Em dois dias, o fogo terá queimado cerca de 5.000 hectares de mato, floresta e campos agrícolas, mais do que a área ardida em 2022.
O incêndio que atravessou a fronteira e entrou no concelho de Chaves deixou um "rasto de destruição" na Freguesia de Ervededo, onde queimou pastos, pomares, vinhas, soutos, olivais e floresta.
"Foi uma destruição, está tudo preto. Foi terrível. Um incêndio que lavrava na Espanha durante 15 dias e, num ápice, nem a uma hora chegou, começou a freguesia toda a arder", afirmou esta quinta-feira à agência Lusa André Silveira, presidente da Junta de Ervededo.
A freguesia integra as aldeias de Agrela, Torre e Couto e foram as três atingidas pelo fogo vindo da Galiza e que, na terça-feira, entrou no concelho de Chaves pela aldeia fronteiriça de Cambedo da Raia. No dia anterior já tinha atravessado a fronteira para Vilar de Perdizes (Montalegre).
Depois de uma forte reativação na quarta-feira, que levou as chamas para o parque empresarial e a zona industrial de Chaves, mesmo às portas da cidade, o incêndio entrou em fase de resolução pelas 02h00 de hoje e às 11h20 estava em conclusão.
Em dois dias, o fogo terá queimado cerca de 5.000 hectares de mato, floresta e campos agrícolas, mais do que a área ardida em 2022, num outro incêndio que percorreu as mesmas aldeias deste concelho do norte do distrito de Vila Real.
André Silveira apontou prejuízos nas forragens, palha e feno para alimentação do gado, o que estava no campo e o que estava guardado nos palheiros, ainda na agricultura (pomares, vinha, souto, olivais), tendo ainda ardido pinhal e três casas devolutas.
Através da Câmara e da Proteção Civil, explicou, vai ser dada ajuda para a alimentação dos animais, no entanto, realçou que está ainda a ser feito o levantamento dos prejuízos.
Ainda é com a voz embargada que Fernando Dias fala com a Lusa. Vive em Agrela e tem um rebanho com cerca de 120 ovelhas.
"Perdi tudo. Perdi os pastos no monte, palha e feno, só salvei o armazém", afirmou, contando que andou sozinho, com o trator e água, a salvar o armazém e que guarda uma mágoa muito grande, porque os bombeiros nem lhe "foram fazer o rescaldo" à volta de casa, apesar da sua insistência.
As ovelhas têm ficado dentro do armazém, porque não tem para onde as levar. Do concelho vizinho de Montalegre chegou uma proposta solidária para levar o rebanho para lá. "Ofereceram pasto e armazém, mas é muito longe daqui. Agora, tenho que as botar fora, não sei é para onde", referiu.
À sua mulher ardeu um armazém, mas Fernando Dias perdeu também reboques, alfaias dos tratores e até vinha.
Foi afetado pelo incêndio de julho de 2022, mas garantiu que, agora, "foi muito mais". "Desta vez fiquei sem nada", afirmou.
Leonel Serra vive à entrada da aldeia do Couto. Há duas noites que tem à sua porta bombeiros em vigilância para, em caso de reacendimento, evitar a progressão do fogo para uma área mais complicada e, depois, "nunca mais têm mão nele".
"Já fui controlar e tenho três vinhas ardidas, dois lameiros de feno que estava cortado também arderam, ardeu-me um pinhal, eucaliptos e a minha casa não foi porque tive a ajuda dos vizinhos e dos bombeiros", contou.
Leonel Serra disse também ter perdido alimento para o seu rebanho de ovelhas, uma vaca e um cavalo e que tem andado sobressaltado com os animais por causa do fogo.
"Ando aflito e não protegem quem trabalha, mas estão a pagar aos malandros para estarem a romper as cadeiras de volta dos cafés. É uma tristeza", desabafou.
A freguesia de Ervededo tem cerca de 600 residentes habituais.
"Nesta altura duplicou porque temos cá os nossos emigrantes e foi graças à população, à espontaneidade da população, que conseguimos apagar o incêndio. E aqui na minha casa, se não fossem os meus netos, obviamente também teria um prejuízo maior", salientou o presidente da junta, André Silveira, que perdeu também vinhas.
Pelas aldeias houve muitos populares que se juntaram para ajudar a travar as chamas até à chegada dos operacionais.
Por causa do gasto de água no combate, as aldeias de Couto e Agrela sofreram quebras no abastecimento, uma situação que já está reposta.
A reativação de quarta-feira empurrou as chamas para a zona industrial da Cocanha, onde tocou nos edifícios e destruiu por completo um armazém para venda de lenha.
O incêndio passou ainda pelas aldeias de Vilela Seca, Bustelo, Outeiro Seco, atravessou a Autoestrada 24 e ainda o rio Tâmega para Vila Verde da Raia, já, de novo, na fronteira com Espanha.
Espalhados pelo terreno permanecem esta quinta-feira, segundo a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), 371 operacionais, 119 bombeiros e um meio aéreo.
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