Dizia uma mulher a um candidato em Matosinhos: eu sou socialista, mas nas autárquicas vou pelas caras. O candidato era Narciso Miranda, um dos vários políticos da nebulosa PS e ex-PS no concelho.
Votar pelas caras é, de facto, um elemento importante na decisão dos eleitores. Conhecer os candidatos, em pessoa ou pelas notícias, permite avaliar o seu carácter e a sua personalidade, como fazemos no dia-a-dia com quem vivemos ou lidamos. Assim, se o candidato é simpático, atrai o interesse, a boa-vontade — e o voto de cidadãos. Também acontece nas eleições legislativas e presidenciais.
Mas a simpatia, quando não é um traço de personalidade, é um comportamento que se treina. Os americanos fizeram disso uma técnica. O título dum dos livros mais vendidos de sempre, de Dale Carnegie, é todo um programa: ‘Como Conquistar Amigos e Influenciar Pessoas’.
Transformada em técnica, a simpatia continua a ser importante, porque é melhor lidar com simpáticos do que com antipáticos. Mas deixa de ser um elemento avaliador significativo em política, dado que todos podem adquirir a técnica para influenciar os eleitores.
Assim, por trás duma cara simpática pode estar um incompetente, ou um aldrabão, que promete o que sabe que não pode fazer, ou mesmo um corrupto, que sorri hoje aos munícipes para roubá-los amanhã, todos usando da simpatia como arma de propaganda.
Quem vê caras simpáticas não vê corações. E podem ser corações com pêlos, cordelinhos que hão-de mexer no segredo de gabinetes e almoços.
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