Enquanto o Sol se punha no Sul da Califórnia e 35 milhões de pessoas assistiam ao funeral do seu pai, Ron Reagan fazia o elogio final ao suposto herói de George W. Bush: “O meu pai era um homem profundamente religioso. Mas nunca cometeu o erro fatal, de tantos políticos, de usar a fé para sacar vantagens políticas. É certo que, depois de ser alvejado e quase assassinado no início da presidência, começou a acreditar que Deus o tinha salvo para que pudesse fazer o bem. Mas aceitou-o como uma responsabilidade, não como um mandato. Existe uma grande diferença”.
Embora Ron assegure que a referência não era pessoal, o político americano que melhor corresponde ao perfil criticado pelo filho ateu de Ronald Reagan é o único que termina sempre os discursos com uma bênção. Se restava alguma dúvida quanto à opinião sobre George W. Bush, o filho mais novo dos Reagan foi aos principais programas televisivos criticar a invasão do Iraque, pedir o voto nos democratas e lembrar que a actual administração não respeita os ideais do seu pai. “Bush mentiu para nos empurrar para a guerra. Foi um erro terrível de política externa”, afirmou Ron, que também criticou abertamente a tortura, uma palavra que nem sequer os democratas usam para se referirem aos acontecimentos de Abu Ghraib.
Embora tenha sido considerado o favorito dos quatro filhos de Ronald Reagan – dois de cada casamento –, Ron revoltou-se contra o cliché mais tradicional.
Quando começou a estudar em Yale, o pai concorria às eleições para a presidência contra Gerald Ford e tanta atenção transtornou-o. Abandonou a universidade e anunciou que se ia dedicar ao seu verdadeiro sonho, secreto até então: a dança. Juntou-se ao Joffrey Ballet, para surpresa e incómodo do pai, que não entendia por que é que o filho decidira dedicar-se a uma profissão tão feminina. Ron assegura que o pai sempre o apoiou, mas nunca assistiu a nenhuma das suas actuações.
“É sobejamente conhecido que os pais de Ron nunca assistiram a nenhuma actuação de ballet do filho. Ron fala dos pais com muito carinho. Mas estas ausências são estranhas e deixaram marcas profundas”, escrevia em 1980 um colunista do semanário ‘Time’. A Ron não se lhe ocorreu despir-se para a ‘Playboy’, como fez a irmã, Patti, mas o ballet não parecia suficientemente ortodoxo para o conservador Reagan, o presidente machista, obcecado com os homossexuais e os seus “pecados”. Ron casou com uma psiquiatra de Seattle, embora alguns grupos de defesa dos direitos dos ‘gays’ assegurem que o pai o obrigou a desaparecer devido ao seu comportamento “suspeito”. Ronald Reagan comentou: “Ele é um homem completo, certificámo--nos disso”.
Em 1982, a fotografia de Ron Reagan na fila para receber o subsídio de desemprego, depois de ser despedido da companhia, correu Mundo. Talvez o mais chocante para o primeiro presidente que proclamava a fé em Jesus Cristo e que aproveitava cada oportunidade para rezar, fosse que o filho tivesse saído radicalmente ateu.
Hoje, Ron afirma acreditar vagamente no budismo, por causa dos valores de “amabilidade e compaixão”, mas a sua oposição à religião estabelecida permanece intacta. Questionado sobre se gostaria de se dedicar à política e de chegar a presidente, Ron respondeu: “Sou inelegível. Sou ateu. Como todos sabemos, é uma coisa que as pessoas nunca aceitariam”.
A recusa das políticas mais conservadoras do pai, de quem sempre louvou a “integridade”, foi o passo seguinte, e chegou mesmo a juntar--se à Creative Coalition, um grupo de actores ao qual pertence Susan Sarandon – do mais esquerdista que se pode encontrar em Hollywood –, para defender os direitos cívicos. Quando lhe pediram que comentasse a candidatura de Bush à nomeação republicana em 2000, Ron respondeu: “Qual é o seu mérito? O facto de já não ser um bêbado odioso?”
A única resposta de Bush às palavras de Ron no enterro do seu suposto ídolo foi: “Creio que é muito importante que as pessoas não tentem atirar pedras ao telhado do vizinho quando elas próprias têm telhados de vidro”.
1958 - Nasce em Los Angeles, onde é criado como filho do governador da Califórnia
1976 - Abandona a universi--dade de Yale, torna-se baila-rino e junta-se ao Joffrey Ballet
1989 - Junta-se a um grupo de actores, ao qual pertence Susan Sarandon, para defender causas democratas
2003 - Opõe-se à guerra no Iraque e exige que não se use o nome de Ronald Reagan
2004 - Pede o voto nos democratas e critica Bush no funeral do pai
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