"Não tenho dúvida de que serei condenado e preso": Bolsonaro acusa o Supremo Tribunal de julgamento político
Ex-presidente brasileiro foi alvo de buscas e obrigado a colocar uma pulseira eletrónica.
O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro afirmou não ter qualquer dúvida de que será condenado e preso pelo Supremo Tribunal Federal (STF), talvez já no próximo mês de Agosto, e acusa os juizes de estarem a fazer um julgamento político, para o impedir de derrotar Lula da Silva em novas eleições presidenciais. Bolsonaro está a ser julgado no STF por suposta tentativa de golpe de Estado em 2022, após perder as presidenciais desse ano para Lula, num processo que está a seguir a um ritmo inusitadamente acelerado, o que o ex-presidente avalia ser propositado e determinado pelo relator, Alexandre de Moraes.
"Não tenho qualquer dúvida de que serei condenado e preso. Talvez já em 20 de Agosto, quando a fase final do julgamento começar. O Alexandre de Moraes tem ascendência sobre os outros juizes. Não é um processo normal, eles querem-me tirar, de vez, do jogo político, porque sabem que eu sou o único que pode ganhar do Lula", afirmou Jair Bolsonaro na sede do Partido Liberal, PL, em Brasília, pouco depois de ser alvo de uma aparatosa operação de buscas em sua casa por agentes da Polícia Federal (PF) fortemente armados, e de ser levado sob escolta para a sede da corporação. O ex-presidente foi ainda obrigado a colocar uma pulseira eletrónica através da qual a justiça poderá monitorizar os seus passos.
Na entrevista, Bolsonaro considerou o juiz Alexandre de Moraes, seu antagonista público desde o seu governo, entre 2019 e 2022, como um ditador. E reclamou de estar a ser julgado por uma turma de somente cinco juizes, a Primeira Turma, controlada por Moraes, e não pelo plenário do tribunal, que tem 11 magistrados, como seria normal num processo de tanta gravidade e envolvendo um ex-presidente da República.
Na operação de que foi alvo esta sexta-feira na sua casa em Brasília, ordenada pelo juiz Alexandre de Moraes, Bolsonaro teve apreendidos documentos, telemóvel, dinheiro em espécie e uma caneta informática que os agentes federais dizem ter encontrado numa casa de banho da mansão mas que o antigo governante garante não ser dele e que pode ter sido plantada pela própria polícia. Além dessa acção de buscas e da colocação da pulseira, Alexandre de Moraes proibiu Bolsonaro de usar redes sociais, de falar com qualquer diplomata estrangeiro ou de se aproximar de embaixadas, e determinou o recolhimento dele em casa das 19 às 7 durante a semana e aos fins de semana.
Se for condenado no processo por tentativa de golpe, Jair Bolsonaro poderá apanhar uma pena superior a 40 anos, mas juristas ouvidos sobre o assunto avançam que o STF provavelmente vai moderar essa decisão e estabelecer a sentença em pouco mais de 20 anos. Não obstante a entrevista de Bolsonaro ter sido praticamente só sobre o julgamento em que é arguido, as ações desta sexta foram ordenadas por Alexandre de Moraes no âmbito de um outro processo, ainda em fase de investigação, que acusa Jair Bolsonaro e um dos filhos, Eduardo Bolsonaro, de obstrução de justiça e crimes contra a soberania nacional ao pressionarem o presidente dos EUA, Donald Trump, a impor tarifas pesadas a produtos brasileiros como retaliação ao processo do golpe.
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