunge Kurt Cobain, líder dos Nirvana que morreu prematuramente. Há espaço ainda para os pintores Jackson Pollock, Andy Warhol e Basquiat, o comediante inconveniente Lenny Bruce, o autor de policiais Raymond Chandler ou o defensor dos direitos dos negros Malcolm X.
Agora, segundo a National Portrait Gallery, a noção de ‘cool' está mais próxima do rock maduro de Bruce Springsteen, do ar descontraído e desafiante de Johnny Depp, da ironia do apresentador Jon Stewart ou das rimas do rapper Jay-Z. O curador Joel Dinerstein, também professor universitário da disciplina História do ‘cool' na América, referiu sobre esta exposição: "Ser-se ‘cool' é um conceito americano. Vem da cultura, da classe média e da capacidade de se criar uma nova ‘persona'. É uma singular auto-identificação."
AMOR-ÓDIO
Neste caso são cem nomes, mas podiam ser muitos mais - há mesmo já quem questione as ausências de vultos como Janis Joplin, Louis Armstrong ou George Clooney.
Ao jornal ‘The Telegraph', Dinerstein clarificou a ideia de que os cem nomes são apenas uma amostra e que as escolhas também se jogam em amor-ódio: "Há pessoas nesta lista que desejava que não estivessem, mas a cultura elevou-as ao nível de ‘cool'. O meu exemplo é Quentin Tarantino. Não gosto dos seus filmes nem gosto dele. Mas é inquestionável a influência global tanto na arte como no cinema e junto de alguém com menos de 40." Os anos passam e a noção de ‘cool' parece não envelhecer. Ganha é novos rostos.
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