Jovem de 16 anos mata irmã e dorme com o corpo três dias. Vítima foi enterrada junto à casa

Crime aconteceu em Peniche. Desfecho fatal aconteceu após discussão por telemóvel.

15 de setembro de 2023 às 08:12
Relação das irmãs era pautada por discussões. Lara (à dir.) com a irmã que a matou Foto: DR
O carrinho de mão usado para levar o corpo
Lara tinha 19 anos Foto: David Cabral Santos
Jorge Pereira, o pai Foto: Miguel Baptista/cmtv
O buraco onde Lara foi enterrada Foto: David Cabral Santos
Avelino Lima, diretor da PJ de Leiria
Marina Silva falou ao CM
A pequena divisão partilhada pelas duas irmãs Foto: David Cabral Santos
Escola está preocupada com os colegas da assassina Foto: Miguel Baptista/cmtv

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O pai, com quem partilhavam o pequeno anexo a poucos metros do mar em Peniche, terá passado a noite nos cafés da terra. Apesar dos problemas de saúde e do alcoolismo, Jorge Pereira estranhou não ver filha mais velha, mas aceitou a explicação da mais nova.

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“Foi para Lisboa ter com um namorado.” E só quatro dias depois foi à GNR participar o desaparecimento de Lara. A Polícia Judiciária investigou o caso e quarta-feira à noite resolveu o mistério. Lara foi morta pela irmã por causa de um telemóvel e enterrada num terreno baldio nas traseiras de casa.

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Precisou de três dias para escavar o buraco onde coubesse o cadáver e de um carrinho de mão para o transportar desde casa até à sepultura improvisada. Conseguiu fazê-lo sem que o pai ou qualquer vizinho se apercebessem.

Jorge Pereira, o pai, era na quinta-feira um homem perdido. Sofreu já três AVC, o último há duas semanas. Chorava ao olhar para o buraco na areia onde a filha foi enterrada. “Andavam sempre à zaragata, mas não sei porque é que ela fez isto”, explica com dificuldade. Não tem uma noção da gravidade do que aconteceu às filhas – uma morreu, a outra será julgada como adulta. E diz nada saber sobre o telemóvel da discórdia.

"Vivia num mundo de monstros"

“Vivia num mundo de monstros, num mundo negro em que nunca conseguimos entrar. Era uma menina triste, profundamente tímida que nunca olhava ninguém nos olhos. Era uma bomba-relógio e ia começar a ser acompanhada pela psicóloga este ano letivo. Mas nunca imaginámos. Nada nos levaria a pensar que poderia acontecer uma tragédia destas dimensões”, diz a professora ao Correio da Manhã, sem esconder a emoção.

Sobre o motivo que a levou a matar a irmã – o roubo do telemóvel –, a professora garante que para a assassina aquele era o objeto mais importante. “Era a sua única ligação ao Mundo. Não havia nada de mais importante, era a Internet e a música que a tornavam pessoa.”

Esta sexta-feira, no recomeço do ano letivo, a psicóloga da escola vai falar com os colegas da jovem homicida. A ideia será acompanhá-los para que também eles possam digerir o que se passou. “Estamos desfeitos. Sentimos que falhámos, mas nunca imaginámos este desfecho. Nunca pensámos que o mundo dela fosse tão negro.”

"Vivia num mundo de monstros"

CRIME SEM MAIS SUSPEITOS

Segundo o diretor da Polícia Judiciária de Leiria, embora a investigação ainda não esteja fechada, “todos os indícios recolhidos apontam para que não existam outras pessoas envolvidas na morte da jovem”. Avelino Lima adiantou ainda que “a presença do pai não foi impeditiva de o corpo continuar no domicílio”.

Registo de violência

A jovem homicida estava sinalizada pelas autoridades por ser vítima de violência às mãos do pai, que em maio a agrediu em frente à escola.

400 EUROS

Jorge Pereira recebe cerca de 400 euros de pensão por invalidez, depois de anos a trabalhar como servente de pedreiro. Pouco para sustentar a casa, o vício e as duas filhas. Sobreviviam com ajudas de instituições e alguns vizinhos.

Álcool em quarto sem condições

Roupa espalhada por todo o lado, muita sujidade, colchões sem lençóis, cremes que qualquer jovem rapariga usaria e várias garrafas de álcool e bebidas energéticas, uma cadela com cachorros recém-nascidos a amamentar, um cheiro nauseabundo, nenhuma janela. Era neste cenário desolador que as duas irmãs eram obrigadas a viver juntas. No pequeno anexo que partilhavam com o pai nota-se a ausência de livros e materiais escolares, habituais em casas onde vivem jovens de 16 e 19 anos, ou de qualquer conforto básico. Foi neste espaço que Lara foi morta pela irmã, que dormiu com o corpo sob a cama do lado durante 3 dias.

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