Apesar de várias tentativas, Lourenço "nunca conseguiu os papéis" para se legalizar no país.
As baixas temperaturas que Lourenço terá de suportar durante longas noites de trabalho em Manhattan intimidam mais este jovem imigrante ilegal português do que as promessas de deportação feitas por Donald Trump, de quem é um confesso admirador.
É precisamente numa obra junto à Trump Tower, um famoso arranha-céus em Manhattan construído pelo magnata e recém-eleito Presidente norte-americano, que Lourenço - nome fictício escolhido pelo imigrante de 30 anos para preservar a sua identidade - está a trabalhar neste momento, depois de 13 anos a viver ilegalmente nos Estados Unidos.
"Antes de começar esta entrevista, deixa-me mostrar-te a traseira do meu carro", disse à Lusa Lourenço, apontando para um autocolante colocado no vidro do automóvel e onde se podia ver o rosto de Donald Trump e o famoso ‘slogan’ de campanha do republicano: 'Make America Great Again' (Engrandecer de Novo a América).
"Tenho este autocolante há três meses. Antes não gostava do Trump, mas vi o que ele fez pelo país quando esteve no Governo. Ele é uma boa pessoa, ele vai por Deus e, para mim, é isso que importa. As pessoas estão com fé. Trump já sofreu um atentado e sobreviveu. Eu sinto que ele vai ajudar mesmo muito os cidadãos americanos", argumentou.
Apesar da sua jornada de trabalho começar às 22h00, Lourenço chega sempre com cerca de uma hora de antecedência. Vestido com uma camisa de flanela, o jovem explica que não quer chegar atrasado, mas admite que lhe custa trabalhar de noite devido ao frio que já se faz sentir em Nova Iorque em pleno mês de novembro.
Lourenço imigrou para Estados Unidos com a família, para tentarem alcançar "uma vida melhor financeiramente". A irmã conseguiu legalizar-se após casar com um cidadão norte-americano e, posteriormente, conseguiu que também o pai obtivesse autorização para viver e trabalhar no país. Mas, apesar de várias tentativas, Lourenço "nunca conseguiu os papéis".
Esta é uma realidade vivida por vários portugueses que estão há décadas no país e que, por diferentes motivos, nunca conseguiram legalizar a sua situação.
Donald Trump, que foi eleito na semana passado o 47.º Presidente norte-americano, teve como uma das suas maiores bandeiras de campanha a promessa de concretizar a “maior deportação em massa da história” de imigrantes ilegais, a quem acusou de "envenenar o sangue" dos Estados Unidos.
Há cerca de 11 milhões de imigrantes indocumentados nos EUA, segundo estimativas do Departamento de Segurança Interna referentes a 2022, o ano mais recente com dados disponíveis — embora Trump tenha afirmado, sem provas, que o número real é cerca do dobro.
Apesar da aparente contradição, muitos imigrantes ilegais apoiam Donald Trump e Lourenço é um deles.
"O Trump não vai prejudicar ninguém. Eu tenho a certeza absoluta que ele não vai. Pode prejudicar certas pessoas, mas vai ser uma coisa mínima. O foco dele é deportar os criminosos, as pessoas que, por exemplo, não estão a pagar as suas dívidas. Ele vai mandar embora os criminosos. Ele mesmo disse isso", defendeu o português.
"Mas também não tenho medo nenhum de ser apanhado e deportado. Eu sei que ele vai melhorar a economia e tudo o resto. Tenho o meu pai e a minha irmã aqui, que estão legais, então não me importo. Se eles estão bem, então eu não me importo de ter de sair", assumiu.
Contudo, Lourenço admitiu à Lusa que, "agora mais que nunca", está focado em casar com uma norte-americana para conseguir manter-se no país de forma legal.
"Antigamente não acreditava muito nisso, mas agora, que vejo a minha família a sair para fora do país, sim. Se houvesse uma oportunidade, eu casaria", disse, recordando que, como está de forma irregular nos Estados Unidos, não pode visitar Portugal, sob pena de não conseguiu entrar novamente em solo norte-americano.
Questionado sobre a dificuldade de arranjar trabalho em situação de clandestinidade, Lourenço respondeu: "não é fácil, mas com certos papéis consegue-se. Não são papéis legítimos, mas consegue-se arranjar trabalho".
No passado, Lourenço já foi "mais expressivo" no local de trabalho em relação ao seu apoio político. Contudo, agora prefere focar-se em "manter o bom trabalho" que tem e não mencionar aos seus colegas o apreço que nutre por Donald Trump, a quem atribui uma série de forças e qualidades em várias frentes.
"Ele tem uma capacidade extrema para negociações ou seja, ele foi eleito e automaticamente as guerras já querem parar. Todo o mundo quer voltar ao contrato de paz. E não é só isso, ele vai melhorar a economia, o dinheiro. Também a maneira como ele fala dos ‘gays’, dos transgéneros, tudo isso, que Deus só criou homem e a mulher", salientou o português.
"O Trump sempre fez o bem pela América. Ele tem uma atitude bruta a falar, é espontâneo, mas essa atitude não importa, o que importa são os atos, e ele tem mais atos do que a maioria dos Presidentes que já por cá passaram. Foi o Presidente que melhorou a economia", acrescentou Lourenço, antes de começar mais uma noite de trabalho nas ruas de Manhattan, no centro de Nova Iorque.
Além da vitória de Trump nas eleições realizadas em 5 de novembro, o Partido Republicano conseguiu o controlo do Congresso, um cenário que dará ao Presidente maior acesso a verbas federais para financiar o seu plano de deportação em massa de milhões de imigrantes indocumentados.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.