Candidatos vão a segunda volta inédita no partido este sábado.
1 / 4
É já este sábado que Rui Rio e Luís Montenegro disputam a liderança do PSD numa segunda volta inédita no partido.
Os dois candidatos apresentam-se de formas distintas e possuem também abordagens diferentes no que toca à forma como querem o Partido Social-Democrata. Conheça os dois candidatos.
Rui Rio, o "corredor de fundo" que quer ser líder até 2022
Rui Rio, que na juventude corria os 100 metros, já se assumiu como um "corredor de fundo" na política, e quer renovar no sábado o mandato como líder do PSD até 2022.
Se o fizer, será apenas o segundo presidente do PSD em exercício a ser reeleito em diretas, já que, até agora, só Pedro Passos Coelho o tinha conseguido (por três vezes, mas sempre sem oposição). Por outro lado, também apenas um líder se tinha recandidatado e perdido em diretas, Marques Mendes, em 2007 contra Luís Filipe Menezes.
Apesar de já ter confessado que, por vezes, se sente como um "extraterrestre" na política portuguesa ou o "político do Norte que não percebe nada disto", a principal mensagem de Rio ao longo dos últimos dois anos em que comandou os sociais-democratas foi a defesa de consensos alargados entre os partidos em nome do interesse nacional.
Há dois anos, chegou a presidente do PSD com a imagem de economista austero que cultivou ao longo de 12 anos à frente da Câmara Municipal do Porto e o primeiro mandato foi marcado pela tensão interna, com o partido a vencer apenas uma das três eleições que disputou, as regionais da Madeira.
Depois das eleições legislativas de 06 de outubro, em que o PSD obteve 27,7% dos votos (correspondentes a 79 deputados), contra 36,3% do PS (108 deputados) - Rio manteve um 'tabu' de duas semanas sobre a recandidatura, mas acabou por avançar por considerar que poderia ser "útil ao país".
Por várias vezes, Rio salientou que só voltou a assumir um cargo de protagonismo na vida política para o PSD poder contribuir para as reformas que entende serem essenciais ao país, apontando quatro exemplos: sistema político, segurança social, descentralização e justiça.
Há dois anos, Rio apresentou-se aos militantes prometendo "um banho de ética" na política e, na noite da vitória, avisou que o PSD "não foi fundado para ser um clube de amigos".
No plano interno, a direção de Rio contou no primeiro mandato com duas baixas: o seu primeiro secretário-geral, Feliciano Barreiras Duarte, demitiu-se apenas um mês depois de eleito, na sequência de notícias relacionadas com irregularidades na sua licenciatura e dúvidas sobre subsídios que recebia enquanto deputado.
A segunda foi a demissão do vice-presidente Manuel Castro Almeida, em julho passado, por divergências políticas e com acusações de "centralismo" ao atual presidente.
Depois de ter prometido "uma oposição firme, mas não demagógica" ao Governo, Rui Rio assinou em abril de 2018 dois acordos com o executivo: um sobre os princípios gerais do processo de descentralização e outro em que PSD e o executivo concordam que Portugal não poderia perder fundos no próximo quadro comunitário.
Perante críticas internas de que o partido estaria a ser "uma muleta do Governo", Rio contrapôs que quando os entendimentos "são bons para o país, são bons para o PSD".
Nos últimos meses, fruto das campanhas eleitorais para o país e para o partido, Rio mostrou uma faceta mais descontraída, dançando em Santarém e tocando bombo e bateria num arraial minhoto, e até foi ao programa de entretenimento das manhãs da SIC.
Apesar de não ter cozinhado, Rio fez uma corrida numa pista de carrinhos com a apresentadora Cristina Ferreira e revelou a sua preocupação com a saúde e com a escolha dos suplementos nutricionais: "Tomo muitas vezes magnésio, vitamina B3, quando estou em Lisboa tomo zinco, quando estou no Porto tomo selénio", detalhou.
Nascido no Porto a 06 de agosto de 1957, 62 anos, Rui Rio ganhou visibilidade como presidente da Câmara Municipal do Porto durante três mandatos, entre 2001 e 2013, mas o percurso político do militante do PSD já tinha começado bastante antes, na Juventude Social Democrata.
Rio foi vice-presidente da Comissão Política Nacional da JSD entre 1982 e 1984 e entre 1996 e 1997 foi secretário-geral do PSD, quando era presidente do partido o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Nesse período, o social-democrata travou algumas guerras internas devido ao processo de refiliação de militantes que levou a cabo, gerando muitos anticorpos no aparelho do partido -- chegou a propor colocar um relógio de ponto na sede do partido para controlar as entradas dos funcionários.
Marcelo Rebelo de Sousa foi mantendo Rio no cargo, mas este acabaria por sair pelo seu próprio pé, depois das autárquicas de 1997, em divergência com o presidente do partido.
O ex-autarca do Porto foi vice-presidente do partido com três líderes: de 2002 a 2005, com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, e mais tarde, entre 2008 e 2010, com Manuela Ferreira Leite.
Estudou no Colégio Alemão e licenciou-se em Economia pela Universidade do Porto -- tendo sido eleito pela primeira vez presidente da Associação de Estudantes da faculdade em 1981 --, e manteve sempre um percurso profissional como economista, tendo chegado à Assembleia da República em 1991, onde foi deputado durante dez anos.
Depois das últimas legislativas, regressou ao parlamento como deputado em outubro passado - apesar de ter confessado que a função não o entusiasma - e até assumiu a liderança parlamentar até ao próximo Congresso, devido ao período de disputa interna do PSD.
Adepto do Boavista e praticante de vários desportos na juventude, opôs-se enquanto deputado ao chamado 'totonegócio', que previa que parte das receitas do totobola fossem entregues aos clubes de futebol, e foi um rosto quase isolado na sua bancada a favor da interrupção voluntária da gravidez.
Casado e com uma filha, Rio sempre teve uma vida pessoal recatada, marcada na infância pela morte do irmão. Agnóstico, tem como 'hobbies' as corridas de automóveis, a astronomia e a bateria, instrumento que tocava quando integrou uma banda na sua juventude.
Montenegro, o desafiador que quer suceder a Rio e ganhar o País
Luís Montenegro, que se notabilizou como rosto do 'passismo' no parlamento nos anos da 'troika', quer no sábado chegar a líder do PSD e destronar Rui Rio após dois anos de um mandato em que simbolizou a oposição interna.
Se conseguir vencer a segunda volta, no próximo sábado, Montenegro estará, desta vez, fora da Assembleia da República e terá de lidar com um grupo parlamentar escolhido pelo seu antecessor - tal como aconteceu a Rio -, mas já garantiu que contará com os 79 deputados do PSD.
Como metas eleitorais, Luís Montenegro apontou à vitória nas autárquicas de 2021 e nas duas próximas eleições legislativas, ambicionando até a maioria absoluta.
O antigo líder parlamentar do PSD entre 2011 e 2017 - o presidente de bancada mais duradouro entre os sociais-democratas - chegou a ponderar uma candidatura à liderança do partido há dois anos, quando Pedro Passos Coelho anunciou que se não se recandidataria na sequência do mau resultado nas autárquicas, mas acabou por concluir que não estavam reunidas as condições para avançar "por razões pessoais e políticas".
Mas logo em fevereiro de 2018, no Congresso de aclamação de Rio, Montenegro deixou um aviso de que poderia vir a disputar-lhe o lugar: "Conhecem a minha convicção e a minha determinação, se for preciso estar cá, eu cá estarei, para o que der e vier (...) Desta vez decidi não, se algum dia entender dizer sim, já sabem que não vou pedir licença a ninguém".
Tal como anunciou nesse Congresso, Luís Montenegro deixaria o parlamento em abril de 2018, 16 anos depois de tomar posse como deputado, e foi expressando pontualmente as suas divergências com a direção de Rui Rio.
Em outubro de 2018, ajudou a 'travar' a realização de um congresso extraordinário, promovido por André Ventura - que, entretanto, abandonou o PSD e fundou o Chega - mas a tensão interna abaria por 'explodir' em janeiro.
Em 11 de janeiro, Luís Montenegro desafiou Rui Rio a convocar eleições antecipadas no PSD, dizendo que não se resignava "a um PSD pequeno, perdedor, irrelevante, sem importância política e relevância estratégica".
O presidente do PSD não aceitou o repto para marcar diretas um ano antes do previsto, mas levou a votos uma moção de confiança à sua direção, que foi aprovada em Conselho Nacional com 60% dos votos.
Na sequência dessa derrota, Montenegro defendeu que o seu desafio de clarificação "acordou um gigante adormecido" que é o PSD, e prometeu reserva pública nos meses seguintes quanto às divergências em relação a Rui Rio, e que cumpriu até às legislativas, anunciando três dias depois que seria candidato à liderança.
Depois do Conselho Nacional de janeiro, terminou as suas colaborações regulares com órgãos de comunicação social e, segundo noticiou o Expresso, frequentou no verão um programa de gestão avançada para executivos e líderes do Instituto Europeu para Administração de Empresas em França.
Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves, 46 anos, e advogado de profissão, destacou-se como deputado -- sempre eleito por Aveiro - e, sobretudo, como líder parlamentar do PSD.
Assumiu o cargo já após a vitória de Pedro Passos Coelho nas legislativas, em junho de 2011, e foi, com Nuno Magalhães, então líder parlamentar do CDS-PP, a dupla de defesa, na frente parlamentar, da coligação de direita durante os anos da intervenção externa da 'troika' em Portugal.
Vem desse período - em janeiro de 2014 - a frase polémica de que "a vida das pessoas não está melhor, mas a do país está muito melhor", que lhe viria a merecer muitas críticas.
Montenegro estreou-se no parlamento aos 29 anos, em 2002, quando Durão Barroso era presidente do PSD e primeiro-ministro, depois de ter iniciado uma carreira política que começou na JSD e passou pela Câmara Municipal de Espinho, onde foi vereador.
Nas autárquicas de 2005, candidatou-se a presidente do município, mas foi derrotado por José Mota, do PS.
Nas disputas internas no PSD, Luís Montenegro foi tendo opções diferentes: nas diretas de 2007, entre Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes, foi mandatário distrital do ex-autarca de Gaia; um ano depois, assumiu o lugar de porta-voz da candidatura à liderança de Pedro Santana Lopes, contra Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho; já em 2010 apoiou Passos Coelho, contra Paulo Rangel e José Pedro Aguiar-Branco; nas últimas, em 2018, apoiou Santana Lopes contra Rui Rio já na reta final da campanha interna.
Montenegro foi apoiante da candidatura do atual Presidente da República, e Marcelo Rebelo de Sousa já retribuiu quando lhe entregou, no início do seu mandato, a medalha de ouro de Espinho: na ocasião, elogiou as suas "qualidades invulgares" e vaticinou-lhe "muitos sucessos políticos" ainda ao longo do seu mandato em Belém, que só termina em 2021.
A sua alegada pertença à mesma loja maçónica do ex-diretor dos serviços de informação Jorge Silva Carvalho -- na atual campanha interno negou alguma vez ter pertencido à maçonaria -- e as faltas parlamentares para assistir a jogos do FC Porto, clube do qual é adepto, e da seleção nacional foram algumas das polémicas que viveu na Assembleia da República.
Em junho do ano passado, Luís Montenegro viria a ser constituído arguido -- a par dos então deputados Hugo Soares e Luís Campos Ferreira - pelo alegado crime de recebimento indevido de vantagem no caso das viagens do Euro 2016, tendo negado então a prática de qualquer crime e garantido que essas viagens foram pagas a expensas próprias, num processo ainda em investigação.
Na campanha interna, foi, tal como o seu adversário Rui Rio, ao programa das manhãs da SIC, onde contou à apresentadora Cristina Ferreira que a sua alcunha de infância era 'Ervilha' - por ser "redondinho" e ter olhos verdes - e no qual fez um dueto com Tony Carreira a cantar o "Sonhos de Menino", garantindo que liderar o PSD não estava entre eles.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.