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Artigo exclusivo

Prima acusa Salgado de arruinar a família e clientes do BES

Um dia após a queda do BES, por SMS, Ana Espírito Santo acusou Salgado de ter arruinado a família Espírito Santo e “tanta outra gente”.

27 de setembro de 2020 às 01:30

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Ricardo Salgado
Ricardo Salgado Lusa
Ana Espírito Santo
Ana Espírito Santo Direitos Reservados
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As mensagens trocadas entre Salgado e a prima integram o lote de escutas telefónicas feitas ao banqueiro no caso Monte Branco, no qual o banqueiro é arguido, que foram incluídas no inquérito do Grupo Espírito Santo (GES). As escutas, a que o CM teve acesso, fazem parte dos autos do caso GES e revelam a aflição do banqueiro para tentar salvar o GES do colapso.

Ana Espírito Santo (já falecida) enviou o SMS a Salgado no dia 4 de agosto de 2014, eram 11h08. E não foi nada meiga: “Não sentes vergonha de ter dado cabo do nome que os ‘nossos’ com tanto trabalho, valores corretos e acima de tudo honestidade fizeram o banco e o nome Espírito Santo ? N[ão] deves ter porque nem deves saber o q [ue] são ‘valores’.” E acrescentou a irmã de José Manuel Espírito Santo: “Mentiste, roubaste, foste um péssimo gestor, apenas pensaste em ti com um ego e uma prepotência desmedida!”

Na resposta a esta mensagem da prima, Salgado manifestou o seu descontentamento com o teor do SMS: “Talvez ainda não tenha compreendido mas do que ontem fui acusado foi de alegadamente ter ajudado o Grupo contra as instruções do Banco de Portugal. Tenho estado em silêncio e não me tenho defendido para preservar a família. Depois do seu SMS chega. Quero avisá-la de que não deixarei de agir e explicar as razões pelas quais nos encontramos na situação em que estamos.”

As escutas telefónicas revelam também o estado de espírito do banqueiro e da mulher. Em conversa com Henrique Granadeiro, ex-presidente da PT, a 7 de agosto de 2014, Salgado “lamenta que está a ser o bombo da festa”. E a mulher do banqueiro, Maria João, teve este desabafo com o ex-presidente da PT: “Estamos feitos.”

Salgado cessou funções como administrador do BES a 13 de julho de 2014. No final desse mês, segundo as escutas, Joaquim Goes, ex-administrador do BES, informou-o de que as “operações com as obrigações BES e com a mais-valia que fica fora do Banco”, no que parece ser o esquema de financiamento do GES através do Eurofin, tinham “um impacto negativo nas contas do BES de 1.2 bi [1,2 mil milhões de euros].”

PERFIL

Ana Espírito Santo é mãe das atrizes Ana Brito e Cunha e Patrícia Brito e Cunha. Faleceu em março de 2018, com 75 anos de idade. Era irmã de José Manuel Espírito Santo, ex-administrador do BES e de várias empresas do GES. Nos últimos meses de vida, dedicou-se à Cush Cush Comporta Spirit, uma marca de decoração de interiores.

Granadeiro diz que Bava tratou com banqueiro investimento da PT no GES

Henrique Granadeiro, ex-presidente da PT, desvendou em conversa com Salgado, a 12 de agosto de 2014, uma parte do mistério sobre o investimento ruinoso de 900 milhões de euros que a PT fez na Rioforte, empresa do GES, em 2014. Nessa conversa, escutada no caso Monte Branco, Ganadeiro, em resposta a um comentário de Salgado sobre o investimento da PT, afirma: "Essa renovação [última] foi tratada diretamente entre ele (Ricardo) e Zeinal Bava, juntamente com o Pacheco de Melo [ex-administrador da PT] e o Amílcar [Morais Pires, ex-administrador do BES]."

Pensões atingem 22 500 euros/mês

A ESI BVI terá pagado a membros da família Espírito Santo pensões de viuvez de mais de 22 500 euros por mês. Entre os beneficiários está Maria do Carmo Moniz Galvão Espírito Santo (já falecida).

Castella recebeu 1,1 milhões €

José Castella, ex-controlador financeiro do GES (já falecido), saiu do GES em setembro de 2014. Segundo os autos do caso GES, recebeu uma indemnização de cerca de 1,1 milhões de euros por parte do GES.

Honorários custam milhões

A offshore ESI BVI enviou mais de 50 milhões de euros, de 2008 a 2014, para contas abertas em nome de pessoas e outras entidades, a título de honorários. Em 2008, estava falida.

PORMENORES

Saco azul suspeito

O GES tinha, segundo a acusação do Ministério Público, cinco sociedades offshore que terão sido utilizadas como um saco azul do GES para pagar salários, pensões e despesas suspeitas aos membros do Conselho Superior do GES, órgão máximo do GES, e a funcionários.

Offshore misteriosas

As cinco offshore que terão funcionado como um saco azul do GES serão, segundo a acusação do caso GES, estas: Espírito Santo Enterprise, ESI BVI, Alpha Management, Clauster e Balenbrook.

3,2 mil milhões de euros

A conta da Espírito Santo Enterprises no Banque Priveé Espírito Santo (do GES), na Suíça, movimentou, entre outubro de 2006 e 25 de agosto de 2014, um total de 3,2 mil milhões de euros.

Origem do colapso

A Espírito Santo International (ESI) era uma das sociedades mais importantes do GES. Foi a dívida oculta da ESI, no valor de 1,3 mil milhões de euros, que esteve na origem do colapso financeiro do GES, em 2014.

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