Nova semana de debates e no arranque houve logo uma novidade: Vitor Gonçalves saiu de cena e deu lugar a Carlos Daniel. Começou na moderação do debate Seguro/Jorge Pinto e a mudança foi como da noite para o dia. Daniel vem com vontade e está à vontade. Ele consegue fazer com que a sua presença quase não se note até ao momento em que é necessário que se repare na mesma. Deixa a discussão fluir, faz com que os debatentes cumpram os tempos e intercala os assuntos com elegância. Claramente uma mais-valia que não se entende como permanece numa espécie de ‘banco dos suplentes’ das caras da informação da RTP.
No debate seguinte assistimos ao regresso de José Alberto Carvalho. Confesso que já me mete dó vê-lo naquelas andanças. Coube-lhe a sorte de levar mais uma reprimenda do Almirante acerca do alinhamento de temas do debate e de ouvir observações críticas de António Filipe sobre a condução do mesmo. Foi, ainda assim, o frente a frente que lhe correu “menos mal”.
De regresso ao serviço público de televisão há uma nota a fazer sobre o debate Seguro/Marques Mendes: em termos de resultados de audiência ele foi mais uma demonstração flagrante de que a erosão do público da RTP é maior e mais preocupante do que se poderia pensar. O confronto de ideias e de projetos dos dois candidatos teve pouco mais de 500 mil pessoas a assistir. Para se ter ideia do que isso representa, os debates mais vistos ocorrem fora da RTP e têm todos mais de um milhão de telespectadores. O programa foi mais uma oportunidade para corroborar a noção de que Carlos Daniel deve ser um dos jornalistas da TV que melhor se prepara para as moderações de debate: conhece os intervenientes e os programas e está a par da atualidade.
No pólo oposto, um dia mais tarde, o debate seguinte trouxe o regresso da moderação de Zé Beto que se senta com quaisquer dois candidatos como se senta para apresentar jornais: sem ler nada, sem saber de nada e, possivelmente, em cima da hora. Ao vê-lo ‘em palpos de aranha’ no meio da troca de palavras entre Catarina Martins e Cotrim, tive uma espécie de momento de epifania: apercebi-me de que este Zé Beto é a exata figura do Tonecas, das Lições do Tonecas, se o conhecêssemos em adulto.
Clara de Sousa regressou para mediar o diálogo entre Catarina Martins e Seguro. Torna-se repetitivo enaltecer as virtudes da jornalista da SIC e, talvez por causa dessa excelência, o olhar acaba por se deter em pequenos pormenores que possam diminuir a qualidade do seu desempenho. Recentemente mencionei aqui o quão desastroso foi ter recebido e, naturalmente, acatado uma instrução da régie que permitiu, na parte final de um debate, uma espécie de ‘tempo extra’ a Marques Mendes. Desta vez é um detalhe técnico que pode causa igual estrago: falo de opções da realização em termos de escolha de planos que são exibidos. O uso e abuso de planos gerais no debate (alguns com longos movimentos de câmara associados) é um recurso que retira intensidade ao programa e que expõe (sem necessidade) a moderadora, que deve ser a figura menos visível do debate.
Quem beneficiaria com uma total invisibilidade seria José Alberto Carvalho: era preferível não estar ali. Foi ele quem apresentou o debate entre Cotrim e Marques Mendes e começa a ser evidente que quando os candidatos se sentam naquela mesa o fazem com a clara noção de que o podem ignorar. Neste debate a situação chegou ao absurdo de que a primeira questão colocada (relacionada com a greve geral) foi olimpicamente desprezada pelos dois candidatos durante 14 (!) minutos e acabou por ser um deles quem relembrou que a mesma não tinha sido respondida. A RTP conseguiu atalhar a tempo um rumo que parecia condenado ao insucesso substituindo o moderador inicial dos debates por um outro muito mais habilitado. A TVI não perderia por seguir o mesmo exemplo.
Adivinha
Qual a diferença entre as audiências do Conta Lá e as do V+? É que o público do Conta Lá ninguém o V+ e o do V+ não está Lá nem Conta.
Funcionária do mês
Paula Costa Simões deve ser a funcionária do mês de dezembro na TVI/CNN. Numa televisão com um diretor de informação, dois diretores-executivos e três subdiretores foi para ela, sozinha, o trabalho de tomar conta de toda a informação uma vez que diretor foi passar uns dias a Macau com agentes de viagens e turismo, um diretor-executivo está ‘inativo’ e o outro nunca se conheceu atividade, e os três subdiretores são uma figura de estilo. Paula Costa Simões está, diga-se, longe de ter perfil de líder mas não se furta ao trabalho. Esta gente fia-se que Mário Ferreira, por ser um empresário ligado aos navios de cruzeiros, se conforme com ficar a ver navios mas pode ser que e enganem e quem um dia destes vão todos para o estaleiro.
Como deitar fora uma tarde de domingo
A proposta da RTP para as tardes de domingo até começa bem e está pensada com o foco certo: acabou o bom tempo, as pessoas estão mais em casa nos fins de semana e existe uma maior disponibilidade para umas horas de sofá a ver televisão. Ao sábado não parece existir um problema: as ‘Estrelas ao Sábado’, entregues à competente Isabel Silva, e o ‘Preço Certo’, com o imbatível Fernando Mendes, asseguram bons resultados ao ponto da SIC ser copiosamente batida pela estação pública. Ao domingo a catástrofe vem depois do cinema com um programa inenarrável chamado ’Domingo Há Desgarrada’, em que tudo está errado: conceito, cenário, ritmo, apresentadores. Não há nada que não pareça saído de um (mau) programa dos anos 80.
Liga Idália
O que há uns meses parecia pouco provável, andava nas últimas semanas para acontecer e, finalmente, sucedeu. A informação da RTP, em queda a pique desde a chegada de Vítor Gonçalves à direção, conseguiu ficar em último lugar nos dois horários e em todos os dias da semana passada. Os outros dois contendores repartem, entre si, os sucessos: a SIC parece mais forte na hora do almoço e a TVI beneficia de boas prestações no horário de acesso e fica mais vezes à frente na hora do jantar.
Tudo bem. Ou tudo mal?
Intervalo na emissão da CNN. Entra um separador de publicidade. Logo a seguir aparece esta moça. É identificada graficamente como “repórter”. Usa um microfone com a identificação de um canal de, chamemos-lhe, notícias. Faz uma intervenção que é claramente de promoção de marcas e eventos. Parece que já ninguém estranha quando a coisa é feita pela rapaziada do Nuno Santos: o vale tudo está instituído. A Comissão da Carteira Profissional de Jornalista ignora, a ERC presumo que boceje, o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas existe?
Rebobina e toca o mesmo
Muitas vezes ouvimos dizer que é um crime ver um arquivo como o da RTP ao abandono. Pois o ‘primeiro canal’ decidiu atuar nesse campo e colocar no ar um programa chamado ‘Rebobinar Portugal’. Depois de ver o episódio de estreia sou forçada a concluir que, se é um crime o arquivo estar ao abandono, é um ultraje usá-lo para um conteúdo como o que foi exibido. O programa parece, ele mesmo, saído do arquivo: é antiquado na estética, indigente nos textos e patético no propósito. O arquivo da RTP conserva um espólio que merecia um tratamento que valorizasse o seu valor histórico e didático. Em vez disso está ao serviço de uma miudagem sem antiguidade para ter memória nem leituras para ter cultura.
Tele-escola
Na TVI há uma espécie de campanha de dinamização cultural a funcionar em horário pré-laboral. O curso de abertura é o de Português e é lecionado pela Dona Idália, a professora, primária, que ninguém pediu (estou certa de que a mestra não deixará de captar a subtileza da colocação da vírgulas na frase anterior). Podia deter-me aqui sobre o ridículo de mandar mensagens para um grupo de 180 pessoas (onde estão presentes coordenadores e diretores) a quem a pedagoga se julga mandatada para instruir ainda antes das 8 da manhã. Mas não o faço porque descortinei uma intenção de crítica letal camuflada nas lições de português. É que não escapou a ninguém que a Idália aproveitou para dar uma ferroada no seu diretor, que foi numa excursão com agentes de viagem a Macau:“uns trabalham, enquanto outros se divertem”...
Jornalismo de aviário
Há quem critique a profusão de licenciaturas em jornalismo ou comunicação e, por essa via, considere que o que chega às redações é uma espécie de ‘jornalismo de aviário’. Para os lados de Queluz de Baixo a expressão é utilizada, mas com um novo e diferente âmbito. Parece que uma das portas de entrada para a redação é, justamente, a do aviário. Afiançam-me que uma nova aquisição foi sugerida pela Idália a um acionista sem passar pela chancela da direção. Com isto dos aviários e das aves eu lembrei-me logo do povo quando diz que “triste é a casa onde a galinha canta e o galo cala”. E por falar em aves, é bom que não se esqueçam de que Trigueirão é uma das espécies mais comuns entre a passarada que esvoaça no nosso país.
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