page view

Motorista de camião abalroado por comboio no Fundão só ouviu campainhas quando já estava a meio da passagem de nível

Relatório revela que comboio seguia a 93 km/h e com 118 passageiros. Só há em Portugal um investigador de acidentes ferroviários e o relatório final do incidente ocorrido no dia 18 deve atrasar.

26 de junho de 2025 às 19:27

O motorista do camião que foi abalroado por um comboio Intercidades com 118 passageiros a bordo, no dia 18, em Alpedrinha (Linha da Beira Baixa), Fundão, - incidente que causou quatro feridos ligeiros e um incêndio – passava naquela passagem de nível pela primeira vez em 13 anos de profissão e relatou ao único investigador de acidentes ferroviários em Portugal que começou a ouvir as campainhas da aproximação do comboio quando já estava a meio da passagem. As revelações estão na nota informativa, divulgada esta quinta-feira, do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes Ferroviários (GPIAAF).

De acordo com o mesmo testemunho, o camião frigorífico carregou fruta num produtor próximo e, pelas 19h55, seguia na EM1079 em direção a Alpedrinha, tendo de passar a passagem de nível (PN). Segundo o motorista, “ao entrar na PN abrandou bastante o veículo, quase parando, atendendo à configuração da estrada e declives inversos do pavimento, para conseguir atravessar em segurança para o veículo e carga. Poucos instantes depois, começou a ouvir as campainhas anunciando a aproximação de um comboio; prosseguindo a sua marcha para sair da PN foi, poucos instantes depois, surpreendido pelo fecho da barreira de saída à sua frente, obstruindo parcialmente a estrada, tendo se imobilizado antes desta. Após alguns momentos de reflexão sobre o que fazer, decidiu avançar tentando contornar a barreira pelo espaço existente do lado direito, instante quando o comboio colidiu no reboque do camião”.

O GPIAAF revela ainda que o comboio circulava a 93 km/h e que, devido ao traçado, o maquinista apenas viu o camião na linha a cerca de 175 metros, “momento em que de imediato acionou o freio de emergência após o que se refugiou no corredor da locomotiva para se proteger”. A frenagem de emergência permitiu reduzir um pouco a velocidade do comboio antes da colisão, a qual ocorreu a cerca de 75 km/h.

“De acordo com os registos do sistema da passagem de nível, entre o momento em que os sistemas automáticos de aviso da passagem de nível entraram em anúncio e o momento da colisão decorreram 30 segundos, tendo ambas as barreiras da PN comprovado na posição horizontal 11 segundos após a ativação do anúncio”, revela o GPIAAF.

Após o acidente, o camionista desligou o motor, ainda em aceleração, “e, após algumas tentativas para forçar a porta da cabina que estava presa por estar deformada, conseguiu sair do veículo com ferimentos ligeiros e afastar-se deste, após o que ajudou alguns passageiros que, entretanto, já estavam a sair do comboio pelas portas que não ficaram afetadas pelo acidente”.

“Após a paragem do comboio, a sua tripulação rapidamente promoveu a evacuação dos passageiros, tendo em conta o incêndio que se desenvolvia junto a este. Os passageiros que tentaram desde logo sair do comboio tiveram dificuldade em desbloquear as portas”, conta a nota informativa.

O GPIAAF destaca a colaboração de todas as entidades envolvidas e vai abrir um processo formal de investigação.

“Atendendo à elevada escassez de meios humanos na área ferroviária do GPIAAF (um único investigador, de três planeados) e ao elevado número de investigações pendentes de conclusão, não se antevê que seja possível publicar o relatório final no prazo de doze meses previsto na legislação”, lamenta o organismo.

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

o que achou desta notícia?

concordam consigo

Logo CM

Newsletter - Exclusivos

As suas notícias acompanhadas ao detalhe.

Mais Lidas

Ouça a Correio da Manhã Rádio nas frequências - Lisboa 90.4 // Porto 94.8