Ministro da Energia, Carlos Monteiro, pediu desculpas pelo sucedido e o Governo anunciou o desbloqueio de verbas para manutenção e investimento no setor.
Há cerca de mês e meio que a capital cabo-verdiana vive entre o som dos geradores e a escuridão dos sucessivos cortes de energia, interrompendo exames médicos e atrasando a produção de pequenas e médias empresas, espinha dorsal da economia.
Numa clínica da Praia com serviço de ressonância magnética, os pacientes estão habituados a exames demorados (entre meia-hora a duas horas), mas com os cortes de energia a situação agravou-se e "já houve casos em que estavam dentro da máquina quando [se teve] de interromper o exame", disse à Lusa Kátia Tavares, técnica de meios de diagnóstico.
Segundo a técnica, a situação é um risco, controlado graças a um botão de emergência, que permite retirar o paciente da máquina.
"Ficámos às escuras, mas estamos sempre preparados e informamos os pacientes" antes de começar o exame, principalmente agora, com apagões diários.
"Por vezes, ficamos sem trabalhar durante horas e, quando a energia regressa, demoramos muito a aceder aos dados e a reiniciar os programas. Acabamos por perder tempo", acrescentou. Na serralharia de Talla Diourbel, senegalês residente há 15 anos na cidade da Praia, os apagões também travam o trabalho diário e este é o exemplo de uma das pequenas e médias empresas (PME) vitais na estrutura económica do arquipélago.
"A luz vai, todos os dias. Estabeleço prazos para entregar trabalhos e, quando chegam os clientes, não estão prontos. Tenho portões, janelas, grades que não consegui fazer, é um prejuízo", explicou. Sem gerador, Talla lamenta a frustração dos clientes e o impacto no negócio: "Hoje, por exemplo, não há luz e estou parado. Tenho funcionários para remunerar e entregas para fazer. Estes dias são só para dar desculpas, todos os dias", afirmou.
Para Filipe Fernandes Tomás, responsável pelo grupo de padarias Pão Quente, a situação é igualmente crítica.
Natural de Portugal, mudou-se para Cabo Verde, há dois anos, para gerir sete estabelecimentos na ilha de Santiago, com 270 funcionários.
Numa das padarias, mesas vazias e clientes a entrar e a sair devido ao calor, ilustram o impacto do problema.
"Acima de tudo, deixamos de poder servir a população como deveríamos. Além disso, os sucessivos cortes danificam equipamentos e aumentam os custos operacionais, porque, onde temos geradores, trabalhamos quase todos os dias com eles ligados", explicou.
Filipe dá o exemplo de um ar condicionado que precisou de uma peça de substituição avaliada em 400 euros.
Os cortes também afetam a produção nos fornos elétricos das unidades sem gerador.
"Quando percebemos que o corte é prolongado, transferimos os bens alimentares para unidades com gerador para manter a refrigeração. É um problema que se arrasta há tempo demais", acrescentou.
No setor da arquitetura, Addy Horta relata também perdas e atrasos.
"Os cortes causam interrupções severas, paralisando sistemas, provocando perdas de dados e reduzindo a produtividade da equipa. Algumas tarefas podem ser feitas 'offline', mas a maioria depende de energia e conectividade", afirmou.
Mesmo com geradores, os custos são elevados: "O vai e vem da energia já queimou um computador e três aparelhos de ar condicionado, causando prejuízos financeiros. Já tivemos atrasos na entrega de trabalhos, porque os sistemas demoram a reiniciar, o que consome tempo", acrescentou.
Pelas ruas da cidade, geradores improvisados nas bermas das estradas mantêm boutiques e lojas em funcionamento. Na terça-feira, até a Televisão de Cabo Verde (TCV) teve de encurtar o jornal da noite para 20 minutos, devido à falta de luz (o noticiário dura, normalmente, cerca de uma hora), com o apresentador a avisar que a emissão poderia cair a qualquer momento.
Noutras rondas feitas pela Lusa, nas últimas semanas, houve lojas a queixarem-se da perda de produtos perecíveis, farmácias com dificuldades em entregar medicamentos a doentes crónicos, serviços públicos limitados e diferentes PME a perder receita.
A capital de Cabo Verde, Praia, e toda a ilha de Santiago, têm sofrido apagões prolongados, todos os dias, desde o início de setembro, devido a avarias que a empresa pública de eletricidade não consegue resolver, na única central elétrica da ilha.
O ministro da Energia, Carlos Monteiro, pediu desculpas pelo sucedido e o Governo anunciou o desbloqueio de verbas para manutenção e investimento no setor.
Ao mesmo tempo foram anunciadas averiguações à situação, incluindo por parte da Polícia Judiciária.
Entretanto, na quinta-feira, a Empresa Pública de Produção de Eletricidade de Cabo Verde (EPEC) anunciou que estava prestes a garantir estabilidade no fornecimento de energia - e a população espera que assim seja.
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