Operações para encontrar o menino Julen podem demorar dias

Ao quinto dia de trabalhos para o resgate de Julen - o menino espanhol de dois anos e meio que está preso num poço a mais de 70 metros de profundidade, na serra de Totalán, em Málaga -, a esperança da operação ser bem-sucedida era ontem cada vez menor.

O desespero aumenta, com o país e o Mundo em suspenso, a acompanhar o caso, depois de especialistas envolvidos na operação terem admitido que esta poderá demorar vários dias. "Falar de tempos é uma imprudência. Trabalhamos para fazê-lo [o resgate] com a maior brevidade possível", afirmou ontem Juan López Escobar, delegado do Colégio de Minas de Málaga, admitindo, no entanto, que se trata de "uma questão de dias, não de horas". Serão, ao que tudo indica, necessários dois a quatro dias para concretizar o plano que os operacionais tinham ontem em prática.

As autoridades começaram por terraplenar duas áreas paralelas ao poço onde se encontra Julen - rebaixando o piso cerca de 30 metros. Depois, serão escavados dois poços de maior diâmetro, com 70 a 80 metros de profundidade. O segundo funcionará como um plano B, caso o primeiro poço não apresente condições de segurança ou aconteça algum incidente durante a operação. Assim que os poços tenham profundidade suficiente para ultrapassar a zona do ‘tampão’ de terra, serão escavados mais dois túneis para fazer a ligação ao local onde se acredita que o menino esteja encurralado, numa bolsa de ar.

Este ‘labirinto’ de túneis - cada um com o formato de ‘L’ - é a principal aposta das equipas, que trabalham sem interrupções na operação. Duas outras hipóteses têm também sido trabalhadas: a aspiração da terra que bloqueia o poço depois dos 70 metros e a escavação de um túnel horizontal até à zona onde Julen estará.

"Não vamos parar enquanto não resgatarmos a criança"

"Não vamos parar nem um minuto até resgatarmos a criança. Ninguém da equipa de resgate tem dúvidas sobre isso. Esperamos e acreditamos que com vida". As palavras são de María Gámez, representante do governo espanhol, que desde a primeira hora tem acompanhado as operações em Totalán.

María Gámez reconhece, contudo, que os trabalhos de resgate não se afiguram fáceis. "É uma tarefa lenta", disse. "Não há tarefa mais complexa do que esta", reforçou a representante governamental, sublinhando que a operação se tornou num enorme trabalho de engenharia, agravado pelas condições do terreno. "Estamos centrados nas opções que nos permitem ser mais efetivos, ou seja, que demorem menos tempo e sejam as mais seguras, quer para a criança quer para os trabalhadores envolvidos no salvamento", afirmou María Gámez.

O dispositivo de resgate é, neste momento, composto por cerca de uma centena de operacionais e conta com a colaboração e empenho de diversas empresas privadas.

PORMENORES

ADN encontrado no poço

As autoridades descobriram cabelos do menino de dois anos e meio entre a terra que foi aspirada do interior do poço. Testes de ADN confirmaram que eram mesmo de Julen.

Escavação sem licença

O poço de prospeção de água foi aberto no terreno sem a devida licença. O empresário responsável pela obra garante que o deixou tapado com pedras.

Onda de solidariedade

Depois de, na quarta-feira, moradores de Totalán terem feito uma vigília de apoio à família de Julen, decorria ontem nas redes sociais um movimento de solidariedade, com mensagens de força para os pais do menino.

Família marcada pela dor

Os pais de Julen, José e Vicky Roselló, perderam o filho mais velho em 2017. Oliver foi vítima de morte súbita quando tinha apenas três anos.

Previsão de chuva vem complicar ainda mais a missão

As previsões meteorológicas apontam para a ocorrência de aguaceiros, mais prováveis entre sábado e domingo, na zona de Málaga. Um cenário que pode complicar ainda mais os já difíceis trabalhos que decorrem para resgatar Julen. O menino caiu a um poço com cerca de 100 metros de profundidade quando brincava na serra de Totalán, num dia que seria de convívio para a família.