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Ataque a hotel do Mali faz 27 mortos

Ação conjunta de dois grupos.

20 de novembro de 2015 às 08:58

Vinte e sete pessoas morreram esta sexta-feira na sequência do ataque, realizado por 'jihadistas, a um hotel de Bamako, capital do Mali.

Os grupos terroristas Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI) e Al Murabitun reivindicaram o "ataque conjunto". A reivindicação do ataque foi feita numa declaração por telefone à agência de notícias privada da Mauritânia Al Ajbar. Esta é a primeira vez que as duas organizações 'jihadistas' declaram ter operações conjuntas. O Al Murabitun, liderado pelo argelino Mokhtar Belmokhtar, é um dos grupos mais ativos na região do Sahel.

O Governo português não dispõe, até ao momento, de informação sobre vítimas entre cidadãos nacionais.

Fontes no local avançam que os terroristas terão feito 170 reféns, 140 clientes e 30 empregados.

Os atacantes, que terão entrado no hotel Radisson Blu cerca das 07h00 [a mesma hora em Portugal continental], numa viatura com matrícula diplomática, deslocaram-se para o último andar do edifício. A meio da tarde, depois de alguma acalmia, foi ouvido um novo tiroteio.

Foi decretado o recolher obrigatório na cidade.

Clientes que souberam recitar partes do Corão foram libertados ainda de manhã. Cerca das 15h30, todos os reféns tinham saído.

França confirma Belmokhtar como responsável pelo ataque

O argelino Mokhtar Belmokhtar, chefe do grupo 'jihadista' Al-Murabitun, fiel à Al-Qaida, "está sem dúvida na origem" do atentado ao hotel Radisson Blu em Bamako, declarou esta sexta-feira o ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian.

"Há muito que é procurado por numerosos países. Está sem dúvida na origem deste atentado, apesar de não existir uma certeza total", disse o ministro em declarações à cadeia televisiva francesa TF1. 

"Máximo alerta"

A ONU está "em máximo alerta", dado existirem ameaças em relação a outros pontos da capital maliana, disse Carla Lopes Duarte, funcionária da Missão das Nações Unidas no Mali.

"Há possibilidade de haver outros incidentes (...) ainda hoje, portanto estamos em máximo alerta", disse a portuguesa, contactada telefonicamente em Bamako, onde se encontra há seis meses.

Carla Lopes Duarte indicou que a representação da ONU foi aconselhada pelos serviços de segurança malianos a ter "muito cuidado neste momento porque há vários pontos de ameaça".

"Não sabemos quem fez as ameaças", adiantou.

Estrangeiros entre os reféns

Vários estrangeiros, entre os quais sete chineses e 20 indianos, e ainda seis funcionários da companhia Turkish Airlines estiveram entre os reféns. 

A agência de notícias oficial chinesa Xinhua referiu que pelo menos sete turistas chineses estiveram entre os reféns no hotel em Bamako.

A Xinhua disse que entrou em contacto com um chinês que esteve entre os reféns, um turista identificado como Chen, que relatou que dez homens armados retiveram cerca de 170 pessoas.

A Corporação de Construção Ferroviária da China já confirmou que três dos seus executivos morreram na sexta-feira, durante o ataque.

Um funcionário da embaixada da China em Bamako declarou à agência de notícias francesa AFP que o número de reféns chineses pode ser de oito.

Pelo menos seis funcionários da companhia Turkish Airlines estiveram reféns.

O ministério das Relações Exteriores da Índia confirmou à AFP que também houve 20 cidadãos indianos entre os reféns no hotel Radisson Blu.

Também vários cidadãos russos morreram no ataque, anunciou  a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, às agências russas.

Entre as pessoas alojadas no hotel encontrava-se também uma delegação da Organização Internacional da Francofonia e participantes num encontro de novas tecnologias, disseram fontes de segurança e trabalhadores do hotel à agência de notícias EFE.

Armas automáticas

De acordo com o testemunho de um jornalista da agência noticiosa francesa que se encontra no local, o fogo disparado por armas automáticas foi ouvido fora do hotel.

"Tudo aconteceu no sétimo andar, os 'jihadistas' estão a disparar no corredor", disse uma fonte de segurança à France Presse.

De acordo com a mesma fonte, as forças de segurança estabeleceram um cordão de segurança.

Em Bamako encontram-se cinco militares portugueses: dois na missão da ONU, três numa misão da UE. Encontram-se todos bem.

França fará o possível para libertar reféns

Perto das 14h00, o presidente francês, François Hollande, afirmava que a França faria "todo o possível" para conseguir a libertação das pessoas feitas reféns durante o ataque.

Numa declaração proferida antes de um discurso dedicado à 21.ª Cimeira do Clima da ONU (COP21), agendada para o final deste mês em Paris, Hollande pediu ainda aos cidadãos franceses que estão "em países sensíveis" para "tomarem todas as precauções", em particular os franceses que se encontram no Mali, que devem contactar a representação diplomática francesa.

Em declarações à agência espanhola EFE, um porta-voz da polícia militarizada francesa ("gendarmerie") disse que 40 agentes das forças especiais de intervenção (GIGN) da polícia militarizada e uma dezena de elementos da polícia científica "estão a viajar neste momento" para o Mali.

Estados Unidos colaboram

Membros das forças de operações especiais dos Estados Unidos colaboraram nas ações para a libertação dos reféns.

Segundo o canal de televisão CNN, um porta-voz do comando para a África explicou que as forças ajudaram a levar os civis que estavam na região do hotel de luxo para locais seguros.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que se encontra em Kuala Lumpur, declarou aos jornalistas que o seu Governo está "a monitorar a situação".

A polícia militar francesa (Gendarmerie) enviou 40 agentes das suas forças especiais de intervenção (GIGN) e "uma dezena" de agentes da polícia forense para o Mali.

O presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, disse hoje, antes de regressar ao seu país, proveniente do Chade, que a situação dos reféns no hotel Radisson Blu é "preocupante, mas não desesperante".

Air France cancela voos para o Mali

A Air France informou que os 12 funcionários da companhia aérea francesa que estavam no Radisson Blu em Bamako, o hotel que foi alvo do ataque, conseguiram sair do local e "encontram-se num lugar seguro".

Num comunicado, a transportadora francesa precisou que os funcionários eram dois pilotos e 10 elementos da tripulação de cabine.

A Air France anunciou ainda o cancelamento dos voos desta sexta-feira de e para Bamako, bem como um reforço da segurança em vários locais onde os aparelhos da companhia fazem escala, mas sem especificar.

Atentado em março

A 7 de março deste ano, um atentado contra um bar-restaurante em Bamako fez cinco mortos, entre os quais um cidadão belga e um francês, tratando-se do primeiro ataque deste tipo realizado na capital do Mali.

Em agosto passado, ocorreu uma outra tomada de reféns de mais de 24 horas num hotel da cidade do Mali, que provocou a morte a quatro soldados e cinco funcionários da ONU, bem como aos quatro atacantes.

Os grupos islâmicos têm levado a cabo ataques no Mali desde junho, apesar de um acordo de paz entre os rebeldes tuaregues no norte do país e grupos armados rivais pró-Governo.

Grupos 'jihadistas'

O norte do Mali esteve entre março e abril de 2012 sob controlo de grupos 'jihadistas' com ligações à Al-Qaeda, na sequência de um golpe militar.

Os grupos foram dispersados e perseguidos após uma intervenção militar internacional lançada em janeiro, por iniciativa da França, cujas forças miliatres se mantêm ainda no país.

No entanto, há várias zonas que escapam ao controlo das forças militares malaias e estrangeiras.

Há muito concentrados no norte do país, os ataques 'jihadistas' estenderam-se desde o início do ano para o centro e, desde junho, para sul do território.

Estados Unidos condenam ataque

A Casa Branca condenou esta sexta-feira "veementemente o ataque terrorista" contra o hotal Radisson Blu de Bamako, reivindicado pela Al Qaeda, que fez 27 mortos.

"Podemos confirmar que o ataque chegou ao fim. Estamos em coordenação com os responsáveis de Washington no terreno para verificarmos como se encontram os norte-americanos no Mali", refere um porta-voz da Casa Branca através de comunicado.

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