Armando Esteves Pereira
Diretor-Geral Editorial AdjuntoSábado eu vi o inferno como Dante não o descreveu no planalto da Beira, paralelo à EN 17 entre Guarda e Coimbra. Visto do alto da serra esse planalto bucólico tinha-se transformado num capacete de chamas, fumo e cinzas com um cheiro irrespirável por muitas dezenas de quilómetros. As populações abandonadas e desesperadas com o fogo às portas sentiram na pele que pertencem à parte do País abandonado, esquecido pelo poder central, entregues a um poder local pouco qualificado e pouco eficiente, que gasta mais dinheiro em obras de vã utilidade do que na prevenção de riscos básicos. É o País esquecido que arde nas Beiras, no Minho ou em Trás-os-Montes. Um País onde o Estado fechou escolas, hospitais, postos da GNR porque já não havia gente e essas medidas agravaram o êxodo. Mas há muita gente que não desiste da sua terra, apesar de em Lisboa alguns políticos e influenciadores acreditarem que no Interior vivem pessoas "pobres, isoladas e com problemas mentais", como disse uma comentadora num canal televisivo. Comentários dessa índole só revelam um desconhecimento do País real, porque as estatísticas não contam tudo. Apesar da desertificação humana acentuada, é um território rico, com pessoas extraordinárias, com menos problemas mentais do que os seus congéneres em Lisboa. Mas o Interior já tem pouco peso político, elege poucos deputados e por isso é ostracizado e só é lembrado pelo poder quando as chamas devoram o território e as televisões mostram as cinzas desse abandono.
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