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Jorge Sampaio: o presidente das emoções

Foi ativista estudantil, lutou contra a ditadura, defendeu presos políticos e continuou, após o 25 de abril de 1974, a defender os princípios democráticos e republicanos.

11 de setembro de 2021 às 09:39

Emotivo, mas de convicções fortes, homem assumidamente de esquerda e defensor dos ideais da democracia, da liberdade e da solidariedade, é assim que o recordam os mais próximos, mas é também esse o legado, ou parte dele, que deixa aos portugueses. Internado desde 27 de agosto no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, devido a dificuldades respiratórias, Jorge Sampaio, antigo Presidente da República, faleceu ontem, aos 81 anos. Era casado com Maria José Ritta, com quem teve dois filhos, Vera e André.

Jorge Fernando Branco de Sampaio nasceu a 18 de setembro de 1939, em Lisboa. Seu pai, Arnaldo Sampaio, era médico especialista em Saúde Pública, e sua mãe, Fernanda Bensaúde Branco, era professora particular de inglês. Aluno de Direito na Universidade de Lisboa, onde completou a licenciatura, foi ali que começou a distinguir-se, primeiro como ativista nas lutas estudantis contra a ditadura e, já advogado, como defensor de presos políticos encarcerados pelo Estado Novo.

Após o 25 de abril de 1974, manteve-se fiel aos princípios democráticos e republicanos. Fundou o Movimento de Esquerda Socialista e filiou-se, mais tarde, no PS, partido de que se tornou dirigente, deputado e, em 1989, secretário-geral.

É nesse mesmo ano que decide concorrer à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, numa coligação histórica formada entre PS e PCP. Foi reeleito para o cargo em 1993, mas saiu da autarquia a meio do mandato, em 1995, para se candidatar a Belém, deixando nas mãos de João Soares a liderança da autarquia.

A 14 de janeiro de 1996, foi eleito, à primeira volta, Presidente da República, sucedendo no cargo ao seu camarada Mário Soares. Foi investido no dia 9 de março de 1996. Exerceu dois mandatos como chefe de Estado, permanecendo no cargo até 2006.

Foi um conhecido defensor da causa e independência de Timor -Leste, mas o ato mais mediático dos seus dois mandatos ocorreu já em finais de 2004, quando utilizou a chamada ‘bomba atómica’. Dissolveu a Assembleia da República e fez cair o Governo de Pedro Santana Lopes. Este substituíra José Manuel Durão Barroso nas funções de primeiro-ministro, após a sua nomeação para liderar a Comissão Europeia.

Sampaio manteve, ao longo dos anos, uma constante intervenção político-cultural, nomeadamente em jornais e revistas. Agraciado com várias condecorações, recebeu diversas distinções nacionais e estrangeiras.

Após a saída da Presidência, foi nomeado, em 2006, pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na altura Kofi Annan, enviado especial para a Luta contra a Tuberculose. Já entre 2007 e 2013, tornou-se alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações.

Nos últimos anos, agarrou a causa dos refugiados, com a Plataforma Global para os Estudantes Sírios. Após a recente tomada do poder no Afeganistão pelos talibãs, aquele organismo criou um programa de emergência de bolsas de estudo para jovens afegãs. Jorge Sampaio foi um homem solidário até ao fim.

Velório este sábado no Museu dos Coches e funeral no domingo com honras de Estado nos Jerónimos

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