Governou a Igreja Católica por um curto período de 242 dias. Foi vítima do desabamento do teto do quarto.
Governou a Igreja Católica por um curto período de 242 dias. Foi vítima do desabamento do teto do quarto.
Nos seus quase nove séculos de História, Portugal inscreveu apenas 47 dos seus eminentes na restrita lista de cardeais da Igreja Católica. E destes, apenas um chegou a Papa e foi no último quartel do século XIII.
O ilustre intelectual nasceu em Lisboa em 1205 e foi batizado com o nome Pedro Julião Rebolo. Mais tarde, enquanto académico, teólogo e professor de Medicina, adotou o nome de Pedro Hispano. Eleito sucessor de São Pedro, a 16 de setembro de 1276, adotou o nome de João XXI, sucedendo a Gregório XI, que foi papa apenas um dia. Na verdade, o conceituado médico português, que foi o clínico principal de Gregório X, também teve um curto reinado, de apenas 242 dias. Morreu, vítima de acidente, a 20 de maio de 1277, exatamente oito meses depois de ter sido coroado papa.
Pelo que rezam as crónicas da época, o teto do quarto em que dormia, na residência contígua à Catedral de Viterbo, desabou, acabando por vitimar o pontífice.
Pedro Julião Rebolo nasceu em Lisboa no dealbar do século XIII. Há historiadores que indicam 1205 como a data certa de nascimento, mas outros apontam 1215. Da sua infância e juventude pouco se sabe, para além de que estudou na escola episcopal da catedral de Lisboa.
O primeiro dado confirmado revela que em 1245 frequentava a Universidade de Paris, tendo como mestres diversos notáveis, como Santo Alberto Magno, e como condiscípulos mais notáveis ainda, como São Boaventura ou São Tomás de Aquino. Este último é mesmo considerado um dos maiores teólogos da Igreja, a par de Santo Agostinho de Hipona.
Para se ter uma ideia da sua importância, na sua obra mais importante, a “Suma Teológica”, Tomás de Aquino define, entre outros aspetos da doutrina, as virtudes teologais, os sacramentos e os sete pecados capitais.
Em Paris, Pedro Julião estudou Teologia, Filosofia e Medicina. Na filosofia dedicou-se sobretudo à lógica e à metafísica de Aristóteles e, na Medicina, à oftalmologia. Diz-se que quando Miguel Ângelo ficou quase cego, devido ao cansaço provocado pelo trabalho de decoração da Capela Sistina, encontrou a cura numa receita deste médico português.
Entre 1246 e 1252 ensinou Medicina na Universidade de Siena, onde escreveu boa parte das suas obras. Foi nesta altura, enquanto académico, que adotou o nome Pedro Hispano.
Das suas obras merecem destaque uma clínica e outra filosófica: o tratado “Summulae Logicales”, que foi manual de referência sobre a lógica aristotélica nas universidades europeias durante mais de 300 anos, e “Thesaurus Pauperum” (Tesouro dos pobres), que revela a cura para várias doenças e que foi traduzido para dezenas de línguas.
Na verdade, este intelectual, só chegou ao sacerdócio por volta de 1260, tendo sido eleito decano da Sé de Lisboa em 1261. Dois anos depois, o rei D. Afonso III confiou-lhe o priorado de Mafra e elevou-o a deão da Sé de Lisboa.
Foi também tesoureiro-mor da Sé do Porto e prior da Colegiada da Senhora da Oliveira, em Guimarães, até que, em 1273, foi nomeado pelo papa Gregório X arcebispo primaz de Braga. Um ano depois, participou no concílio ecuménico de Lião e foi, também pelo papa Gregório X, elevado a cardeal-bispo.
Esta nomeação ao topo hierárquico da Igreja prendeu-se com um objetivo claro do papa: contar com os serviços médicos de Pedro Hispano, que foi nomeado médico principal do romano pontífice em 1275.
Como sabemos, no ano seguinte, a 17 de setembro, foi eleito papa, mas não sucedeu a Gregório X, que em janeiro de 1276. Entretanto, ainda foram eleitos três papas: Inocêncio V (o primeiro a ser eleito em conclave), a 20 de janeiro, que governou a Igreja 153 dias; Adriano V, a 11 de Julho, que foi papa 38 dias; e Gregório XI, a 5 de setembro e que morreu no dia a seguir à sua eleição pontifícia.
Uma vez eleito, Pedro Hispano adotou o nome João XXI. Intelectual e cientista de rara craveira, tornou-se um pontífice de grande simplicidade. Diz-se que recebia em audiência tanto ricos como pobres, o que então era raro.
Não foi por acaso que o grande poeta Dante Alighieri, na sua Divina Comédia, colocou a alma de João XXI no Paraíso, referindo-se ao pontífice português como “aquele que brilha em doze livros”.
Morreu a 20 de maio de 1277, oito meses depois de ter tomado posse e encontra-se sepultado do lado do Evangelho da Catedral de Viterbo, em Itália.
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No século XVI e na sequência de obras de restauro da vetusta catedral de Viterbo, o túmulo do papa português foi relegado para um lugar meio escondido do templo. Por iniciativa e contributo da Câmara Municipal de Lisboa, então liderada por João Soares, o mausoléu de João XXI foi, em março do ano 2000, colocado a título definitivo, em lugar nobre, do lado do Evangelho.
A eleição do papa ocorre segundo um processo peculiar, com quase oito séculos de História. No essencial, os cardeais com menos de 80 anos (eleitores) fecham-se na Capela Sistina e realizam votações até que um dos candidatos atinja um mínimo de dois terços dos votos. Mas nem sempre foi assim. Até ao século XIII, os papas eram eleitos em assembleia por unanimidade. O primeiro conclave foi em 1276 e elegeu Inocêncio V.
Muitos dos papas, mais de 150, estão sepultados no Vaticano, nomeadamente na necrópole da Basílica de São Pedro. Mas são mais os que jazem fora dos muros da Santa Sé. Muitos encontram-se sepultados na Catedral de São João de Latrão, que foi durante mil anos sede da Igreja Romana, e alguns em templos situados fora de Itália.
A Inquisição, como tribunal eclesiástico, começou a ganhar forma no século XIII, sendo oficialmente estruturada pelo Papa Gregório IX em 1231. Este pontífice delegou as principais funções inquisitoriais aos dominicanos. Esse sistema evoluiu ao longo dos séculos, dando origem à Inquisição Espanhola e Portuguesa, que só terminou no séc. XVII.
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