Quando uma das suas inspectoras lhe pediu de volta 1500 euros apreendidos no Aeroporto da Portela, para ir depositar o dinheiro da droga ao banco, a coordenadora da PJ disse ter-se esquecido da chave do cofre. A polícia insistiu dias depois, em Setembro de 2006, e Ana Paula contou que perdera a chave.
Dois meses mais tarde repôs o dinheiro, justificando que lá encontrara a dita chave no tambor da sua máquina de lavar, mas a explicação pode ler-se numa acusação do Ministério Público a que o CM teve acesso: devolveu 1500 euros através dos 7450 que desviou de outra operação. Ao todo, Ana Paula Matos deve ao Estado 94 825 euros.
O escândalo só rebenta em 26 de Maio do ano passado, quando um dos vários inspectores às ordens de Ana Paula elabora o relatório final da investigação. Falta a guia do depósito no valor de 7450 euros, além do respectivo dinheiro que não entrou no banco. Foi dado conhecimento ao director do departamento de combate ao tráfico da PJ, José Brás, e os vários processos anteriores foram passados a pente-fino.
Conclusão: desapareceram 890 euros da operação em 12 de Agosto de 2006, depois de aquele dinheiro ter sido apreendido numa caravana em Lisboa. Sumiram também 7450 euros que a PJ apanhou a traficantes em 18 de Outubro, juntamente com milhares de nairas nigerianas; e, já em 24 de Novembro desse ano, um total de 86 485 euros de uma operação com cinco buscas.
A investigação interna foi entregue ao departamento de combate à criminalidade financeira, que justifica os quatro crimes de peculato da coordenadora Ana Paula Matos, 52 anos e 32 dos quais de carreira, essencialmente com as dívidas às Finanças. Tinha 80 por cento de uma sociedade em risco de penhora, em Lisboa, e, através do total de 94 825 euros do tráfico de droga que desviou, diz o Ministério Público que pagou 15 mil euros que a sociedade devia ao Fisco. Tudo em 8 de Fevereiro de 2008. Pagou ainda dívidas à ourivesaria e electrodomésticos.
RECORDISTA DE DETENÇÕES NA PJ
Ana Paula Matos, 52 anos, tem 32 de história na PJ. Considerada uma polícia da "velha escola", fez carreira a pulso e chegou a coordenadora de investigação criminal em 2005. Antes de chegar à liderança da 2ª Secção da Direcção Central de Combate ao Tráfico de Estupefacientes, em 2006, era conhecida pelos sucessivos recordes de detenções no combate a roubos violentos. Elogiada pela "enorme capacidade de trabalho" mas acusada de não olhar a meios "para fazer presos", foi na 3ª Brigada da 6ª Secção da Directoria de Lisboa da PJ que se viu a braços com um processo disciplinar: em 2005, foi acusada de ter conhecimento prévio de carjackings – com o objectivo de os assaltantes, seus informadores, lhe entregarem cúmplices. Investigou ainda assaltos de miúdos a homossexuais no Parque Eduardo VII.
DIRECTOR ERA LÍDER DE APREENSÕES
A suspeição que em Maio do ano passado se abateu sobre 21 inspectores da secção liderada por Ana Paula, até à detenção desta pela própria PJ, fez com que o director nacional adjunto, José Brás, se demitisse um mês depois da liderança do combate ao tráfico. Apesar dos excelentes resultados da sua direcção em apreensões de droga, José Brás, numa entrevista ao CM, justificou a saída contra os "políticos da retórica. Hábeis na insinuação e intriga de corredores. Querem pôr em causa todo o combate " por uma situação isolada. Ficou em gestão corrente até à posse do procurador Manuel Gonçalves no cargo, em Outubro, mas os fracos resultados levaram à sua saída da PJ.
GUARDAVA MILHARES NO COFRE
Até à chegada de Ana Paula, em 2006, as regras do Departamento de Combate ao Tráfico impunham que cada inspector ficasse responsável pelo dinheiro que apreendesse. A coordenadora alterou os procedimentos e o controlo e depósito do dinheiro passaram a ser da sua responsabilidade: guardava milhares de euros e respectivas guias no cofre do gabinete. Quando as apreensões da PJ eram feitas aos fins-de-semana, com o Núcleo Central de Expediente e Arquivo fechado, Ana Paula só entregava dias mais tarde o dinheiro a inspectores para o depositarem. Mas nunca aos responsáveis da respectiva investigação, que sabiam quanto fora apreendido. Diz o Ministério Público que, "pressionada pelos credores", o esquema "assentou na intenção de subtrair as quantias de que se apoderou".
PORMENORES
PRESA TRÊS MESES
Ana Paula Matos foi detida pelos colegas do combate ao crime financeiro em 26 de Julho de 2007 e, nesse mesmo dia, entrou em prisão preventiva na cadeia de Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos. Acabou libertada em Outubro, pelo Tribunal da Relação, mas não se livrou agora da acusação por quatro crimes de peculato. Arrisca, por cada um, oito anos de cadeia.
DINHEIRO NA CGD
O Núcleo Central de Expediente e Arquivo (NCEA) tem por missão no Departamento de Combate ao Tráfico depositar numa conta do Estado, na Caixa Geral de Depósitos, todo o dinheiro apreendido aos traficantes. O dinheiro e respectiva guia é suposto serem entregues no NCEA pelo inspector responsável pela operação, mas, no tempo de Ana Paula, esta alterou todos os procedimentos.
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