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Onze polícias eram pagos para controlar migrantes escravizados

Dez elementos da GNR e um da PSP entre os 17 detidos pela PJ em megaoperação contra rede que explorava pessoas para trabalhos agrícolas.

26 de novembro de 2025 às 01:30

São dez elementos da GNR e um agente da PSP presos pela Polícia Judiciária. Todos fechavam os olhos ao tráfico de pessoas – um esquema de imigração ilegal instalado em várias localidades de Beja e que abastecia de mão de obra explorações agrícolas. Há suspeitas de que estes militares atuavam armados, faziam uma espécie de guarda carcerária aos migrantes.

As vítimas eram obrigados a trabalhar de sol a sol e muitas vezes espancadas. Não comiam nem podiam beber nada. Nem sequer lhes era permitido parar de trabalhar e ter acesso a descansos regulares. Dormiam em casebres, lojas ou casas em ruínas. Mas tinham de pagar pelo colchão cedido pela rede: não tinham sequer documentos e eram tratados como escravos - piores que muitos animais.

Os onze polícias foram detidos ontem pela Unidade Nacional de Contraterrorismo da Polícia Judiciária, numa operação que levou mais de 300 inspetores para Beja e arredores às primeiras horas da manhã. Em Cabeça Gorda, por exemplo, a população acordou em sobressalto com “o reboliço” no café central e no antigo lar ilegal, fechado há anos, mas que servia de albergue a muitos migrante explorados. As buscas chegaram também a postos da GNR.

O objetivo era dar cumprimento a 18 mandados de detenção – 17 foram concretizados, apenas um dos suspeitos conseguiu escapar ao cerco. Trata-se de um indiano, considerado o cabecilha no esquema criminoso.

Os migrantes – que aqui são vítimas – foram levados para a Base Aérea de Beja. Aí deverão permanecer nos próximos dias, para serem ouvidos para memória futura. Mas pouco mais lhes resta do que a expulsão do nosso país - porque estão ilegais - e muitos poderão fugir e tentar a sua sorte noutro lado. Até porque não estão presos e nada os obriga a ficar, nem sequer a denunciar a rede que embora os explorasse mantém contactos nos seus países natais - onde as famílias podem ser ameaçadas.

A operação da PJ chama-se ‘Safra Justa’. A alusão é exatamente ao trabalho agrícola que deve ser justo e não baseado em quadros de exploração.

Os 17 suspeitos vão ser esta quarta-feira ouvidos no Tribunal Central de InstruçãoCriminal de Lisboa, porque o processo está na alçada do DCIAP.

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MAI: "Instituições funcionaram"

“As instituições funcionaram , a aplicação das regras de direito vai ser impecável e, se alguma coisa houve de errado, apurar-se-á. Infelizmente não há polícia nenhuma no mundo que esteja livre de acontecerem estas coisas”, afirmou ontem a ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, quando questionada sobre o caso

PSP espera indiciação

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