"Precisamos de pensar nas pandemias da mesma maneira que pensamos sobre as alterações climáticas", alertam os cientistas.
A próxima pandemia pode ser evitada se os animais passarem a ser encarados como "parceiros", mantendo o seu habitat natural preservado.
Segundo vários especialistas, as epidemias e surtos não são uma novidade para as sociedades. Tal como no caso do coronavírus que, segundo estudos terá começado num morcego ou num pangolim, num mercado chinês, outros vírus alojaram-se nos animais, passando depois para os seres humanos.
Os mercados húmidos da China são um exemplo de como os animais selvagens, portadores de vírus, continuam a ser comercializados e consumidos por parte da população. É através desse consumo que o ser humano acaba por ser igualmente um hospedeiro do vírus, transportando-o consigo para qualquer lugar, contribuindo assim para a sua disseminação. Os milhares de milhões de euros provenientes do comércio de animais selvagens continuam a ser um entrave à tomada de medidas.
Segundo a publicação South China Morning Post, o facto de existir um número tão grande de vírus entre os animais não é uma surpresa para os cientistas. O grande problema está na evolução do comportamento humano, tanto social como económico, que está a prejudicar cada vez mais os habitats dos animais.
De acordo com a mesma publicação, os especialistas acreditam que a desflorestação e a exploração excessiva das terras agrícolas para produzir alimentos e outras mercadorias pode estar a contribuir para estas novas doenças e respetiva propagação. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os três principais vírus assassinos do século XXI são, até ao momento, a Sars-CoV, a Mers-CoV e a Sars-CoV-2.
"São as nossas atividades que estão a mudar as coisas", referiu o epidemiologista veterinário Dirk Pfeiffer, que sublinha o perigoso desequilibro criado pelo ser humano. "Estamos a aproximarmo-nos da floresta e a invadir o habitat de animais selvagens e patogénico que não conhecíamos antes", lamenta.
Segundo o especialista, o comércio internacional e as viagens contribuíram igualmente para a proliferação mais rápida da doença.
O ecologista de doenças Peter Daszak designa até esta nova fase como a "era da pandemia", onde as mercadorias, as pessoas e os animais circulam, o contacto com a vida selvagem aumenta e, com ela, o vírus que pode carregar. E compara as pandemias às alterações climáticas.
"Precisamos de pensar nas pandemias da mesma maneira que pensamos sobre as alterações climáticas - é uma ameaça existencial para nós, mas podemos realmente controlá-la porque somos os motores", afirmou Daszak.
Uma equipa de epidemiologistas, onde estão incluídos Daszak e George Gao, diretor do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, e Dennis Carroll, ex-diretor da unidade de influências pandémicas e ameaças emergentes da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, usaram modelos matemáticos que pode revelaram a existência de até 1,7 milhão de vírus desconhecidos em animais. O mesmo modelo estimou que mais de meio milhão poderia ter o potencial de causar doenças humanas.
Para resolver este problema, os especialistas afirmam que são necessários mais investimentos nos serviços públicos de saúde e no desenvolvimento de meios para monitorizar febres e pneumonias repentinas.
A iniciativa One Health, que reúne médicos e veterinários no reconhecimento das ligações entre as espécies, os seres humanos e o meio ambiente em epidemia, tem ganho cada vez mais notoriedade , principalmente depois da gripe das aves, em meados dos anos 2000.
De acordo com o South China Morning Post, que cita vários cientistas e investigadores que estudam os vírus em animais, é fundamental compreender quais os vírus animais que estão a "saltar" para os seres humanos. Esta pode ser uma linha inicial de defesa crucial para impedir que esses mesmos vírus se tornem pandémicos, como foi o caso da Covid-19.
"Pode muito bem acontecer que doenças semelhantes ao Covid-19 se tenham vindo a espalhar entre os seres humanos há vários anos", admitiu Sam Scarpino, professor assistente no Network Science Institute da Northeastern University. O docente dirige um laboratório sobre epidemias emergentes que trabalha com agências de saúde pública no âmbito da construção de modelos para prever surtos e respetiva disseminação.
À publicação asiática, Scarpino explica a extrema dificuldade em identificar o momento em que um patogénico potencialmente pandémico passa dos animais para os seres humanos.
"Nós focamo-nos em partes da China e do Sudeste Asiático no que toca ao surgimento de doenças, mas não conseguimos estar ao mesmo tempo noutras partes do mundo que possuem características ambientais e fatores de risco", lamenta.
"Depois desta situação, acho que nunca mais seremos os mesmos. Espero que uma das mudanças seja no investimento sustentado em vigilância [dos surtos e vírus]", conclui.
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