"Sem ar, só o cheiro da morte": Sobrevivente de tráfico humano descreve horror em camião
Ahmad Al Rashid viajou dentro de vários camiões, dois deles refrigerados.
Esta quarta-feira, 39 chineses foram encontrados mortos num contentor que era transportado dentro de um camião proveniente da Irlanda do Norte.
Estes migrantes foram vítimas de um gang de contrabando de pessoas que, a troco de dinheiro, os transportavam para o Reino Unido com a promessa de uma vida melhor.
Ahmad Al Rashid passou pelo mesmo tipo de experiência que os 39 chineses. Fugiu da Síria, na altura em que o Daesh ganhou força, encolhido dentro de um camião da Nestlé.
Este homem chegou ao Reino Unido quando era ainda um adolescente, mas não esquece o horror que viveu naquela jornada. A notícia desta quarta-feira do 'camião do horror' veio reavivar-lhe o trauma que viveu.
Viajou dentro de um camião numa jornada aterradora através do Canal da Mancha. Afirma, aos meios de comunicação britânicos, que sobreviveu por milagre.
Ahmad Al Rashid, candidato a asilo no Reino Unido, viajou dentro de vários camiões, dois deles refrigerados, da Síria para o Reino Unido.
Dentro de um desses camiões, da Nestlé, após duas horas sem se mexer, ele e sete companheiros começaram a sufocar. "Sem ar, só o cheiro da morte", disse à BBC.
"Eu pude ver a morte a chegar com os meus próprios olhos", diz Ahmad, que permanece profundamente traumatizado.
Nos momentos em que se sentia a sufocar, Ahmad afirma que o sentimento de "pânico" era atroz, sentindo a aproximação da morte.
Ahmad e os migrantes que seguiam com ele desataram aos gritos e a batar no camião para que os deixassem sair. Eventualmente, os contrabandistas abriram as portas.
"Durante sete ou oito horas, não nos mexemos", afirma. "Após 11 horas, uma criança começou a sufocar. Nós batíamos e batíamos no camião. Eventualmente, o motorista deixou-nos sair", acrescenta.
A jornada foi ainda mais complexa porque Ahmad e outros migrantes acabaram no camião errado tendo acabado na fronteira italiana quando queriam ir para o Reino Unido.
Ahmad acabou por pagar mais alguns milhares de euros para viajar da Alemanha para Hull, onde Inglaterra lhe deu asilo. Aí conseguiu trazer a mulher e os filhos do inferno que se vivia na Síria.
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