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Tensão em cidade espanhola com 'caça ao imigrante'

Homem espancado por magrebinos gera revolta em cidade espanhola, aproveitada pela extrema-direita e movimentos anti-imigração.

16 de julho de 2025 às 01:30

Lojas fechadas, ruas desertas, noites de terror. A pequena cidade de Torre Pacheco, no sudeste de Espanha, está transformada num imenso barril de pólvora. Dezenas de encapuzados, ultranacionalistas, armados de paus e barras de ferro, muitos deles chegados de outros lugares, patrulham as ruas, à procura de imigrantes, sobretudo os de origem norte-africana. Gritam "Mouros, filhos da p…" e "Viva Franco". Atacam quem lhes aparece ao caminho.

No bairro de San Antonio, onde vive grande parte da comunidade marroquina, a situação é diferente. Grupo de jovens magrebinos, preparados para o pior, fazem-lhes frente. O confronto é inevitável, apesar da presença reforçada da Guarda Civil, que já contabiliza mais de uma dezena de detenções, perto de uma centena de pessoas identificadas e dá conta de vários feridos.

O governo espanhol e a comunidade magrebina apelam à calma, mas poucos acreditam que o regresso à tranquilidade esteja para breve. A população sente que a tempestade ainda não passou.

Apesar de um terço dos 40 mil de Torre Pacheco ser imigrante, nada fazia prever esta explosão de ódio e racismo que a cidade da província de Múrcia tem vivido deste a passada quinta-feira. "Moro aqui há 25 anos e nunca tive problemas com meus vizinhos, que são muito gentis e amigáveis", garantiu Nabil Moreno, líder da comunidade muçulmana, à BBC. A grande maioria chegou ali para trabalhar na agricultura, integrou-se na comunidade local, e a convivência com quem ali nasceu sempre foi pacífica.

Ultimamente, havia relatos da presença de delinquentes magrebinos, que geravam um clima de alguma insegurança, sobretudo junto das crianças, mulheres mais jovens e idosos, mas nada de muito significativo. Até quinta-feira, quando Domingo, um reformado de 68 anos, fazia a sua caminhada matinal, em direção ao cemitério, quando três jovens norte-africanos lhe apareceram pela frente: um de telemóvel em punho, outro gritando coisas "em língua estrangeira", segundo contou mais tarde, e um terceiro que partiu para a violência, agredindo-o sem dó nem piedade. Domingo, visivelmente maltratado, com sangue por todo o corpo, não consegue compreender o motivo da agressão. Aparentemente, não se tratou de um roubo, ‘apenas’ um ato de diversão. A ideia seria fazer uma gravação do sucedido para publicar nas redes sociais. Dois foram apanhados pouco depois, o terceiro mais tarde, no país basco, quando alegadamente se preparava para fugir para França. Estava aceso o rastilho que incendiou Torre Pacheco.

Aproveitando a revolta popular, os movimentos de extrema-direita e anti-imigração rapidamente se organizaram e desceram à rua para uma ‘caça ao imigrante’, nas palavras do ministro do Interior espanhol, Fernando Grande-Marlaska. Mais do que o controlo da situação em Torre Pacheco, o governo espanhol teme que a violência possa alastrar a outras regiões.

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