Frio extremo e torturas desumanas: Os relatos da prisão onde morreu Navalny
Além dos castigos recorrentes, colónia penal fica afastada de tudo e os acessos são quase impossíveis.
A prisão onde morreu Alexei Navalny, na qual estava detido, fica no norte da Rússia e é considerada uma das mais hostis do mundo. Conhecida como 'Polar Wolf' (Lobo Polar), está localizada na cidade de Kharp onde as temperaturas costumam chegar aos 45 graus negativos.
"O que precisas de fazer é olhar para um mapa e reparar que esta é a prisão mais a norte e mais dura", revela Ivan Zhdanov, diretor da Fundação Anti-Corrupção, de Navalny.
A prisão fica a cerca de dois mil quilómetros de Moscovo e tem mais de mil prisioneiros, entre os quais estão alguns dos mais perigosos da Rússia, ou para a Rússia, nomeadamente assassinos em série, violadores, pedófilos e presos políticos, como Navalny.
A ativista dos direitos dos prisioneiros Olga Romanova revela alguns testemunhos de ex-reclusos. "No inverno os prisioneiros são reunidos de forma hostil no pátio, com roupa leve."
A cadeia foi fundada em 1961 num antigo Gulag do ditador José Estaline. A localidade onde está inserida tem cinco mil habitantes, a maioria profissionais relacionados com o serviço prisional.
"Eles eram reunidos em formação e impedidos de bater ou esfregar as mãos. Tinha de ficar imóveis durante 40 minutos com 45 graus negativos, ou pior. Se alguém se mexesse, eram todos encharcados com água", continua Romanova.
Oleh Sentsov, realizador ucraniano, passou cinco anos detido por terrorismo numa colónia penal semelhante à 'Polar Wolf'. "Assim que passas os portões, dizem-te que estás no purgatório, não tens direitos e não há ninguém a quem te queixares", revela o ex-recluso.
"Agressões, humilhações, choques elétricos, ficas preso numa cela gelada nu ou com roupa molhada. E isso não é o pior... Podes ficar trancado em posição fetal numa 'caixa' de ferro na qual mal consegues respirar e tens de urinar no teu próprio corpo. Eles ameaçam repetidamente que te vão violar, quando te fazem bullying."
Durante grande parte do ano a cidade não está acessível. Não há aviões e o acesso por comboio é difícil, conta ainda o diretor da Fundação Anti-Corrupção de Navalny.
"Nunca sabemos se as nossas cartas chegaram, nem se quem a recebeu pôde responder. Por isso é que enviaram o Navalny para lá."
Além disso, revela Zhdanov, o sistema telefónico da prisão foi sabotado assim que o ativista foi preso. "Parece um estranho problema", disse na altura.
Depois de passar 19 dias incomunicável, Navalny confirmou que tinha chegado à 'Polar Wolf' a 26 de dezembro de 2023. O ativista morreu na prisão esta sexta-feira.
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