PSP quer apresentar queixa contra o Público devido a um cartoon que inclui uma figura vestida de uniforme.
O diretor do Inimigo Público, Luís Pedro Nunes, manifestou-se esta sexta-feira, em declarações à Lusa, "perplexo" com a intenção da PSP em apresentar queixa contra o Público devido a um cartoon que inclui uma figura vestida de uniforme.
A PSP anunciou esta sexta-feira que vai apresentar queixa contra o jornal Público pela publicação, no suplemento satírico Inimigo Público, de um cartoon com uma figura vestida de uniforme, "aparentemente relacionado com uma ação com conotação política" junto à sede da SOS Racismo.
"Não deixo de ficar perplexo", começou por dizer Luís Pedro Nunes à Lusa.
"Estou espantado, numa semana que foi das mais complexas dos últimos tempos a nível a questões ligadas ao racismo, às ameaças a deputados, a declarações dos vários setores da sociedade portuguesa, a direção nacional da PSP arranjou tempo para, aparentemente, processar um cartoon do Inimigo Público à sexta-feira", apontou.
"Sou diretor do Inimigo Público desde 2004, fazemos isto semanalmente, milhares de cartoons, nunca fomos processados", salientou Luís Pedro Nunes.
"Acho um pouco estranho, tanto mais que isto começou de manhã com exigência do Movimento Zero para que a direção nacional fizesse alguma coisa", acrescentou.
"Quando uma sociedade que está com problemas mediatizados a nível de questões sociais vai atrás de cartoons ou se vira contra os cartoons, nós já sabemos que isso é um sintoma de algo está verdadeiramente mal", prosseguiu.
"Os cartoonistas, ultimamente, têm sido as primeiras vítimas de que qualquer coisa está errada na sociedade", considerou.
Além disso, no que respeita ao cartoon esta sexta-feira publicado, "nem sequer se pode dizer que [aquele] é aquilo que está a ser acusado", sublinhou Luís Pedro Nunes.
"Estamos a falar de um jornal satírico", enfatizou o diretor do Inimigo Público.
Luís Pedro Nunes, que lamentou ter de explicar um cartoon em 2020, disse à Lusa que, perante a imagem da semana da manifestação frente à organização do SOS Raciscmo, decidiu extrapolá-la, em conjunto com o cartoonista Nuno Saraiva, para a sociedade portuguesa.
O cartoon extrapola as "manifestações de racismo que se escondem atrás da máscara do André Ventura, foi este o conceito", no qual se inclui desde o adepto de futebol até à polícia, porque "aqui e ali há sinais de que há polícias que têm este tipo de manifestações".
Contactado pela Lusa, também o ilustrador Nuno Saraiva considerou, em reação ao anúncio da queixa pela PSP, criminoso atentar contra a liberdade de expressão e mostrou-se "preocupado" com o rumo do país.
"Criminoso é acharem que isto é um crime, que um criativo, um jornalista, um 'opinion maker', um cartoonista não pode ter direito à sua liberdade de expressão", afirmou Nuno Saraiva, em declarações à Lusa.
Realçando que nem sequer é adepto dos cartoons "mais escatológicos e altamente ofensivos", do género dos do jornal satírico francês Charlie Hebdo, o ilustrador português considera que este é até "um cartoon bastante pacífico".
Por isso mesmo, julga "absolutamente exagerado e sem sentido para uma queixa-crime".
Quanto a esta possibilidade, Nuno Saraiva deixa claro que não está minimamente preocupado consigo, mas sim com "o caminho que o país está a trilhar".
"Parece que estamos a dar uma reviravolta para mais de 40 anos atrás, isso é que me preocupa. E o silêncio institucional preocupa-me também", afirmou, considerando que nos últimos tempos sente que "está tudo muito pesado e esquisito", uma situação que, confessa, o "assusta".
No entanto, Nuno Saraiva deixa claro que não vai explicar o seu cartoon: "Um cartoon vale por si. Os desenhos ilustrados têm a faculdade de ter várias interpretações".
Em comunicado, a Polícia de Segurança Pública considera que os factos "ofendem a credibilidade, o prestígio e a confiança devidos à instituição, consubstanciando a prática de crime" e que vai ainda hoje apresentar queixa ao Ministério Público.
Segundo a PSP, o cartoon de Nuno Saraiva está aparentemente relacionado com uma ação com conotação política, ocorrida no sábado, em frente à sede da organização SOS Racismo, em Lisboa e associa "de forma explícita" a polícia "a um qualquer movimento político-ideológico".
Essa conotação, adianta a nota, afeta "publicamente a isenção e apartidarismo que caracterizam a instituição, resultantes não só de obrigação estatutária e da condição policial, mas também da convicção dos polícias".
A PSP "lamenta a leviandade com que o jornal e o cartoon em questão feriram a boa imagem da instituição e dos polícias que nela servem e protegem os nossos concidadãos" e lembra que a Estratégia 2020/2022 contempla a "isenção e rejeição de qualquer forma de extremismo e discriminação" como um valor e um pilar ético fundamental.
Nos últimos dias, três deputadas e sete ativistas foram alvo de ameaças por uma autoproclamada "Nova Ordem de Avis -- Resistência Nacional", que reivindicou também uma ação junto à associação SOS Racismo, levando o Governo a condenar estas ações como "uma ameaça à própria democracia" que deve indignar "todos os democratas".
Na quinta-feira, o Ministério Público instaurou um inquérito-crime ao assunto, um dia depois de o dirigente da SOS Racismo Mamadou Ba ter prestado declarações na Polícia Judiciária e ter confirmado a receção, juntamente com mais nove pessoas, de uma mensagem de correio eletrónico a estipular o prazo de 48 horas para abandonar o país.
O Presidente da República recomendou aos democratas "tolerância zero" e "sensatez" para combater o racismo, ao comentar as ameaças.
Vários partidos, bem como o presidente da Assembleia da República, repudiaram as ameaças feitas aos ativistas e à associação.
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