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Pequim acelera valorização do yuan em contexto de trégua comercial com EUA

"Se este ritmo se mantiver, o yuan poderá em breve romper a barreira simbólica dos 7 por dólar", considera a Gavekal Dragonomics.

08 de setembro de 2025 às 10:59

O banco central da China tem vindo a valorizar gradualmente o yuan desde maio, numa estratégia que poderá refletir tanto objetivos económicos internos como sinais políticos dirigidos a Washington, segundo um relatório do grupo de reflexão Gavekal Dragonomics.

Desde a trégua comercial com os Estados Unidos alcançada em maio, o Banco Popular da China (banco central) tem ajustado diariamente a taxa de referência do yuan, fazendo-a subir de 7,19 para 7,13 por dólar até agosto -- uma valorização de cerca de 1%. Mas na última semana de agosto, a instituição acelerou o ritmo, fortalecendo a taxa em mais 300 pontos-base em apenas cinco sessões, para 7,10 por dólar.

"Se este ritmo se mantiver, o yuan poderá em breve romper a barreira simbólica dos 7 por dólar", observou a Gavekal Dragonomics.

Segundo o relatório, esta mudança coincide com o discurso do presidente da Reserva Federal dos EUA, Jerome Powell, em Jackson Hole, onde manifestou abertura a um corte de juros. O banco central da China começou a fixar o yuan mais forte logo na segunda-feira seguinte, embora o índice do dólar (DXY) tenha permanecido estável, sugerindo que a decisão chinesa não foi motivada diretamente pelos mercados cambiais.

O 'think tank' aponta várias hipóteses para esta decisão. Uma delas é que o banco central chinês espera uma tendência de enfraquecimento do dólar nos próximos meses, à medida que os mercados antecipam taxas de juro mais baixas nos Estados Unidos e possíveis pressões políticas sobre a independência da Fed, por parte da Administração do Presidente Donald Trump.

Outra possibilidade é que a valorização do yuan sirva para "libertar pressão acumulada" e manter os mercados alinhados com os sinais do PBOC. Isto permitiria, segundo o relatório, cortar juros mais tarde este ano sem gerar desvalorizações abruptas da moeda.

O gesto poderá também ser interpretado como uma tentativa de melhorar o clima nas negociações comerciais com os EUA. "Ao mostrar que não está a desvalorizar o yuan para compensar os efeitos das tarifas norte-americanas, o PBOC ajuda a criar uma atmosfera mais propícia a um eventual acordo", considera a Gavekal, recordando que o vice-ministro chinês do Comércio, Li Chenggang, esteve em Washington entre 27 e 29 de agosto.

Apesar da valorização nominal, o impacto no índice cambial efetivo (CFETS) tem sido limitado. O índice situava-se nos 96,57 pontos no final de agosto, um nível semelhante ao de abril. Para regressar aos valores de 2023 e 2024, em torno de 99, o yuan teria ainda de se valorizar mais de 2% face ao dólar.

"Romper o nível de 7 [yuan] por dólar não sinalizaria por si só uma grande mudança de política", sustenta a Gavekal. "A apreciação continua modesta funciona mais como um sinal do que como uma alteração significativa nos preços relativos", indica.

O relatório alerta, no entanto, para fatores estruturais que continuam a pesar sobre o yuan. "O mercado imobiliário voltou a enfraquecer, o estímulo ao consumo está a perder eficácia e o investimento empresarial está em retração", aponta o instituto de análise. Esses fatores devem penalizar o crescimento na segunda metade do ano, tornando improvável uma valorização sustentada da moeda.

"A estratégia mais plausível é a manutenção de uma apreciação cautelosa", conclui a Gavekal.

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