Criança tem estilhaços alojados no cérebro. A mãe grávida, o avô e os dois irmãos morreram no ataque.
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Amr al-Hams, um menino de três anos, tem estilhaços alojados no cérebro desde um ataque israelita à tenda da família, no norte de Gaza. A mãe grávida, o avô e os dois irmãos morreram, deixando a criança ao cuidado do pai e da tia.
Agora, o menino vive deitado numa cama de hospital, sem conseguir falar, nem se mexer e a perder peso, enquanto os médicos não têm o material necessário para tratar a lesão cerebral e ajudar na reabilitação, devido ao bloqueio de ajuda humanitária e bombardeamentos constantes, avança a agência AP.
Amr al-Hams foi recentemente tirado da unidade de cuidados intensivos, mas o menino continua a contorcer-se de dores. Os olhos grandes vagueiam o quarto à procura da mãe, acredita a tia do menino. Amr não consegue falar, mas Nour al-Hams acredita que ele está a tentar dizer "mãe".
"Estou a tentar o máximo. É difícil", disse a tia, que é agora a principal cuidadora da criança, sentada ao lado de Amr no Hospital Nasser em Khan Younis, no sul de Gaza. "O que ele está a viver não é fácil", desabafou Nour.
"Enquanto estiver em Gaza, não há cura para ele": Menino de três anos luta pela vida desde ataque israelita
Uma jornada fatídica para norte
Em abril, uma semana antes da data prevista para o parto, a mãe de Amr, Inas, persuadiu o marido a visitar os pais no norte de Gaza. E assim fizeram.
A família estava reunida a jantar quando a região foi atacada por Israel. Inas, o avô, o irmão e a irmã de Amr perderam a vida.
Amr foi de imediato transportado para o maior hospital no norte de Gaza, onde os médicos detetaram estilhaços no cérebro e redução da capacidade cerebral. "Ele tem três anos. Porque é que haverá de suportar o peso de um míssil?", questionou a tia.
Amr precisava de reabilitação avançada, mas, enquanto o menino estava internado, as forças israelitas atacaram o hospital, danificando as torres de comunicação, o abastecimento de água e uma das alas hospitalares. Todos os pacientes tiveram de ser transferidos para o Hospital de Shifa, na cidade de Gaza.
No entanto, esta unidade hospitalar estava sobrecarregada e a equipa médica pediu à família para levar o menino para sul, mesmo sem haver ambulâncias ou tanques de oxigénio disponíveis.
O pai e a tia tiveram de levar Amr, que tinha acabado de sair da unidade de cuidados intensivos e tinha o tubo de respiração ainda na garganta, num veículo motorizado semelhante a uma carroça, para o Hospital Nasser, a 25 quilómetros de onde se encontravam.
A criança esteve com dores a viagem inteira, os níveis de oxigénio baixaram e Amr perdeu a consciência várias vezes. "Estávamos a ler o Alcorão ao longo de toda a estrada", disse a tia, rezando que o menino sobrevivesse à viagem atribulada sem assistência médica.
Amr chegou a Nasser com os níveis de oxigénio no sangue tão baixos que teve de ser readmitido nos cuidados intensivos.
O hospital não consegue dar a ajuda necessária à criança. Devido à falta de alimentos intravenosos, tanto na unidade hospitalar como nos mercados, Amr perdeu cerca de metade do peso.
Depois de sair dos cuidados intensivos, Nour, que estudou enfermagem, ficou encarregue de administrar a medicação ao sobrinho e alimentá-lo. A tia esmaga arroz ou lentilhas numa pasta e dá-lhe de comer através de uma seringa num tubo conectado ao estômago. "Há fome em Gaza. Não há nada para comer", disse a tia.
A falta de tratamentos terá efeitos fortes a longo-prazo para Amr. O tratamento imediato de lesões cerebrais, bem como a fisioterapia e terapia da fala são essenciais, afirma Tanya Haj-Hassan, especialista da pediatria de cuidados intensivos.
A tia de Amr lê cada movimento da criança. Está descontente com as fraldas, era uma criança inteligente e agora chora, "sente pena dele próprio", tem espasmos e precisa de tranquilizantes para dormir, relata Nour.
"O cérebro ainda se está a desenvolver. O que podem fazer por ele? Vai poder andar outra vez?", perguntou Nour. "Enquanto estiver em Gaza, não há cura para ele", conclui.
Um sistema de saúde em colapso
A guerra, que começou a 7 de outubro de 2023, dizimou o sistema de saúde em Gaza. Após 21 meses de conflito, é quase impossível fornecer os cuidados necessários aos feridos em estado grave, segundo os médicos e trabalhadores humanitários.
Quase metade dos hospitais do território ficaram fora de serviço e os bombardeamentos diários colocam demasiada pressão sobre as unidades hospitalares que ainda estão ativas, ainda que a funcionar parcialmente. Existe falta de materiais como combustível e gazes, além de máquinas respiratórias e de exames estragadas sem possibilidade de serem substituídas.
As forças israelitas têm atacado os hospitais, alegando que o Hamas utiliza as unidades médicas como centros de comando. Durante dois meses e meio, Israel bloqueou a entrada de toda a comida, medicamentos e outros materiais em Gaza. Desde maio, tem entrado uma pequena quantidade de ajuda humanitária.
O ministério da Saúde de Gaza estima que 33 mil crianças já ficaram feridas durante o conflito, das quais cinco mil necessitam de reabilitação e cuidados intensivos de longo-prazo. Mais de mil crianças, como Amr, sofrem de lesões cerebrais ou na coluna ou tiveram de amputar algum membro.
"Gaza vai lidar com as futuras gerações de crianças a viver com todo o tipo de deficiências, não só cerebrais, mas dos membros, que são consequências das amputações que podiam ter sido prevenidas caso o sistema de saúde não estivesse sob a pressão que está, não fosse sistematicamente um alvo e destruído", disse Haj-Hassan.
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