Governo cabo-verdiano decretou dois dias de luto nacional e declarou situação de calamidade por seis meses em São Vicente, Porto Novo (Santo Antão) e nos dois concelhos da ilha de São Nicolau.
Entre os desalojados pela tempestade que matou nove pessoas na ilha cabo-verdiana de São Vicente, três famílias vivem agora numa escola transformada em dormitório, a tentar recomeçar enquanto lidam com filhos que só pedem para voltar para casa.
"Perdi tudo, a minha casa ficou completamente destruída. Fiquei só com a roupa do corpo e os meus filhos", conta Edna Lopes, 34 anos, com um pé enfaixado, depois de cair num buraco, enquanto procurava um lugar para dormir depois de a casa ter ruído.
O telhado de chapa ruiu em menos de cinco minutos, no bairro de Bela Vista, pouco depois de Edna conseguir tirar os três filhos, quando a água começou a entrar em casa durante a tempestade.
Durante dois dias dormiu numa manta improvisada em casa de uma vizinha que também abrigava outros desalojados, até a Proteção Civil a transferir para a escola que agora acolhe temporariamente as vítimas.
"Estou grata por estar viva e pelos meus filhos estarem bem. Mas ainda não caiu a ficha. Foram anos a construir, ainda estou a pagar o empréstimo no banco. À noite, deito-me e vejo aquela imagem da minha casa", diz.
Enquanto Edna tenta perceber como vai erguer-se para seguir em frente, os filhos pedem para voltar.
"Choram muito, pedem para irmos para casa. Fui lá e mostrei como ficou. Agora perguntam quando é que voltamos e isso é doloroso porque nem eu sei", conta, ao lado da sala improvisada onde colegas ajeitam colchonetes e os filhos experimentam roupas acabadas de chegar.
No corredor, entre sacos de roupa, brinquedos e sapatos, há mochilas escolares que talvez não voltem a ser usadas tão cedo.
"Não sei se a escola vai abrir a tempo [em setembro] para as crianças voltarem, está cheia de lama", conclui Edna, com os filhos a correr à volta e outros a abraçarem-na quando ouvem que ela não sabe quando poderão regressar a casa.
No mesmo abrigo está Laura Delgado, 30 anos, também de Bela Vista, desempregada e mãe de três menores.
"Fiquei só com a roupa do corpo. A casa desabou uns 15 minutos depois de eu sair. No carnaval, consegui um trabalho temporário, juntei dinheiro e fiz a minha casa. Agora não tenho nada. Os meus filhos choram, querem ir para casa, mas não há casa para voltar", lamenta.
Lenine Sousa, 37 anos, pedreiro, morava em Vila Nova e pagava renda pela casa de telha que o temporal destruiu.
"A água entrou e levou tudo. Por sorte, as minhas filhas estavam de férias noutra ilha com a mãe. Fiquei apenas com a roupa que tinha no corpo", recorda, com a voz trémula.
Valdir Santos, da direção da Cruz Vermelha em São Vicente, coordena 35 voluntários no terreno.
"Estamos desde segunda-feira, das 07:00 até à noite, por vezes até à meia-noite, a prestar apoio a famílias em situação de vulnerabilidade extrema. Ajudamos a deslocar bens, damos roupas, alimentos, produtos de higiene. Mas há dificuldades: acessos cortados, ribeiras cheias, pedras no caminho", relata.
Marvaldo Delgado, 27 anos, juntou amigos e começou a recolher donativos.
Improvisaram um espaço com mais de seis barris de roupa -- separada para homens e mulheres -- e cerca de 50 voluntários dividem vestuário, cestas básicas, sapatos, água e mantas.
Ao lado, cozinham refeições quentes para famílias que perderam o fogão.
"Na segunda-feira conseguimos 150 refeições, ontem 600, agora já chegámos às 1.000. Há pessoas com a mesma roupa há três dias", refere.
O Governo cabo-verdiano decretou dois dias de luto nacional e declarou situação de calamidade por seis meses em São Vicente, Porto Novo (Santo Antão) e nos dois concelhos da ilha de São Nicolau.
Cidades e bairros inteiros ficaram inundados, com casas, estradas e pontes destruídas.
A Câmara de São Vicente começou a entregar subsídios às famílias das vítimas mortais e prepara apoios para desalojados, existindo ainda uma pessoa por localizar.
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