Populistas do 5 Estrelas e da Liga exigem governar Itália
Nenhum partido ou coligação tem maioria suficiente para formar governo.
Os líderes dos dois principais partidos populistas italianos, o Movimento 5 Estrelas e a Liga, reclamaram esta segunda-feira o direito a formar governo após umas eleições inconclusivas, que ameaçam abrir um período prolongado de incerteza e instabilidade política na terceira maior economia da Zona Euro.
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2018-03-06_02_17.19 InfoEleicoesItalia.pdfOs resultados finais confirmaram aquilo que as sondagens já previam há meses: nenhum partido ou coligação conseguiu os votos necessários para garantir a maioria no parlamento, deixando nas mãos do presidente Sergio Mattarella a complicada tarefa de encontrar uma solução capaz de garantir a governabilidade do país.
O Movimento 5 Estrelas foi o partido mais votado, com 32,7%, seguido pelo Partido Democrático (PD, centro-esquerda), com 18,7%, e pela Liga (direita eurocética e anti-imigração), com 17,4%. No entanto, o eclipse dos partidos tradicionais fraturou o voto, deixando a coligação de centro-direita liderada pela Liga nos 37% e aliança de centro-esquerda com o PD à cabeça nos 22,9%, ambos bastante longe da maioria absoluta.
Apesar disso, tanto Luigi di Maio, cabeça de lista do 5 Estrelas, como Matteo Salvini, da Liga, reclamaram o direito de formar governo, o primeiro como líder do maior partido e o segundo como líder da coligação mais votada. "Temos o direito e o dever de formar governo", afirmou Salvini, que tentou acalmar os mercados, garantindo que o referendo ao euro, pelo qual se bateu durante anos, "é impensável". O líder da Liga assegurou ainda estar disposto a falar com todos os partidos, mas rejeitou a possibilidade de um "minestrone político", referindo-se a uma possível aliança com partidos fora da sua esfera política.
Já di Maio sugeriu que o 5 Estrelas poderia abandonar a sua política de rejeitar alianças com qualquer outra força política e disse estar disposto a dialogar para encontrar "um governo capaz de representar o país inteiro".
Renzi demite-se e Partido Democrata vai liderar oposição
O antigo primeiro-ministro italiano Matteo Renzi anunciou esta segunda-feira a sua demissão da liderança do Partido Democrata (PD) após aquele que foi o pior resultado eleitoral do movimento desde a sua criação, em 2007. Antes de sair, garantiu, no entanto, que o partido recusará qualquer convite para fazer parte do próximo governo e irá liderar a oposição, pois foi esse o desejo manifestado pelos eleitores nas urnas.
Renzi, que teve apenas 18,7% dos votos e se viu ultrapassado pelos populistas do Movimento 5 Estrelas e da Liga, revelou que a sua saída "é a consequência óbvia" dos resultados de domingo e garantiu que o partido não servirá de ‘fiel da balança’ na formação do próximo governo. "Os italianos quiseram que ficássemos na oposição e é isso que faremos. Nunca faremos uma aliança com partidos antissistema", garantiu Renzi numa referência a um possível pacto de governo com a Liga ou o 5 Estrelas.
Renzi, que deixou a liderança do governo em 2016 após perder o referendo sobre a reforma constitucional, foi incapaz de mobilizar os eleitores do centro-esquerda e alguns colegas de partido acusaram-no de se colar demasiado à direita para tentar ganhar votos. O ex-primeiro-ministro foi ainda acusado de liderar o partido de forma autoritária e controladora, tendo levado à deserção de vários deputados.
PORMENORES
Aliança de radicais
Um dos cenários avançados pelos analistas é uma possível aliança entre a Liga e o 5 Estrelas, que partilham raízes eurocéticas. Este é o cenário que mais assusta Bruxelas.
"Não mudo de equipa"
O líder da Liga, Matteo Salvini, recusa alianças fora do seu campo político. "Não mudo de equipa a meio do jogo. Não vamos fazer nenhum minestrone político", garantiu.
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