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Brasil assinala 200 anos de independência com medo de atos radicais convocados por Bolsonaro

No lugar de honra dessas cerimónias tem estado o coração de D. Pedro I, primeiro imperador do Brasil.

07 de setembro de 2022 às 13:21

O Brasil assinala esta quarta-feira os 200 anos de independência do país não em clima de festa e orgulho, mas de medo. O presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição nas presidenciais de outubro mas que enfrenta grandes dificuldades para reduzir a distância para o líder das sondagens, Lula da Silva, apropriou-se da data e convocou seguidores a irem às ruas defendê-lo exactamente neste dia.

Cerimónias oficiais que assinalam a independência começaram esta terça-feira e outras acontecerão esta quarta-feira, inclusive com a presença do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e outros convidados estrangeiros, que têm tido cuidado para a sua presença não ser usada eleitoralmente por Bolsonaro. No lugar de honra dessas cerimónias tem estado o coração de D. Pedro I, primeiro imperador do Brasil, D. Pedro IV para os portugueses, que a 7 de setembro de 1822 rompeu com o pai e declarou a independência da antiga província, e que viajou do Porto, onde estava guardado há 187 anos, especialmente para esta ocasião histórica, e para onde voltará já amanhã, dia 8.

Não se espera que Jair Bolsonaro faça ou diga nenhuma loucura na cerimónia militar evocativa da data, em Brasília, o primeiro ato do dia, mas, a partir daí, qualquer coisa pode acontecer. O presidente, que quer fazer desde dia o ponto de virada da sua corrida para a reeleição, nas últimas semanas repetiu inflamados chamamentos aos seus seguidores para mostrarem este 7 de Setembro que é ele que querem que continue a governar o Brasil, e, o que assusta a todos, seja qual for o resultado das eleições do próximo mês, cujas sondagens vaticinam a derrota dele.

A convocação de Bolsonaro para aproveitar os actos evocativos da independência em grandes manifestações eleitorais em seu apoio, teve forte eco nos setores mais conservadores da sociedade brasileira, que se articularam para ir às ruas esta quarta-feira prontos para tudo. Movimentos evangélicos ultra-radicais, empresários extremistas de direita, principalmente ligados ao agronegócio, e grupos radicais de extrema-direita, alguns deles armados, rumaram nos últimos dias para as três cidades onde Bolsonaro espera ter uma maior adesão, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.

Para aumentar o clima de apreensão, um dos filhos do presidente, Eduardo Bolsonaro, convocou por seu turno esta terça-feira os apoiadores do pai que tenham armas a irem armados para esses actos como "voluntários do bolsonarismo" e na defesa do chefe de Estado. Desde que assumiu o governo, em 2019, Bolsonaro flexibilizou a compra e o uso de armas e centenas de milhar de pessoas estão hoje na posse de armas potentes e modernas, inclusive rifles militares, que o presidente permitiu serem adquiridos por civis.

Teme-se que Bolsonaro, que não consegue nem chegar perto de Lula nas sondagens e corre o risco de ser derrotado já na primeira volta, dia 2 de Outubro, vá para o tudo ou nada esta quarta-feira, atacando e incitando ataques ao Supremo Tribunal Federal, onde é investigado, e ao Tribunal Superior Eleitoral, onde diz existir uma conspiração para dar a vitória ao seu adversário. No ano passado, Bolsonaro já tentou dar uma prova de força também no 7 de Setembro, incitou os seguidores a não obedecerem mais à justiça, o Supremo Federal só não foi invadido por seguidores do presidente porque o Exército impediu, e o suposto golpe de Estado ameaçado pelo governante não aconteceu, mas o cenário está novamente montado e Bolsonaro está com mais ódio do que nunca.

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