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Conservas vendidas em todo o mundo

A indústria conserveira em Portugal é um verdadeiro caso de sucesso. Para além de conseguir produzir o suficiente para abastecer o mercado nacional, ainda consegue exportar 60% dos produtos, ou seja, 35 mil toneladas/ano. O que resulta num saldo positivo da balança comercial de 45 milhões de euros. A maioria das conservas é exportada para a França, Reino Unido e Itália.

29 de junho de 2011 às 00:30

Das 70 mil toneladas de peixe transformado por ano, 40 mil são dos três maiores recursos: sardinha, cavala e atum, de origem nacional. Cerca de 80% das conservas de sardinha são exportadas. As conservas de cavala também têm como principal destino o mercado exterior. Já as conservas de atum são, na sua maioria, consumidas no mercado interno.

Actualmente, há 20 fábricas em laboração, que produzem 58 500 toneladas de conservas de peixe. Em Matosinhos, ainda resistem quatro indústrias conserveiras. A empresa La Gondola, cujo nicho de mercado é o gourmet, foi criada em 1940. É uma das quatro fábricas de conservas resistentes no concelho. O proprietário, Paulo Dias, está a dar sequência ao trabalho do pai. "Trabalhamos peixes frescos. A sardinha é entre Junho e Dezembro, e produzimos 400 toneladas por ano. A cavala, entre Abril e Outubro, dá para 600 toneladas por ano. Em alguns anos conseguimos matérias-primas de qualidade, noutros sentimos mais dificuldade. Usamos peixe fresco, seguimos métodos tradicionais antigos: por exemplo, todos os peixes são pré-cozidos e só depois cortados e enlatados", explica.

A fábrica consegue produzir diariamente seis toneladas de sardinhas e outras seis de cavala. "Mais de 90% é para exportação. Os restantes 10% são para agentes nacionais, que vendem para outros países", diz. Vende para Itália, Bélgica, Canadá, EUA, Grécia, Espanha, França, Alemanha, Suécia, Finlândia, Japão, Chipre. "Somos diferentes em algumas preparações, como nas ovas de sardinha, patês de peixe sem farinhas nem fécula de batata", exemplifica. A diferença também se prende na tradição, pelo que o proprietário prefere não pensar na massificação. "Nasci dentro de uma fábrica de conservas, estive ligado a isto desde que nasci, é acima de tudo uma paixão".

BALANÇA FAVORÁVEL

A produção de conservas, por espécies, é de 48% sardinha, 27% cavala, 24% atum e 1% para todos os outros tipos. Em 2010, foram importados 79 milhões de euros de conservas de peixe, dos quais 46 milhões eram de atum, nas marcas brancas da grande distribuição. Em contrapartida, foram exportados mais de 123 milhões de euros.

"CONSERVAS SÃO PRODUTO NATURAL": Isabel Tato, Directora Dep. Técnico-científico da ANICP

CM – Como define as conservas nacionais de peixe?

Isabel Tato – As conservas de peixe são um produto natural, económico, conveniente, pronto, fácil de utilizar e versátil na sua utilização.

– Qual é a importância da indústria conserveira no emprego?

– Há comunidades que têm na indústria conserveira a principal e mesmo única fonte de subsistência. E é uma indústria que utiliza fundamentalmente mão-de-obra feminina, que é a mais atingida pelo desemprego.

– Quais são os principais países para onde exportamos?

– Os principais mercados são França, Reino Unido, Itália e Benelux. Mas também vendemos para América, China, Filipinas, Austrália e selva do Peru. Exportamos para todo o lado.

INDÚSTRIA EMPREGA 5 MIL EM PORTUGAL

A La Gondola tem cerca de 60 funcionários, 22 dos quais estão na linha de produção. Ao contrário do que é habitual, o responsável pela fábrica é um homem.

"A tradição é serem as mulheres a trabalhar nas conservas. Enquanto os pescadores iam ao mar, as mulheres ficavam nas fábricas. A grande maioria delas trabalha aqui há vinte anos. Temos muito pouca gente nova. Não é um trabalho muito agradável, e é considerado um trabalho menor, mas alguém tem de o fazer", diz Joaquim Araújo.

Já a responsável pela produção é uma mulher, que trabalha na empresa há trinta anos. "Não noto dificuldades neste trabalho. Quem quer aprender não espera. As minhas irmãs trabalhavam nas conservas, o meu pai era pescador e a minha mãe vendia peixe", diz Albina Leal. "As pessoas mais novas não querem aprender nem trabalhar nem ser mandadas. Só querem um emprego", lamenta.

A indústria de conservas portuguesa utiliza maioritariamente matéria-prima nacional e exporta há mais de cem anos para todos os continentes.

A frota e a indústria de conservas de peixe representam cinco mil postos de trabalho, 95 por cento dos quais são ocupados por mulheres.

O principal recurso utilizado e exportado pelas fábricas conserveiras é a sardinha. A indústria conserveira absorve entre 40 a 50 por cento da sardinha capturada pela frota do cerco.

MENOS MAS MELHOR

A reestruturação no sector, com o encerramento de várias fábricas, levou, segundo Isabel Tato, a unidades "com maior dimensão e robustez, tornando-se económica e financeiramente mais sólidas".

Segundo a responsável da ANICP, "o sector produz actualmente mais e melhor, com um menor número de unidades industriais".

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