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Trucidados pelo comboio

Marcos Rosa, 35 anos, ficou decapitado. Carla Lopes, 27 anos, faleceu momentos após o atropelamento. <br/>

14 de dezembro de 2009 às 00:30

O comboio que partiu do Cais do Sodré para Cascais, às 04h30, era o primeiro do dia. E à mesma hora saíam juntos da discoteca BBC, em Belém, 15 colegas da Tabaqueira – isto na noite em que celebraram a festa de Natal da empresa. Tinham os carros junto à Cordoaria Nacional (CN), do outro lado da linha do comboio – e optaram pelo caminho mais curto. Todos atravessaram a via férrea que corta ao meio as avenidas Brasília e da Índia. Os primeiros passaram sem problemas – mas Marcos Rosa e Carla Lopes, 35 e 27 anos, respectivamente, ficaram para trás e foram colhidos mortalmente. O comboio que sete minutos antes saíra do Cais do Sodré trucidou-os junto à CN.

As vítimas mortais foram colhidas quando o comboio circulava a uma velocidade compreendida entre os 80 e os 100 km/h, em linha recta. Marcos Rosa, engenheiro da área logística da Tabaqueira, casado e com dois filhos menores, de 3 e 5 anos, foi decapitado. O corpo ficou despedaçado.

Carla Lopes, 27 anos, solteira e sem filhos, natural das Caldas da Rainha e colega de Marcos na mesma secção da Tabaqueira, foi apanhada já à saída da via férrea. Ambos os corpos voaram após o impacto, tendo caído a cerca de 30 metros do local do atropelamento.

O socorro do INEM foi rápido a chegar ao local. Carla ainda respirava quando foi assistida pelos técnicos, mas acabou por falecer momentos depois do atropelamento.

Apesar de terem, a cerca de 400 metros de distância do local do atropelamento, duas passagens pedonais que lhes permitiria atravessar com segurança, os 15 colegas optaram por atravessar a via férrea. Apesar de ter alegadamente visto o atravessamento do grupo, o maquinista já não conseguiu travar o comboio a tempo. A Divisão de Segurança em Transportes Públicos da PSP investiga as causas desta tragédia na linha do comboio.

272 MORTOS NA VIA-FÉRREA EM APENAS CINCO ANOS

O relatório anual de segurança em transportes ferroviários revela que em 2008 morreram 42 pessoas em acidentes com comboios. Os números não contemplam suicídios – 50 no total do ano passado. O documento elaborado pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres revela ainda que entre 2004 e 2008 morreram 272 pessoas trucidadas por comboios. 2004, com 72 vítimas, foi o ano mais trágico.

IDENTIFICADO PELO CUNHADO

Tanto a PSP como o INEM verificaram, ainda no local do acidente, que o cadáver de Marcos Filipe Calvo Rosa não tinha quaisquer documentos identificativos. Os restos mortais do engenheiro da empresa Tabaqueira foram transportados para o Instituto de Medicina Legal (IML) de Lisboa e, só ao final da manhã de ontem, é que o corpo foi identificado. Um cunhado, irmão da mulher de Marcos, reconheceu o corpo do engenheiro, fornecendo, ele próprio, os dados necessários aos serviços do IML.

'NÃO VEIO PARA CASA POR CAUSA DA FESTA DE NATAL'

Francisco Romão é padrasto de Carla Patrícia Lopes, 27 anos, uma das vítimas do atropelamento trágico de ontem na Avenida da Índia, em Lisboa. A reportagem do CM encontrou-o destroçado, e sem certezas sobre o que terá levado a jovem, na companhia dos amigos, a pular a vedação da via férrea, em vez de usar duas passagens pedonais situadas a curta distância.

'A polícia disse-nos que ignoraram a passadeira aérea e atravessaram numa zona proibida. Os colegas que iam à frente passaram sem problemas, mas os dois [Carla Lopes, e a outra vítima, Marcos Rosa] ficaram mais para trás e foram apanhados pelo comboio', recordou.

O familiar de Carla Patrícia Lopes contou ao nosso jornal que a jovem, natural de Santarém e residente nas Caldas da Rainha, é engenheira química de formação e trabalhava na empresa Tabaqueira há ano e meio.

'Por causa da festa de Natal, ela não veio a casa este fim-de-semana', recordou Francisco Romão.

Por sua vez, amigos e conhecidos de Marcos Filipe Calvo Rosa, engenheiro de 35 anos, ficaram igualmente surpreendidos com a notícia.

O CM esteve ontem no lote 7 da rua Shegundo Galarza, na Alta do Lumiar, em Lisboa, onde Marcos, a mulher, um filho de cinco anos e uma filha de apenas três residiam.

Dois vizinhos relataram-nos que o casal se mudou para aquele prédio há cerca de cinco anos e que tinha uma rotina de trabalho.

'Raramente os víamos, mas os dois eram sempre muito educados. O Marcos era engenheiro e a mulher é farmacêutica. Apesar de não ser muita a conversa, trocávamos sempre palavras. É uma tragédia', recordaram ambos.

AUTÓPSIAS SERÃO FEITAS AMANHÃ

O CM apurou que as autópsias de Marcos Rosa e Carla Lopes devem ser realizadas apenas amanhã. Os corpos das duas vítimas foram recolhidos do local do acidente pelas 05h50 e entregues no Instituto de Medicina Legal de Lisboa, onde foram reconhecidos por familiares, e serão autopsiados

OUTROS CASOS

CIU NA LINHA 

Um homem, de 40 anos, caiu na linha e foi colhido pelo comboio, entre Sacavém e Bobadela, em Agosto deste ano. O acidente ocorreu às 18h00 e causou a interrupção por algum tempo da circulação ferroviária na Linha do Norte.

IDOSA COLHIDA

Uma mulher, de 69 anos, morreu trucidada por um comboio na Linha do Norte, em Bencanta, freguesia de São Martinho, Coimbra, em Junho deste ano. O atropelamento ocorreu pelas 15h30. A vítima residia num lar situadonaquela zona de Coimbra.

MÃE E FILHA

Duas mulheres – mãe e filha, de 81 e 54 anos – foram colhidas por um comboio de passageiros, na Linha do Oeste, entre o Bombarral e São Mamede, em Julho passado. As autoridades concluíram que se tratou de um duplo suicídio.

NOTAS

COMBOIO: COMPOSIÇÃO FATAL

A ligação ferroviária da CP entre Lisboa e Cascais começa sempre, aos fins-de-semana, com um comboio que parte do Cais do Sodré às 04h30. Foi esta a composição que matou Marcos e Carla

INEM: MARCOS FOI DECAPITADO

Fonte do Instituto Nacional de Emergência Médica disse ao ‘CM’ que o cadáver de Marcos Rosa foi o que mais maltratado ficou no acidente de ontem. A cabeça separou-se do resto do corpo

CIRCULAÇÃO: NÃO HOUVE CORTE

O reduzido número de comboios que atravessa a linha Lisboa-Cascais ao princípio das manhãs de domingo levou a que o acidente não obrigasse ao corte da circulação ferroviária na linha

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