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Presidente da junta do Bonfim condena "atos de justiça popular" contra migrantes no Porto

João Aguiar disse esperar que as investigações policiais sejam céleres.

05 de maio de 2024 às 17:00

O presidente da Junta de Freguesia do Bonfim, onde na madrugada de sexta-feira ocorreram os ataques contra migrantes no Porto, condenou, este domingo, os "atos de justiça popular" e disse esperar que as investigações policiais sejam céleres.

"Condeno este tipo de justiça popular acima de tudo. Não faz sentido nenhum", afirmou o presidente da junta, João Aguiar.

Em declarações à Lusa, João Aguiar, esclareceu que os desacatos e assaltos no Bonfim começaram no final do ano passado, mas que desde o início deste ano se agudizaram.

O autarca, que em março se reuniu com os comerciantes e moradores devido "a vaga" de assaltos nos estabelecimentos comerciais e na via pública, afirmou que a PSP se mobilizou e respondeu prontamente aos pedidos da junta, reforçando a sua ação em determinadas zonas, como no Campo 24 de Agosto.

"Depois dessa reunião fiquei mais alerta. Falei com a polícia e o comandante prontificou-se a destacar efetivos para o terreno. A partir daí as coisas começaram a acalmar um pouco", referiu, acrescentando, no entanto, que os comerciantes relatam que quando a polícia se ausenta os desacatos permanecem.

Saudando a polícia pelo "trabalho célere", João Aguiar defendeu, no entanto, a necessidade de o efetivo ser reforçado.

"Neste momento, como as coisas estão a escalar é preciso reforçar", considerou, dizendo também esperar que as investigações policiais às agressões "sejam céleres".

"Vamos aguardar pelo desfecho das investigações", salientou, dizendo "não querer alimentar o racismo e o ódio".

"Somos a freguesia mais multicultural que existe na cidade do Porto", dando como exemplo a Rua Fernandes Tomás, onde coexistem há vários anos "uma loja turca, cabeleireiro africano, supermercado coreano e um restaurante brasileiro".

"Todos eles a queixarem-se da segurança por parte de determinado grupo", acrescentou.

Na madrugada de sexta-feira, ocorreram três ataques e agressões a imigrantes na zona do Campo 24 de Agosto, na Rua do Bonfim e na Rua Fernandes Tomás. Segundo a PSP, os ataques foram feitos por vários grupos, tendo cinco imigrantes sido encaminhados para os hospital devido aos ferimentos.

Até ao momento, as vítimas dos ataques não contactaram a junta de freguesia, afirmou João Aguiar, acrescentando que tenciona, na segunda-feira, destacar duas assistentes sociais para visitar os migrantes e acompanhar a situação.

Na sequência das agressões, seis homens foram identificados e um foi detido pela posse ilegal de arma.

Face à suspeita de existência de crime de ódio, o caso passou a ser investigado pela Polícia Judiciaria.

Contactada pela Lusa, a Câmara do Porto afirmou que não detém competências em matéria de segurança pública e que esta é "uma responsabilidade do Ministério da Administração Interna e das autoridades policiais sob sua tutela".

"Ainda assim, fruto da forte visibilidade da Polícia Municipal [PM] na cidade do Porto e dentro do princípio de complementaridade e articulação de esforços com a PSP, a PM executa policiamentos de visibilidade nas zonas mais críticas da cidade, onde existe forte afluência e permanência de pessoas no espaço público, bem como nos cenários onde existe recorrência de fenómenos criminais", referiu, acrescentando que nestes casos "os contornos são outros", competindo também à Polícia Judiciária.

À Lusa, João Aguiar adiantou estar prevista uma reunião entre a junta, comerciantes, moradores e o Comando Metropolitano da PSP do Porto para a segunda quinzena deste mês.

A Câmara do Porto adiantou este domingo, em comunicado, que o presidente, Rui Moreira, irá pronunciar-se sobre os ataques no início da reunião do executivo de segunda-feira, agendada para as 9h30.

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